CAFÉ COM PÓS


CONVIDADOS CAFÉ COM PÓS - 1 - JUAN BERNARDO MONTOYA: UM COLOMBIANO ENTRE NÓS

A proposta da coluna “Café com Pós” é trazer alguns tópicos da vida na pós-graduação para uma discussão leve, porém sem desconsiderar a complexidade e beleza da vida, como num “café”. Para ampliar as discussões, em 2018 trago alguns convidados pra tomar esse “café” com a gente.

Iniciando, vamos ter o texto do Juan Bernardo Montoya, um excelente aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Unesp de Marília, que é colombiano e nos falará um pouco sobre sua experiência como aluno estrangeiro cursando a pós-graduação no Brasil: sua trajetória até aqui, as dificuldades econômicas para se cursar um curso assim, e como veio parar nesse curso no Brasil.

Um convite a entendermos um pouco que os desafios estão em outros países também, e a necessidade de refletir sobre a importância do estudo superior público gratuito no nosso país, principalmente num momento de luta a favor da educação brasileira.

Com a “caneca”, Juan:

***

Como em muitos países do mundo, ser formado em História é uma profissão que tem algumas complexidades acadêmicas, culturais e econômicas. Me formei no ano 2010, em uma faculdade pública do meu país, chamada Universidad del Valle, localizada na cidade de Cali-Colômbia. Nos últimos anos trabalhei como estagiário no Arquivo Histórico da mesma faculdade, avaliando no começo, os expedientes laborais dos docentes e funcionários, entrando depois em um projeto documental chamado “tabelas de temporalidade”. Uma experiência que tem que ser contada com muita inspiração para não deixar com sono os seus familiares e amigos. 

A experiência de conhecer e aprender as atividades documentais, especificamente da gestão documental na faculdade, deu como resultado a rápida contratação em uma empresa privada que tinha a urgência de contratar profissionais com conhecimentos documentais para organizar os grandes acervos de empresas privadas, os quais muitas vezes eram armazenados em locais e caixas sem nenhum tipo de estruturação. Trabalhei fazendo e aplicando tabelas de temporalidade por mais de três anos. 

Sempre pensei na possibilidade de realizar uma pós-graduação fora do meu país por dois motivos principais: os altos custos cobrados nas faculdades colombianas (as quais muitas vezes ultrapassam os 5.000 reais cada quatro meses, pensando em moeda brasileira); e 2, o pouco reconhecimento acadêmico, já que muitas vezes são programas pensados para áreas de trabalho. Nesse panorama, me dediquei na busca de um mestrado em História no Equador, país em que fui aceito, porém, sem uma bolsa de manutenção o que me fez desconsiderar a oportunidade. Depois fui aceito em uma faculdade na Argentina com as mesmas condições do Equador, o que me fez continuar trabalhando no meu país para poupar um pouco de dinheiro.

No ano 2014, tive uma conversa com uma amiga e ela me fez a proposta de aprender português com um nativo da Bahia no Brasil, para que em um futuro perto, pudesse ter a possibilidade de realizar um estudo de pós-graduação. Estudamos três meses com o professor brasileiro e depois fomos para Bogotá para apresentar uma prova de proficiência no idioma. Em julho desse mesmo ano, viajamos para São Paulo com o objetivo de prestar para um mestrado nas faculdades da USP, UNICAMP e depois viajamos para a UFRJ. Não conseguimos muita informação porque as faculdades estavam em greve de estudantes, professores e funcionários, o que nos deixou na difícil tarefa de curtir umas boas férias no Brasil.

Voltando para meu trabalho na Colômbia, pensei na possibilidade de fazer um curso em gestão documental. Procurei na internet e achei o Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UNESP. Conversei com a faculdade, já que tinha um edital especial para estrangeiros e me candidatei para o mestrado em Ciência da Informação na linha dois (Produção e Organização da Informação). Foram quatro os estrangeiros inscritos, dois para doutorado e dois para mestrado. Finalmente, ficamos um para mestrado e um para doutorado. O candidato para doutorado declinou porque não conseguiu obter a bolsa econômica. Eu também fiquei sem bolsa mas, queria me arriscar com o que tinha poupado.

Hoje, penso que fazer o mestrado em Ciência da Informação na UNESP foi uma ótima escolha. O aprendizado e a experiência que a faculdade e as pessoas me ofereceram nestes três anos, tem sido uma oportunidade que poucas pessoas podem ter. Os professores de cada uma das três linhas de pesquisa, oferecem grandes possibilidades de fortalecer o campo de pesquisa. A estruturação das aulas para o mestrado e doutorado possibilitam que tanto o aluno como o professor possam ser produtivos cientificamente. E a constante conversa com cada um dos professores, fazem com que o discente fique com maior segurança durante seu curso. Uma única observação é a pouca comunicação entre cada uma das linhas, necessária para que um programa de pós-graduação possa fortalecer sua estrutura interna.

Fazendo uma análise no começo do meu segundo ano de doutorado, sinto que embora a faculdade tenha certas dificuldades atuais em alguns aspectos, o curso continua com a excelência acadêmica refletida na nota da CAPES. Poucos países na América Latina oferecem a possibilidade de estudar de forma gratuita em uma faculdade, e muitas vezes a pessoa tem que se endividar para conseguir pagar um curso. O professor Mario Barité, no Colóquio em Organização, Acesso e Apropriação da Informação e do Conhecimento-COAIC, no 2016, reconhecia o investimento por parte do Brasil, de uma política de estado por mais de 25 anos para manter um sistema de pós-graduação nas universidades públicas de forma gratuita, sem importar a ideologia dos governos. Eu concordo com a fala do professor Barité, e espero que no futuro esse modelo possa ser aplicado em outros países, principalmente pela falta de programas que façam avançar as sociedades em ciência e tecnologia.


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HELOÁ OLIVEIRA

Doutoranda em Ciência da Informação na Unesp - Marília, Mestra em Ciência da Informação pela Unesp - Marília e Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina.