CAFÉ COM PÓS


A PESQUISA DE CAMPO

No texto de hoje quero falar sobre um privilégio muito grande que tive tanto no mestrado quanto no doutorado: a pesquisa de campo.

Os trabalhos teóricos nos possibilitam um desenvolvimento significativo frente aos estudos existentes e, muitas vezes, é possível complementar esse desenvolvimento agregando a eles uma pesquisa de campo, que pode envolver diferentes metodologias e abordagens (que vou deixar para você discutir com seu orientador caso se interesse).

No mestrado tive a oportunidade de trabalhar com professoras da rede estadual de Londrina (interior do Paraná), que participavam de um projeto de incentivo a leitura. Foi extremamente enriquecedor conhecer essas pessoas maravilhosas. Cada uma delas me deu uma lição de vida, de perseverança, e de comprometimento com a educação em nosso país. Academicamente, pude enxergar os principais pontos positivos do projeto em que estavam envolvidas, percepção essa que jamais teria apenas com uma análise teórica do material do projeto. Para a vida, foi uma injeção de ânimo conhecer pessoas comprometidas com a educação em nosso país, bem como ver que projetos como esse têm um impacto muito grande na comunidade.

No doutorado, que ainda estou cursando, já tive a oportunidade de fazer uma primeira pesquisa de campo em aldeias Xavantes, no Mato Grosso. Esse foi além de um ganho acadêmico, a realização de um sonho, já que sempre tive uma grande admiração por povos indígenas. Foi tanto material para a tese e para a vida que ainda nem tenho palavras para descrever todo o granho em tão pouco tempo.

Sei que nem todos os estudos encontram pertinência em etapas de pesquisa de campo, porém, acredito ser importante avaliar essa possibilidade já que a ciência e a sociedade precisam urgentemente de uma aproximação e, durante uma pesquisa de campo, as pessoas podem entender melhor nossas pesquisas, seus objetivos e suas contribuições, bem como sobre o próprio desenvolvimento da pesquisa científica, já que é uma parcela tão pequena da população que trabalha com ciência no Brasil.

Alguns fatores importantes, caso você se interesse em fazer uma pesquisa de campo, são: 

  • É preciso verificar a necessidade de avaliação pelo comitê de ética, por isso procure os setores reponsáveis para obter informações sobre esse processo. Na minha instituição um membro do comitê foi muito atencioso comigo, me ajudando a entender os documentos necessários para poder fazê-los de forma adequada.
  • Há algumas limitações quanto a disponibilidade e aceitação das instituições e/ou pessoas envolvidas. Isso significa que pode acontecer do grupo que você deseja utilizar na sua pesquisa se negar a participar. Tudo depende muito da pesquisa, da sua relação prévia com o grupo ou instituição, e outros inúmeros fatores que não temos como controlar, por isso quando incluímos essas etapas em nossos projetos precisamos programar um tempo em nossos cronogramas para esses imprevistos e ter sempre um plano “b” (e até mesmo um plano “c”, “d”...).
  • Há necessidade de uma grande consciência do pesquisador sobre manter a ética e respeito aos envolvidos. Isso é muito importante! Muitos pesquisadores fazem pesquisa de campo e se esquecem disso, causando situações extremamente desconfortáveis para os participantes. Isso não só impactará no resultado da pesquisa, como também impactará em qualquer outra pesquisa que possa ser futuramente desenvolvida, já que a instituição, ou as pessoas, talvez não queiram mais participar de nenhuma devido a um “trauma” sofrido.

Esse terceiro ponto é crucial. Um instituito que eu convidei para participar de uma pesquisa, mesmo se interessando pelo trabalho, se negou a participar porque seus membros já tinham sofrido muito com críticas em trabalho anteriores que não souberam contextualizar suas práticas. Eles desenvolvem um trabalho incrível, diga-se de passagem, que ao ser estudado poderia ajudar outras instituições, mas que se fechou por ter tido essas experiências ruins com pesquisadores, sem contar a imagem negativa da ciência que ficou para essas pessoas.

Isso demonstra que nossa passagem por esses espaços pode ter grande impacto. Se realmente o for, que o façamos, então, o mais positivo possível, nos preparando adequadamente metodológica e psicologicamente para essa inserção.


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HELOÁ OLIVEIRA

Doutoranda em Ciência da Informação na Unesp - Marília, Mestra em Ciência da Informação pela Unesp - Marília e Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina.