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NA BIBLIOTECONOMIA ATUAL O X DA QUESTÃO É ML

Certamente, você já leu sobre a XML (EXtended Markup Language), que nos últimos anos consolida-se como uma linguagem franca de comunicação e intercâmbio de informações e dados no ambiente digital. Mas nunca é demais comentar, ainda que genericamente, sobre um recurso que se adentra em nosso cotidiano profissional.

 

Ela é baseada na linguagem SGML (Standard Generalized Markup Language), criada no final da década de 1960 como um sistema no qual o nome das marcações seria definido pelo próprio usuário, possibilitando um maior detalhamento dos dados. SGML também é base da linguagem HTML (HyperText Markup Language).

 

A XML é um padrão de uso livre e de código aberto, empregada para troca eletrônica de dados independentemente dos sistemas utilizados. Sua portabilidade e interoperabilidade lhe permitem ser interpretada por aplicações existentes nos mais diversos ambientes computacionais. Os documentos codificados sob suas regras podem ser transportados de um ambiente de hardware e software para outro, sem perda de informação.

 

Outra característica é a sua extensibilidade, ao criar marcas para quase todos os tipos de informações. Esse recurso permite desenvolver linguagens de marcação inteiramente novas para descrever tipos de dados específicos, incluindo fórmulas matemáticas, estruturas moleculares, músicas, receitas, além de aplicações bibliográficas. Ademais, oferece facilidade de reuso de conteúdos marcados em diferentes mídias possibilitando explorar novas formas de publicação de documentos digitais. Entre os exemplos de marcação baseadas na estrutura que a XML oferece, incluem-se:

 

  • XHTMLExtensible Hypertext Markup Language, linguagem que especifica o formato do texto exibido em um navegador Web (Internet Explorer ou Firefox, por exemplo). Oferece recursos mais poderosos que a HTML (Hypertext Markup Language) na descrição de conteúdos. É uma nova expressão da linguagem HTML para torná-la consistente com o rigor e exigências de sintaxe da XML.

 

  • MathML ou MML – Mathematical Markup Language,  padrão validado pelo W3C para descrever notações e expressões matemáticas em um formato adequado para apresentação em uma tela ou ser usada pelo software de análise  matemática.

 

  • VoiceXML – linguagem estendida da XML, usada para escrever páginas Web onde a interação ocorre através do reconhecimento de voz. Esse padrão permite às empresas oferecerem aos seus clientes aplicações ou conteúdos baseados na Web e acessíveis pelo telefone (fixo ou celulares). A tecnologia amplia o alcance dos call centers, bancos, agências de turismo, comércio eletrônico e bibliotecas que, por exemplo, podem ampliar e dinamizar a oferta de serviços aos seus usuários. O sucesso do VoiceXML depende dos sistemas de reconhecimento de voz, ainda pouco explorados no Brasil. É, um recurso de ajuda aos portadores de deficiências visuais na leitura de páginas eletrônicas.

 

  • CallXML é uma tecnologia criada e suportada pela Voxeo para o desenvolvimento de aplicativos telefone – Web que controlam as chamadas telefônicas recebidas e discadas. Exemplos de aplicações são: correio de voz, os sistemas interativos de resposta de voz e do sistema de espera de chamada a Internet. Enquanto a VoiceXML serve aos deficientes visuais na leitura de páginas Web, a CallXML fornece acesso ao conteúdo por meio de telefone.

 

  • SMILSynchronous Multimedia Integration Language, é tecnologia para descrever o controle, leiaute e sincronização na produção de conteúdo digital com recursos multimídia.  Recursos como áudio e imagens animadas ou filmes podem ser adicionados aos documentos digitais. A tecnologia permite integrar recursos (texto dinâmico, áudio e vídeo) a conteúdo digital, possibilitando produzir e apresentar o conteúdo no estilo de uma TV. Seu impacto maior deve ser sobre os periódicos e livros eletrônicos.

 

  • CMLChemical Markup Language, é um vocabulário baseado na XML para representar informações moleculares e químicas. Os documentos em CML podem ser editados e visualizados com o navegador Jumbo (versão três), disponível no endereço www.xml-cml.org.

 

  • SVG Scalable Vector Graphics, é uma aplicação em XML para editorar elementos gráficos bidimensionais, inclusive as formas gráficas vetoriais, imagens e textos. Os documentos no padrão SVG possuem uma série de vantagens, quando comparados a outros formatos, podendo ser manipulados e convertidos por várias ferramentas.

 

  • XBRLExtensible Business Reporting Language, é uma linguagem estendida da XML, surgida da necessidade de criar um padrão para a representação e intercâmbio de informações financeiras e contábeis.

 

Nota-se que a XML é um padrão de representação e transporte de informações de diversos tipos, tendo grande impacto nas várias áreas de conhecimento e de comércio eletrônico. A linguagem tem efeito sobre a atividade bibliotecária atual, orientada na organização e tratamento da informação eletrônica: criação de catálogos bibliográficos, instalação e gestão de periódicos eletrônicos, criação de bibliotecas digitais de teses, etc.

 

Saliente-se que os softwares para automação de bibliotecas ou serviços de informação, devem incorporar a geração de arquivos no padrão. Mesmo o software CDS/ISIS conta com utilitário XML2ISIS para importação de dados em XML.

 

Embora destaque as qualidades da XML, há restrições também. Apesar da possibilidade do autor criar as marcações na medida da necessidade, o procedimento não é isento de regras, definidos em outro documento chamado de XML Schema. Por meio dele se definem padrões que o autor deve seguir para validar o documento criado e para que possa ser compreendido em diferentes contextos. Assim, isoladamente a XML é de pouco valor, requer uso conjunto de outras tecnologias (XML Schema) que destacam o valor potencial da linguagem, como por exemplo:

 

  • DOMDocument Object Model, disponibiliza os métodos para a manipulação de um arquivo XML, utilizando linguagens de programação de sistemas (PHP, Perl, ASP, VisualBasic etc).

 

  • DTDDocument Type Definition, define como deve ser construído um arquivo XML a partir de uma gramática formal. Sua estrutura é a de uma base hierárquica, detalhando quais elementos podem ser usados e onde eles podem ser aplicados. Também estabelece o tipo de relacionamento que um elemento possui com outros, indicando todas as partes, obrigatórias e opcionais, que o documento deve seguir ao ser criado.

 

  • XSLExtensible Stylesheet Language, folha de estilo utilizada para transformar dados XML em HTML visando visualização no navegador. Pode ser aplicada na criação de estruturas que possibilitam formas de representação da informação contida em um arquivo XML.

 

Como mencionado, a temática XML não está afeita apenas à tecnologia da informação e desenvolvimento de sistemas para a Internet. Apresenta, também, aplicações na biblioteca. Neste sentido, há algumas monografias, em português, que abordam a aplicação do XML na área da Biblioteconomia e da Ciência da Informação:

 

Marcos Antonio Siqueira realizou estudo, em 2003, enfocando a importância da XML para a Ciência da Informação, a partir da própria estrutura da linguagem e das formas de representação, apresentando a versão MARC21 em XML – MARCXML, como recurso aplicável para representação documentária e a necessidade de desenvolvimento de ferramentas de software para exploração do padrão, em especial na capacidade de importação e exportação de registros bibliográficos sob instrução da linguagem de marca, dinamizando a interoperabilidade dos softwares. Utilizando a XML como a estrutura para registros do MARC, os programadores podem desenvolver ferramentas específicas para criar, manipular e converter dados do formato.

 

Adriana Nascimento Flamino, também realizou estudos abordando o formato MARCXML, com enfoque na construção de formas de representação descritiva para recursos de informação em arquivos abertos (open archives), como um padrão de metadados complexo e flexível, que possibilita a interoperabilidade entre sistemas de informações heterogêneos, além de suas vantagens e flexibilidades na transferência de registros bibliográficos e no acesso às informações. Na conclusão de seu trabalho, salienta que à medida que aumenta a complexidade dos documentos nos repositórios e arquivos abertos, mais se justifica uma estrutura de metadados, como a do formato MARCXML, que suporte a descrição das especificidades dos recursos de informação, uma vez que esta iniciativa não está restrita a documentos apenas científicos, mas se expandindo a outros tipos de recursos  mais complexos, demandando cada vez mais uma descrição apropriada para a especificidade das entidades bibliográficas. Observa, também, que a aplicação da XML em bibliotecas vem aumentando em considerável interesse, desde que se tornou um padrão para a web de impacto universal. Vários projetos exploratórios estão sendo desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos, por importantes bibliotecas comprometidas em prover versões em XML de seus registros.

 

Os estudos acadêmicos merecem ser lidos pelos bibliotecários que desejam uma visualização das evoluções que ocorrem no ferramental da sua atividade. Estar atentos à evolução dos programas, cada vez mais sofisticados e a exigir contínua capacitação por parte dos profissionais da informação. É importante o conhecimento sobre a XML por ser uma linguagem ponte entre as duas áreas: Ciência da Informação e Ciência da Computação.

 

Aliás, esta preocupação foi o foco do estudo realizado por Sérgio Furgeri, que investigou os pontos convergentes e divergentes entre as linguagens documentárias da Ciência da Informação e as linguagens de marcação desenvolvidas e utilizadas na Ciência da Computação, procurando identificar ações, conceitos e processos necessários para uma maior integração entre essas áreas.

 

Frise-se que a utilização de padrões abertos de marcação (SGML, HTML, XHTML, XML) permite a criação de documentos portáveis, independentes de um determinado software, hardware, ou sistema operacional. Documentos que podem ser interpretados por aplicações presentes nos mais diversos ambientes computacionais, bastando que exista uma aplicação que reconheça o padrão usado. O fato de ser padrão aberto, não aprisiona a informação a sistemas proprietários, podendo haver conversores de um padrão para outro.  Além disso, os conteúdos podem ter múltiplas apresentações, independente da mídia de veiculação, monitores, celulares, impressora, interpretador braile, televisão etc. A aplicação que deve tratar a informação é que se encarrega de interpretar as marcas e processá-las, para efeitos de estilo, ou outros processamentos.

 

 

Como sugestão de leitura, em português, sobre aplicações e implicações da XML na Biblioteconomia e Ciência da Informação, seguem os textos acessíveis na ou via Web.

 

ALMEIDA, Maurício Barcellos. Uma introdução ao XML, sua utilização na Internet e alguns conceitos complementares. Ciência da Informação, vol. 31, n° 2, 2002.

 

BAX, Marcello Peixoto. Introdução às linguagens de marcas. Ciência da Informação, vol. 30, n° 1, 2001.

 

FLAMINO, Adriana N. MARCXML: um padrão de descrição para recursos informacionais em Open Archives. 2006. 164f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2006.

 

FURGERI, Sérgio. Representação de informação e conhecimento: estudo das diferentes abordagens entre a ciência da informação e a ciência da computação. 2006. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

 

SILVA FILHO, Antonio Mendes da. Documento Digital – Produção de Conteúdo Digital. Revista Espaço Acadêmico, ano 4, n° 41, out. 2004.

 

SIQUEIRA, Marcos A. XML na ciência da informação: uma análise do MARC21. 2003. 134 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2003.

 


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.