MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

O QUE É A BIBLIOTECA PÚBLICA, HOJE? O OLHAR DO “PEQUENO RESTO”

Este texto foi elaborado a partir dos pontos elencados para uma fala na mesa redonda que abriu as comemorações dos 70 anos da Biblioteca Pública de Londrina. A mesa redonda, transmitida ao vivo pelo Youtube, ocorreu no dia 25 de outubro de 2021.

A questão do que é a biblioteca pública e da biblioteca em âmbito geral, hoje (e o hoje refere-se aos momentos em que ela aparece no seio da Biblioteconomia), é recorrentemente formulada por nós que nos interessamos por esse tipo de biblioteca.

Historicamente, a biblioteca sempre passou, de tempos em tempos, por discussões avaliativas. E tais discussões, levaram a alterações nas concepções do dispositivo biblioteca e até mesmo em mudanças epistemológicas da área. Toda crise – e essa é uma expressão com inúmeros entendimentos e significados – exige reposicionamentos, revisão de concepções, de entendimentos, chegando até a mudanças de paradigmas.

Um entendimento que acompanha a biblioteca, em especial depois de Gutenberg e da ampliação da publicação e disseminação de livros, - a sua relação quase que exclusiva com a leitura - deve ser olhada com estranhamento. Trabalhamos com a leitura, mas entendida de maneira lato, não apenas a leitura do texto escrito, mas de todas as outras formas identificadas na multimídia, ou seja, a imagem fixa, a imagem em movimento e o som. Além dessas quatro, devemos incluir a leitura de mundo. Mais: entendendo esta como a que abarca todas as outras e direciona nosso entendimento de leitura.

A biblioteca tem responsabilidades – não gosto do termo função – que são específicas, mas sem que percamos a ideia geral, um olhar holístico. E, por outro lado, devemos ter uma visão globalizada, embora sem nos esquecermos do “localismo”, das questões, das necessidades, dos interesses e dos desejos do local onde está alocada a biblioteca.

A biblioteca escolar, por exemplo, é vista como um suporte, como um apoio a educação formal. Mas, considerando que a educação formal não se atém ao âmbito da escola, a atuação da biblioteca escolar também não deve ser restrita apenas ao apoio da educação formal. Queremos formar cidadãos, mais do que pessoas que possuem competências para atender ao exigido pelo curso para que a pessoa seja habilitada para se formar e receber um diploma e espaço no mercado de trabalho. Ou, ainda, o que acontece no âmbito do curso médio, preparar alunos para apenas superar um vestibular que o impede de acessar um curso superior.

A biblioteca escolar, assim, também acompanha o objetivo de formar cidadãos e não somente ser suporte para o ensino formal.

A biblioteca pública, por sua vez, é muito mais ampla, em seus interesses e ações. Ela trabalha com a leitura, mas todas as provenientes das exteriorizações culturais do homem, ou seja, como foi dito acima, abrangendo o texto escrito, a imagem fixa, a imagem em movimento, o som e a leitura de mundo.

A biblioteca pública também trabalha com a informação. Digo também, pois ela, leitura, só é apropriada a partir da leitura. Esse é um ponto importante que deve ser enfatizado. A biblioteca pública não trabalha com um olhar predominante para a leitura, mas, ao mesmo tempo, trabalha com esse olhar. Como visto, a biblioteca trabalho com a leitura em seu sentido lato, não apenas a leitura do texto escrito. O senso comum tem o estereótipo da biblioteca pública como sendo o lugar no qual temos acesso – ou possível acesso – ao livro e que podemos usufruir da leitura. Mas, a informação, como defendo, só pode ser apropriada pela leitura. Assim, a leitura antecede a informação a partir dos equipamentos informacionais. Esta é uma discussão que merece um outro texto que aborde especificamente esse assunto.   

Durante sua existência, a biblioteca foi se alterando, incluindo exposições, discussões, debates, palestras etc. e, mais recentemente, ação cultural.

A ação cultural não lida com algo que esteja, necessariamente, registrado. Ela lida com a leitura, em especial a leitura de mundo. Esse item foi incluído nos grupos de coisas passiveis de leitura.

A biblioteca pública tem interesses muito mais amplos do que a informação e a leitura, muito mais amplo que a chamada “cultura” e o entretenimento. O olhar dela ultrapassa esses interesses e aponta para um perfil que já existia, mas restrito a um pequeno grupo a que vou chamar de “pequeno resto” que, hoje, vem se ampliando e permite a existência de um olhar para a biblioteca pública do futuro ou, ao menos, de um futuro próximo.

A biblioteca pública se preocupa com o cidadão, como o sujeito informacional, como o ser humano. A biblioteca pública quer que esse ser humano seja questionador, que lute por espaços, que exija ser respeitado, que entenda o que está acontecendo, que saiba que o estão menosprezando, utilizando mentiras para que as concepções da elite sejam aceitas como naturais, A biblioteca pública quer lutar para que o trabalhador, o povo, os dominados possam ocupar espaços de protagonismo.

Por isso a biblioteca atua com informações utilitárias, com a biblioteca das coisas, como um local de convivência, de troca, de oportunidades, de diálogo, de amizades, de cultura, de relações, de conversas, de trocas, de aproximações, oportunizando o protagonismo, possibilitando o encontro das pessoas com os bens culturais, com as exteriorizações culturais. A biblioteca pública possibilita o encontro da pessoa com ela mesma, o encontro da pessoa com o mundo, com os outros. A biblioteca pública é o centro de informação e “leituras” da comunidade à qual atende e está inserida.

Esse é o olhar, ou parte de olhares, que tenho do futuro e da atualidade da biblioteca pública.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.