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REPÚBLICA DOMINICANA: O CHARME DO CARIBE E A BELEZA DO ATLÂNTICO

Traços gerais

A República Dominicana (RD) faz parte do roteiro de um grande número de brasileiros que gostam de andar mundo afora, talvez, porque remete ao encantamento que cerca o Mar do Caribe ou Mar das Caraíbas ou Mar das Antilhas. Além das atividades turísticas, o Caribe constitui importante rota de tráfego comercial em virtude do Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico. Por sua configuração geográfica, é ele considerado um mar semiaberto e sua denominação, atribuída  pelos colonizadores espanhóis, ainda no século 16, advém do fato de que, à época, habitavam a região os índios caribes ou caraíbas. E mais, o litoral banhado pelo Caribe na América Central, América do Norte e do Sul perpassa diferentes países: Aruba, Barbados, Colômbia, Cuba, Curação, Jamaica e México.

 

 

Dentre as muitas ilhas independentes cercadas pelas águas azuis do Caribe, está a RD. Situa-se na Hispaniola, a segunda maior ilha do arquipélago das Grandes Antilhas. Ao Norte, eis o oceano Atlântico; ao Sul, o Mar do Caribe. O país divide a Ilha de Hispaniola com o Haiti por 376 km, a única fronteira terrestre. Estão eles separados somente pelo rio Artibonite, cuja nascente está nos montes Cibao, na Cordilheira Central da RD, embora a maior parte de sua extensão se situe no Haiti. Com seus 48.734 km², é a segunda maior nação das Antilhas, aquém tão somente de Cuba, nação com a qual mantém grande similaridade, seja pela alegria de sua gente; o amor ao tabaco (está em toda parte); a musicalidade (a bachata é um gênero originário da própria RD e data do século 20); e a dança. Neste caso, o merengue (próximo da salsa cubana) é a mais popular entre os dominicanos, embora seja amada por vários outros povos latinos, como na própria Cuba, no Haiti, no México, no Panamá e em Porto Rico, o que justifica sua proclamação pela UNESCO, em 2016, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, como música e dança nacional do país.

Os taínos, falantes das línguas aruaques, habitaram o que, hoje, se conhece como República Dominicana desde o século VI, ou seja, são eles os povos pré-colombianos dessa nação, deixando como resquícios o amor infindo às divindades taínas – Deus do Sol e Deusa da Lua. Cristóvão Colombo desembarcou por lá, 5 de dezembro de 1492, uma vez que os espanhóis esperavam encontrar ouro e especiarias exóticas, o que não ocorreu. Depois de três séculos de domínio espanhol, com interferência de franceses e haitianos, o país tornou-se independente em 1821. O governante José Núñez de Cáceres pretendia que o território fosse parte da Grã-Colômbia, mas não conseguiu seu intento graças à interferência do Haiti e dos nativos dominicanos. Após a vitória na chamada Guerra de Independência Dominicana, ano 1844, a nação viveu sério conflito interno por infinitos 72 anos aliado à tentativa de reconquista pela Espanha, o que justifica a afirmação de que a independência da República Dominicana aconteceu, de fato, tão somente em 1865. Entre 1916 e 1924, é a vez dos Estados Unidos da América. Findo o domínio norte-americano, o país vivenciou período relativamente próspero por seis anos sob o governo de Horacio Vásquez Lajara.

Em 1930, subiu ao poder o ditador Rafael Leónidas Trujillo, membro da Guarda Nacional instituída pelos EUA para combater os dominicanos nacionalistas, mas que terminou por deixar um lastro terrível de perseguição a opositores, medidas arbitrárias que lhe fez mudar o nome da capital do país (então, Santo Domingo) para Trujillo e inarrável corrupção até seu assassinato, em 1961. A guerra civil de 1965, a última, teve fim devido à intervenção novamente dos EUA, seguindo-se a gestão ainda autoritária de Joaquín Balaguer, de 1966 a 1978.

Desde então, a RD figura como Democracia Representativa, cujos Poderes, como no Brasil, estão divididos em Executivo, Legislativo (Câmara dos Deputados e Senado) e Judiciário. De início, a partir de 1996, sob a liderança de Leonel Fernández. No momento atual, desde agosto de 2020, o economista Luis Rodolfo Abinader Corona é o atual presidente do país, mediante eleição popular, pondo fim a uma história política marcada por colonização, ditaduras e intervenções militares. A bem da verdade, o detalhamento dos primeiros povos da República Dominicana e o processo de colonização europeia demandariam estudo mais aprofundado com foco apenas nessas duas questões.

Traços culturais

Quanto à população, a RD abriga 11,12 milhões de habitantes, um milhão dos quais vivem em Santo Domingo, primeira capital do Império Espanhol no Novo Mundo, onde Colombo desembarcou. É a atual capital ou Distrito Nacional, sem contar o total de 31 províncias distribuídas em três grandes regiões – Norte (Cibao), Sudoeste e Sudeste – cada uma das quais com, aproximadamente, quatro províncias. Cada uma das províncias comporta dois ou mais municípios, os quais, por sua vez, se desdobram em cidades, vilas e povoados. Como esperado, Santo Domingo aparece como a cidade mais populosa, seguida de Santiago de los Caballeros; Santo Domingo Norte; e Santo Domingo Este.

A densidade demográfica é de 207 hab./km², com a ressalva de que a maioria (69,78%) dos cidadãos vive na área urbana em oposição a 30,22%, na zona rural. As etnias maioritárias são a mestiça (73%); a branca (16%); e a negra (11%). Em contraposição, cerca de 95% dos haitianos são negros, descendentes de escravos africanos contra 5% de mulatos e/ou brancos. São eles o maior grupo minoritário da República Dominicana (6% da população total). Alguns são nascidos na RD. Mas há haitianos vivendo legalmente naquela nação. Não são muitos e evitam expor sua identidade. A maioria, porém, é ilegal. Nesse universo inesperado, há fatos hilários: os dominicanos, sobretudo, os que trabalham no litoral, com frequência, além de largos chapéus, cobrem parte do rosto, braços e pernas com a intenção de não escurecer a pele e, então, ficarem mais parecidos com os “odiosos” irmãos.

São povos-irmãos que nutrem aversão mútua, com os cidadãos da RD culpando os haitianos pelo incremento da criminalidade e de qualquer outro problema social, como a expansão da AIDS. A inter-relação das duas nações resume-se à proximidade fronteiriça. Para mim, um grande susto, que me fez escrever o texto intitulado “Haiti: o país que não conheci.” Um susto inesperado e triste. Tentei voos aéreos: raros e valores inalcançáveis. Transporte coletivo, como vans; táxis e carros particulares, fora de cogitação. Respostas similares: “dona, o que a senhora vai fazer por lá? Chegou, é sequestro imediato. É muita confusão.” Um guia turístico oficial declarou publicamente: “Sabe qual é o único problema da República Dominicana? Os haitianos.”

Tudo isto diante de incríveis semelhanças! Do lado dominicano, católicos, protestantes e praticantes de religiões afro-caribenhas, ênfase para o vodu. Do lado haitiano, idem. Do lado dominicano, prevalece o espanhol; um dialeto espanhol (mocha'o); e o crioulo haitiano, falado por imigrantes haitianos e descendentes. Nas escolas públicas e privadas, o inglês e o francês são línguas obrigatórias. Do lado haitiano, francês e crioulo.

 

 

Em se tratando da educação em geral, como se dá na maior parte das nações, a educação consta como direito supremo de todos os dominicanos, embora apenas a educação básica seja obrigatória para a faixa etária de seis a 14 anos em oposição ao secundário (não obrigatório), mas ofertado gratuitamente pelo Estado para os que estão entre 14 e 18 anos. O ensino superior, por seu turno, abrange institutos e universidades. Os primeiros são responsáveis por cursos de nível técnico superior. As segundas, por carreiras em áreas distintas, na graduação e na pós-graduação.

Traços econômicos

Apesar de a República Dominicana manter a nona maior economia da América Latina e a segunda maior economia da região do Caribe e da América Central, paradoxalmente, a história política antevista, os conflitos internos e externos, a desarmonia com o Haiti, a corrupção dos governos, a “fuga” em massa de dominicanos para os EUA e a visível estratificação social acarretam sérios problemas para sua gente, sem contar o elevado índice de desemprego e/ou baixas remunerações. O salário mínimo gira em torno de míseros $150 dólares, o que justifica a desvalorização do peso dominicano (DOP) e incentiva a aceitação do dólar e/ou do euro em, praticamente, todos os locais – lojas, restaurantes, hotéis, etc.

Aliás, ao contrário das políticas públicas brasileiras, o governo dominicano não oferece qualquer apoio aos desempregados, o que dá margem à expansão da informalidade, com número surpreendente de ambulantes ou prestadores de serviços, que tentam “se virar” para sobreviver, vendendo de um tudo aos turistas, inclusive a mamajuana, bebida típica à base de ervas, mel, vinho e rum e a que eles atribuem uma série de benefícios (não comprovados) para a saúde.

Assim, se, de início, a economia girava em torno da agricultura (abacate, cacau, cana-de-açúcar, banana, manga, tabaco e outros itens) e da mineração (níquel, ouro e prata), nos dias atuais, o setor terciário é responsável pela geração de 75% dos empregos. Portanto, nas últimas décadas, os governos vêm investindo maciçamente no turismo como fonte de renda para sua gente. As motivações são múltiplas e variadas. Em primeiro lugar, o clima ameno / agradável durante todos os meses, com temperatura média de 26°C, atrai os turistas que podem ter a seus pés as águas do Atlântico e do Caribe, esquecidos do risco de ciclones tropicais e furacões.

Indo além, a fauna e a flora da região apresentam rica diversidade. Na fauna aquática, destaque para tartaruga marinha, golfinho, arraia, baleia-jubarte, etc. Na flora, eis oliveira, caimito, coqueiro, guaiacum, ceiba e mogno. E mais, a República Dominicana é um dos países geograficamente mais diversificados da região caribenha. Por exemplo, possui o mais alto pico da região, o Pico Duarte, e, ao mesmo tempo, o maior lago e a menor elevação da região, o Lago Enriquillo, a 30 metros abaixo do nível do mar. Nele, a famosa Ilha dos Cabritos contém uma das maiores reservas do mundo do crocodilo-americano. Na região central do país, cadeias montanhosas e extensas florestas. Em contraponto, uma bela planície estende-se pela região Leste do país. No Sudoeste, estão as serras Bahoruco e Neyba. Os rios estão por todas as partes, e dentre eles, alguns são navegáveis, a exemplo de Soco e Higuamo.

Os campos de golfe durante o ano inteiro consistem grande atração para os turistas, embora para o povo em geral, o beisebol “seja disparado” o esporte mais popular da República Dominicana, seguido do basquetebol e do boxe. O país possui o primeiro polo de desenvolvimento urbano do continente Zona Colonial de Santo Domingo, área declarada como Patrimônio Mundial também pela UNESCO.

Traços do turismo, praias e Punta Cana

Eis uma importante área da República Dominicana, banhada tanto pelo Caribe quanto pelo Atlântico. A região é conhecida por trecho de 32 km de belas praias com águas límpidas em azul-turquesa e areia branca, além de engalanadas por uma imensidão de coqueiros. Como esperado, as praias que atraem gente de diferentes países, em especial, EUA, Canadá, Europa em geral e América Latina, sem contar numerosos brasileiros.

 

 

Bávaro e Punta Cana conjugados formam o complexo conhecido como La Costa del Coco, onde estão hotéis e resorts de luxo que adotam o all-inclusive = tudo incluso. Ao contrário da pensão completa — café da manhã, almoço e jantar —, esse sistema inclui petiscos, lanches ao longo do dia e bebida à vontade. São hotéis com atrações variadas no decorrer das 24 horas, como jogos nas piscinas; shows; danças para os hóspedes; recreação para crianças; clubes privé, os quais se destinam a um público seleto ou preestabelecido; atividades variadas, como tirolesa, windsurfe, caiaque e vela. Na verdade, Punta Cana nomeia toda a área turística onde estão os resorts all-inclusive e seu nome advém da quantidade de cana-de-açúcar antes existente na região e por se situar no extremo Leste, quer dizer, numa “ponta” do país.

Ocorre que Punta Cana constitui propriedade privada, cujos cinco resorts pertencem a quatro pessoas ou famílias. Trata-se de uma prática que se expande aqui e ali, como em Cancún, cidade do México. A privatização gradativa do mar chama atenção para uma medida que parece alardear e festejar as diferenças sociais. Algo que para muitos resulta do processo desenvolvimentista, em minha opinião, acelera a odiosa estratificação social. Sem exaurir, do ponto de vista jurídico, o chamado “domínio marítimo” e o Princípio Geral da Liberdade dos Mares, se o alto-mar, de fato, não pertence a ninguém em particular, haja vista que se insere dentre os direitos difusos da humanidade, do ponto de vista social, defendo que as águas do mar, mesmo quando a criança se posta à beira-mar para construir seus castelos de areia, são, sim, um bem comum de todos os povos e usufruto de todos os homens!


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MARIA DAS GRAÇAS TARGINO

Vivo em Teresina, mas nasci em João Pessoa num dia que se faz longínquo: 20 de abril de 1948. Bibliotecária, docente, pesquisadora, jornalista, tenho muitas e muitas paixões: ler, escrever, ministrar aulas, fazer tapeçaria, caminhar e viajar. Caminhar e viajar me dão a dimensão de que não se pode parar enquanto ainda há vida! Mas há outras paixões: meus filhos, meus netos, meus poucos mas verdadeiros amigos. Ao longo da vida, fui feliz e infeliz. Sorri e chorei. Mas, sobretudo, vivi. Afinal, estou sempre lendo ou escrevendo alguma coisa. São nas palavras que escrevo que encontro a coragem para enfrentar as minhas inquietudes e os meus sonhos...Meus dois últimos livros de crônica: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos.”