LITERATURA INFANTOJUVENIL


POESIA INFANTIL NA ESCOLA

Miladi Cruciol Tobias Tsukuda

Meu amor pela poesia surgiu quando no Ensino Médio comecei a ler poemas. Nessa época a leitura de poemas levou-me a conhecer algumas obras de importantes poetas nacionais e internacionais como Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade etc. Encantava-me com a beleza dos poemas clássicos cheios de rimas/métrica e, posteriormente, com a leveza e liberdade de expressão dos poetas modernistas.

Esse amor foi tão forte que tive o desejo de escrever poemas também. Na época, incentivada pela professora, participei de um concurso paranaense de poemas na Rede Estadual do Ensino Médio, cujo tema era a velhice e ganhei o segundo lugar com o poema intitulado Existência dividida. Depois disso, escrever poemas sempre foi para mim uma forma de expressar meus sentimentos e ideias.

Atualmente como professora da biblioteca tenho a oportunidade de contar histórias e incentivar a leitura e o empréstimo de livros. Tenho visto o quanto as crianças ficam encantadas com as histórias que ouvem e que leem e o quanto ficam felizes por estarem rodeadas de livros e histórias. 

Deposito na biblioteca da escola a responsabilidade de manter os alunos sempre em contato com os livros a fim de que a leitura seja um ato de amor, e não uma obrigação, um dever a ser cumprido para a realização de algum trabalho solicitado pelo professor. Percebo também que eles são capazes de compreender a linguagem poética, de produzir poemas, mostrando que a poesia pode ser um agente transformador em suas vidas. 

Buscando definir o que é poesia infantil, me deparo com a seguinte reflexão: 

A expressão poesia infantil permite várias interpretações, pela própria ambiguidade do adjetivo infantil, que limita o substantivo poesia. Como se sabe, em toda situação comunicacional, forma-se, pelo menos, um triângulo de participantes: o remetente (ou emissor), o destinatário (ou receptor) e a mensagem. Assim, no caso da expressão poesia infantil, o adjetivo infantil pode se referir ao remetente, ao destinatário ou à mensagem.

Se entendermos que o adjetivo infantil se refere ao remetente, poesia infantil seria aquela produzida por crianças, se entendemos que se refere ao assunto da mensagem, seria a que tematiza crianças, infância etc., enfim, se entendermos que o adjetivo infantil se refere ao destinatário, a poesia infantil seria a que é lida ou foi escrita para ser lida pelo leitor infantil. Neste estudo, entende-se como poesia infantil aquela que tem como leitor-alvo a criança. (CAMARGO, 1998, p.15)

É nessa concepção que entendo a poesia infantil e me interesso pela sua história no âmbito brasileiro. Aqui a poesia infantil surgiu em fins do século XIX e expandiu-se nos primeiros anos do século XX. Segundo Arroyo (2010, p.314) entre os principais precursores estão: Zalina Rolim, Presciliana Duarte de Almeida, Francisca Júlia e Olavo Bilac. “Presciliana Duarte de Almeida deu-nos dois bons livros. Páginas infantis e Livro das aves; Zalina Rolim deixou-nos Poesias, e Olavo Bilac, a beleza dos versos contidos em Poesias infantis.” 

No início a produção de poesia infantil era pequena. De acordo com Coelho (2000, p.236) os poucos poemas que existiam apareceram nos livros escolares dos anos 20 e 50 e destacavam os poetas do passado, em geral, estes expressavam sentimentos dos adultos como o da saudade da infância. Os poemas seguiam uma estrutura mais rígida, com rimas e métrica e era direcionada mais a assuntos que envolviam a escola. 

Na escola havia o predomínio de poemas narrativos e exemplares cujo objetivo era criar sentimento patriota, filiais, fraternais, caridosos, generosos, de obediência entre outros. Fazia parte desse sistema educativo a memorização de poemas que deveriam ser ditos pelos alunos nas aulas de leitura e nas datas festivas, o que muitas vezes constrangia os alunos que eram tímidos. 

A poesia infantil brasileira guardou resquícios parnasianos até a década de 60 tanto pelo conservadorismo formal quanto pelo compromisso com a didática. Com o tempo a poesia tornou-se mais livre e mais prazerosa e direcionada ao público infantil. De acordo com Lajolo e Zilberman (1988, p.148) “[...] Só paulatinamente ela abandona a perspectiva tradicional que tematiza bichos, paisagens, vultos familiares e patrióticos de um ponto de vista exemplar e educativo.”

De acordo com Coelho (2000), a Editora Giroflê-Girafa, fundada em São Paulo, em 1960 pelo poeta português Sidônio Muralha (1929-1982) que se radicou no Brasil, foi um dos marcos históricos dessa nova poesia infantil. O volume inaugural foi A Televisão da Bicharada, de Sidônio Muralha que conquistou o 1º Prêmio da II Bienal Internacional do Livro em São Paulo. Embora com vida curta a Editora marcou seu pioneirismo na área publicando muitos títulos para crianças de escritores como: Cecília Meireles, Maria Bonomi, Gerda Brentano, Fernando Lemos, Fernando Correa da Silva etc. Outro marco dessa fase foi o livro Ou Isto ou Aquilo de Cecília Meireles (1964), dele destaco dois poemas: O Colar de Coralina e Ou Isto ou Aquilo, que intitula a coletânea. Além disso, 1968, Stella Carr publica o Caderno de Capazul que também marca a nova poesia infantil. 

Destinado ao público infantil, a poesia estimula perguntas a respeito do mundo e desafia os leitores a ver e a interrogar as realidades e descobertas da ciência. Nos anos 70 Arca de Noé de Vinicius de Morais foi um dos livros de poesia para crianças que fez muito sucesso. O mesmo acontece em 1976 com Mário Quintana escrevendo para crianças o poema narrativo o Pé de Pilão

Poetas que surgiram nos anos 60 abriram caminhos para a literatura infantil dos anos setenta e oitenta. Esse fenômeno atingiu não só a literatura, mas o sistema de ensino. Para Coelho (2000, p.250) a literatura infantil/juvenil e a escola foram forçadas a ser “sementes e sínteses do Novo. Ou, em outras palavras, têm de servir de alicerce para uma nova maneira de ver, pensar e agir e, simultaneamente, ser a cúpula ou a síntese provisória do novo sistema de gestação.” A autora afirma ainda que esse boom da literatura infantil veio provar um importante fenômeno com novos valores, novas ideias e novos comportamentos que começaram a se impor no início do século XX e já estavam no domínio público por meio da publicidade, das novelas da TV, dos filmes, teatro e canções. Ou seja, já tinham sido incorporados por todos. Dessa forma, nessa produção tornou-se evidente características modernas como graça, ritmo ágil, reiteração de fonemas em eco ou de vocábulos básicos, onomatopeias etc.

Estas características são primordiais na atualidade quando a violência e perversidade estão presentes nos noticiários da TV, filmes, shows e musicais infantis e é evidente o enorme incentivo, não somente pelos meios de comunicação como pela própria família, para que as crianças fiquem adultas antes do tempo. Na contramão a criança gosta de poesia e gosta de ouvir poesia. Para Kirinus (2011, p.26): “A criança recebe com muita facilidade a poesia. Ela é sua antiga conhecida, desde sempre. Basta dar um poema aqui que ela responde e corresponde com outro lá. A poesia é origem e pressupõe originalidade, e a criança responde bem a esse jogo de surpresas com a linguagem.” 

Além disso, muitas vezes subestimamos a capacidade das crianças de entender e interessar-se pelas coisas sensíveis. Tenho confirmado na minha prática pedagógica, que os alunos conseguem compreender textos poéticos e são capazes de escrever poesias. Dessa forma leio e possibilito que escrevam poesias uma vez que elas despertam seus sentimentos.

Neste texto gostaria de destacar ainda que após uma atividade com poesia na escola é visível o efeito na mente e no coração da criança, pois ela acalenta e a faz sonhar. Percebo que o som e a beleza dos versos ecoam na vida dos alunos.

Antes de finalizar proclamo leia poesias! Escreva poesias! Dissemine poesias! E para não ficar apenas na recomendação, resgato da minha memória uma poesia que escrevi e dediquei para minha neta:

 

Ana bailarina

Lá vem ela

Linda! Gira! Dança!

Rodopia

Com maestria!

Sua meiguice nos encanta

Enlaça, acalanta!

Olhar envolvente

Ah! Que beleza estonteante!

 

Lá vem a Ana bailarina

Linda menina

Menina linda

Abaixa, levanta

Faz piruetas no ar

Nossos sonhos a embalar

 

Todos hão de perguntar

Quem é aquela menina?

É a Ana bailarina

Linda menina

Menina linda

Que gira, dança, abaixa, levanta

Faz piruetas no ar

E nos faz sonhar

 

Sugestões de Leitura: 

ARROYO, Leonardo. Literatura infantil brasileira. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

CAMARGO, Luís Heilmeister de. Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. 1998. 203f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) – Instituto da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Editora Moderna, 2000.

KIRINUS, Gloria. Synthomas de poesia na infância. São Paulo: Paulinas, 2011.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias & histórias. São Paulo: Ática, 1988.

__________

Nota: Miladi Cruciol Tobias Tsukuda – Professora da Rede Municipal de Londrina. Este texto é um extrato do artigo apresentado no Curso de Pós-graduação em Contação de Histórias e Literatura Infantil Juvenil do Centro Universitário Filadélfia em Londrina.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.