LITERATURA INFANTOJUVENIL


LIVRO DE AUTOAJUDA PARA CRIANÇAS: LER OU NÃO LER, EIS A QUESTÃO!

Com colaboração da psicóloga Meire Barra Rosa Reis

A publicação de livros de autoajuda para adultos nas últimas décadas tem crescido exponencialmente. Cresce também, de maneira acelerada, o número de exemplares vendidos.

Os profissionais do livro têm registrado estas mudanças, ora com naturalidade e ora com desconfiança. Da minha parte, que sou bibliotecária e colecionadora de livros infantis desde a década de 1980, sinto preocupação.

Confesso que apesar de nas minhas aulas e em palestras ter um discurso em defesa da liberdade total e irrestrita a todos os gêneros de leitura; me sinto um pouco incomodada quando se trata do público infantil.

Primeiro por acreditar que as crianças são mais inteligentes do que pode imaginar a nossa vã filosofia! Por outro lado, elas estão em um momento mais fragilizado, pois são os adultos (pais, editores, livreiros) que decidem o que será comprado para elas.

Assim, para não ter uma postura preconceituosa e irreflexiva, busquei respostas em pesquisas brasileiras. Elas me chegaram por meio de um livro (odeio chamar livro de livrinho), mas este é pequeno no tamanho e não no conteúdo. Trata-se do livro Linguagens infantis: outras formas de leitura, organizado por Ana Lúcia Goulart de Faria e Suely Amaral Mello. A Ana eu não conhecia, mas a Suely, li seus textos de uma temática que me interessa muito – teorias de Vygotsky.

Interessante que quando comprei o livro, o folheei meio intuitivamente e cheguei no debate (os capítulos do livro são chamados de debate, pois eles são frutos do Seminário de Linguagens na Educação Infantil, realizado no 14º.Congresso de Leitura (COLE) em 2003).

Quando me encontrei com o capítulo Lá vem a história, já senti que tinha algo a ver comigo. A autora chama-se Melissa Cristina Asbahr e trata dos livros de autoajuda com uma subseção Os livros de autoajuda para crianças.

Neste capítulo Asbahr (2009, p.38) afirma: “[...] as mensagens veiculadas por esses livros consistem na crença de que o fundamental é acreditar em si mesmo, porque, segundo os autores dessas obras, os problemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano, embora tenham uma raiz social, guardam um motivo pessoal que nada tem a ver com a sociedade.”

A pesquisadora afirma também que: “Depois do ano 2000, passa a ser mais frequente a classificação ‘autoajuda’ para crianças em livrarias, fichas catalográficas e até em livros didáticos que trazem esses textos.”

Lendo imediatamente eu me lembrei de um livro infantil que comprei no final de 2016 e que abordava o morrer em uma toada de apaziguamento das emoções, peguei na estante e, na ficha catalográfica, lá estava entre as determinações de assuntos - Psicologia.

Peço desculpas se não tenho resposta pronta e se não sei dizer se gosto ou não gosto dessa abordagem. O que sei é que concordo com Asbahr (2009, p.39) quando afirma:

Os textos de autoajuda caracterizam-se também por um discurso universal, considerado “simples” para a compreensão de seus leitores. De maneira geral, buscam transformar teorias complexas em textos escritos com linguagem simples e acessível, tentam “traduzir” questões complexas a soluções delineadas por textos sintéticos e escritos com clareza, sem que haja espaço para ambiguidades.

A pesquisadora cita algumas coleções publicadas no Brasil, mas eu deixo para o leitor a busca das publicações da autora ou de outros pesquisadores nessa linha de pesquisa.

No entanto, peço a colaboração da minha prima Meire Barra Rosa Reis para expor sua avaliação deste gênero de texto, então passo a palavra para ela:

Falar sobre este novo segmento literário que tem se tornado um fenômeno de mercado e de público, para mim, que sou psicóloga, é um pouco delicado! Em primeiro lugar faz-se necessário tentar me destituir de qualquer coisa que pareça preconceito. É preciso me distanciar e pensar em primeiro lugar numa definição e a que esse gênero propõe?

Bem, da mesma forma que a versão para adultos, os livros de autoajuda para crianças propõem, numa linguagem específica a idade a que se destina tratar questões como ansiedade, timidez, morte, separação de pais, controle de emoções, enfim, procuram abordam assuntos complexos de uma maneira mais simples.

Todavia pela complexidade que o tema exige, pois trata de diferentes aspectos do comportamento humano, acredito que deva ser usado com mais cautela e critério. Tem lá sua utilidade à medida que promove reflexões podendo, ou não, levar o leitor, a mudanças de hábitos e até mesmo de comportamento. Porém, a ressalva que faço diz respeito ao fato de que a criança ainda não possui repertório emocional para se ajudar sozinha.

Penso que a leitura seja sempre feita acompanhada da mediação de um adulto, sejam eles os pais ou até os professores. Já que o diálogo que se segue é muito mais importante do que o próprio conteúdo do livro em si.

Também penso que não temos como ignorar as novidades, pois cada vez mais temos mais e mais lançamentos!! Acredito no poder transformador da literatura infantil, mas de uma literatura que por meio de metáforas e de narrativas fantásticas, é capaz de dar resposta às mais diferentes indagações sobre a vida e a morte, que tanto atormentam a mente de nossas crianças e que, sozinhos, não são capazes de elaborar e apaziguar. Essa mesma literatura que por não oferecer perigo ou ameaças se torna uma excelente ferramenta para o conhecimento e o crescimento pessoal.

Sugestão de Leitura:

ASBAHR, Melissa Cristina. “Lá vem a história”. In: FARIA, Ana Lucia Goulart de; MELLO, Suely Amaral. Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas: Autores Associados, 2009. p.37-47. (Coleção polêmicas do nosso tempo, n.91).


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.