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LONDRES: DA REALEZA AOS MORADORES DE RUA

Voltar a Londres após quatro visitas à Inglaterra em diferentes regiões, uma das vezes para “turistar” e as demais para cumprir bolsas de estudo, a última das quais há exatos 10 anos, não nos proporcionou a impressão, às vezes, monótona, do déjá vue. Ao contrário. Uma visita relativamente rápida de uma semana nos deu a alegria de vivenciar o avanço de um povo mais e mais miscegenado, que, segundo depoimentos de londrinos “legítimos”, acolhe bem os imigrantes, embora não falte quem acuse o Governo de sobrecarregar a política do Centro de Informações de Saúde e Assistência Social do Reino Unido (NHS, sigla em inglês e funções de nosso SUS), face aos benefícios destinados aos que aí estão para residir, como indianos, etíopes, sul-americanos, chineses, etc. – aliás, o bairro chinês integra os roteiros turísticos.

Isto porque, além da saúde pública destinada a todos, nativos ou não, a capital Londres mantém transporte público impecável que favorece a ida e vinda de velhos e pessoas com deficiência, além de uma polícia para lá de rígida e respeito da população às diferenças culturais vistas sem olhar explícito de repúdio aos que mantêm qualquer orientação sexual. As tribos urbanas, a exemplo dos hippies, além de góticos, skatistas, surfistas, metaleiros, drag queens, adeptos do hip hop, skinheads, punks, roqueiros, grunges, rastafáris, steampunks, geeks e muitos outros, são tratados com deferência. Nada, porém, impede o número incrível de moradores de rua, jogados em meio ao lixo, mas que se recusam a ir para abrigos, a maioria, vítima das drogas...

Foto 1 – Moradores de rua (identidade preservada)

 

 

Fonte: Acervo pessoas da autora, jun. 2023

Como sempre, a Inglaterra sempre foi adepta às greves em prol dos direitos de seus cidadãos. Lá está uma multidão próxima ao Big Ben, famoso relógio do UK Parliament, reivindicando não uma causa isolada, mas, dessa vez, o direito de grevar, o que nos proporciona posar como grevista sem causa.

Foto 2 – Grevista fake

 

 

Fonte: Acervo pessoal da autora, jun. 2023

No entanto, com os pubs tão festivos quanto há décadas, mas sem as motos numerosas (usuais para quem trabalha com o sistema de delivery) que infernizam as cidades brasileiras, o inglês persiste em sua compartimentação prol ou contra a Família Real. Chama atenção a diluição gradativa da tão querida Lady Diana: as lojas de souvenir investem nos novos membros da realeza: Charles III, o Rei; a odiada Rainha Consorte, Camilla Parker-Bowles; William, o Príncipe de Gales; e Catherine, a Princesa de Gales. Lady Di parece, aos nossos olhos, uma sombra fugidia!

O deslumbrante de Londres também se refere à arquitetura fantástica cuidadosamente conservada em meio aos parques maravilhosos, como Hyde Park; St. James’s Park; o imenso Greenwich Park, o qual favorece visão inesquecível do rio Tâmisa e da cidade; e o Kensington Gardens. Este último carrega uma sensação de grandiosidade por sua associação com o Kensington Palace, lar de muitos membros da Família Real. Afinal, os parques, não importa nem nome nem localização, trazem, ao menor sinal de um solzinho fraquinho, uma multidão de pessoas que se perdem e se acham na beleza do verde, com a grata novidade de 20 cantinhos perdidos nos recantos londrinos, com plantações, lagunas e pássaros, como pelicanos fujões...

É tudo muito lindo por remeter ao cuidado quanto à poluição e à reciclagem, o que justifica investimento maciço em ciclovias por todas as partes da cidade, onde estão estátuas vivas (que adoramos) e os artistas de rua. Ambas as categorias nos fazem divagar sobre suas vidas, suas escolhas, os porquês de sua permanência nas ruas, trazendo um pouco de luz ao árido dia a dia do trabalhador.

Foto 3 – Investimento maciço em ciclovias

 

 

Fonte: Acervo pessoal da auotra, jun. 2023

Mas nada ofusca a vida cultural intensa de Londres, com comédias, concertos, filmes recém-lançados, musicais – assistimos “Les Misérables” e “The Pretty Woman”... Difícil mesmo é selecionar diante de tantas opções, como “The Phantom of the Opera”; “Harry Potter” (mantém o lucrativo Harry Potter Studio); “Moulin Rouge”, aliados a locais indescritíveis, como o Royal Albert Hall, renomado local de música e concertos do mundo.

E há centenas de igrejas e museus. Dentre as igrejas, destaque para Westminster Abbey e St. Paul's Cathedral, esta úlitma onde Charles e Diana se casaram. Dentre os museus, ênfase para a Tate Britain, principal galeria de arte moderna e contemporânea do Reino Unido, de 1897; The British Museum, que abrange mais de dois milhões de anos da história humana; The Freud Museum, lar final de Sigmund Freud, fundador da psicanálise; The National Gallery com uma das maiores coleções de pinturas do mundo; Natural History Museum, centro de excelência científica na descoberta da taxonomia e da biodiversidade, contendo coleções de imensurável valor, como espécimes coletados por Charles Darwin.

E o que dizer da icônica roda gigante London Eye? Originalmente construída para celebrar o milênio, oferece visão panorâmica de toda a cidade e, nos dias atuais, constitui a peça central de cada ano novo londrino, de onde partem aos céus fogos de artifício com suas belas cores sazonais. E mais: a Tower Bridge; o Buckingham Palace, residência da Família Real Britânica desde quando a Rainha Victoria ascendeu ao trono, ano 1837; o Big Ben e o UK Parliament, tudo continua belo e impecável!

Desde nossa primeira visita ao país, ânsia incontrolável por passear ao longo do rio Tâmisa e carinho especial pelos mercados, como o Portobello Road Market. A região de Camden Town, bairro cultural ao norte de Londres, atrai por sua cultura alternativa, com góticos, punks, rockabillies (adeptos do rockabilly, subgênero do rock, surgido nos Estados Unidos na entrada dos anos 50) e seu mercado exótico com belas quinquilharias. Na realidade, disputa com a efervescência do Covent Garden, também uma das áreas mais vibrantes de Londres para compras, shows, cultura, comidas típicas ou não, e bebidas para todos os gostos.

Em suma, Londres continua Londres, com seus ônibus vermelhinhos e suas cabines telefônicas tão controversas e lindas!

Foto 4 – Londres continua linda com seus símbolos que fazem história

 

 

Fonte: Acervo pessoal da auotra, jun. 2023

Não a Londres de sempre, mas a que evolui e busca abraçar imigrantes e cidadãos! Os Beatles sobrevivem, ainda que na faixa de pedestre da Abbey Road, que expõe a imagem dos cantores atravessando a rua. Em suma, Londres vale uma revisita, sim senhor!


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MARIA DAS GRAÇAS TARGINO

Vivo em Teresina, mas nasci em João Pessoa num dia que se faz longínquo: 20 de abril de 1948. Bibliotecária, docente, pesquisadora, jornalista, tenho muitas e muitas paixões: ler, escrever, ministrar aulas, fazer tapeçaria, caminhar e viajar. Caminhar e viajar me dão a dimensão de que não se pode parar enquanto ainda há vida! Mas há outras paixões: meus filhos, meus netos, meus poucos mas verdadeiros amigos. Ao longo da vida, fui feliz e infeliz. Sorri e chorei. Mas, sobretudo, vivi. Afinal, estou sempre lendo ou escrevendo alguma coisa. São nas palavras que escrevo que encontro a coragem para enfrentar as minhas inquietudes e os meus sonhos...Meus dois últimos livros de crônica: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos.”