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DO IMPRESSO AO DIGITAL: CATALOGAÇÃO SEMPRE

As bibliotecas têm mudado dramaticamente nos anos recentes, e a tecnologia é freqüentemente vista como principal elemento na construção da informação contemporânea.

 

É comum destacar o significativo impacto destas mudanças na configuração das atividades bibliotecárias. Não se questiona esta situação. Neste aspecto, entre as atividades mais impactadas realça a catalogação. Seu exercício no ambiente laboral, e a construção de seus princípios teóricos passa por inovações e reformulações metodológicas de maneira marcante.

 

Há, em realidade, um revigoramento da catalogação. Mesmo por que o conceito e a definição de documento mudaram ao longo do tempo e das inovações tecnológicas. Do ambiente predominante do papel baseado na expressão escrita à consideração de tudo que possa ser portador de significados (objetos, imóveis, vestimentas, alimentos, etc.) aos documentos digitais (imaterial, binário, abstrato, visual, materializável).

 

Em qualquer suporte ou ausência de um, o trabalho do catalogador em representar e dar significado ao documento sempre teve e terá importância. Agora, no mundo das redes eletrônicas a atividade ganha maior importância na organização do conhecimento.

 

Antes parecia haver uma visão operacional e tecnicista da função. Uma pejorativa consideração do catalogador de fazedor de fichas; digitador de luxo de planilha; ou de aplicador de regras (inflexíveis e ditatoriais).  Uma visão distorcida a imperar no Brasil, um país carente de padrão bibliográfico. Mesmo o processo de automação que atingiu as bibliotecas no final dos anos 80 sugeriu a obsolescência da catalogação, pelo fato dos softwares bibliográficos serem parametrizados em planilhas de preenchimento.

 

Neste sentido (abro um parêntese), mesmo o processo de seleção, customização de sistemas e de interfaces de consulta à base bibliográfica dos softwares para biblioteca, ainda é deixado em segundo plano ou sob a perigosa responsabilidade do fornecedor. É comum consultar catálogos automatizados cuja interface de consulta e de apresentação dos resultados é única para toda faixa etária ou tipologia de usuários. Retornando...

 

Tammaro e Salarelli (no livro “A Biblioteca Digital”; Briquet de Lemos, 2008) observam que a relação do universo documentário com o mundo humano não é dual, mas triádica. Além do produtor do documento e do leitor/usuário (interpreta e faz uso da informação para suas necessidades), há o mediador que entre outras coisas atua no sentido de realizar uma representação do objeto por meio de uma linguagem simbólica, formalizada, visando facilitar a recuperação. Sob o olhar deste mediador o objeto deve resultar como portador de informação para tornar possível sua representação. Assim, segundo os autores, “aquele valor agregado que transforma um objeto em documento não é atributo exclusivamente por quem produz ou consulta o próprio objeto: existe também a atenção de quem sabe, simbolicamente, descrever o material detendo-se tanto no suporte quanto nos dados registrados, e, por fim, no potencial informativo”. Vejo, neste contexto, a importância do trabalho do bibliotecário de catalogação, que não pode ser burocrático e operacional. O desempenho requer análise, reflexão e nunca interpretação por planilha de um conteúdo (impresso ou digital).

 

Nota-se que o trabalho de catalogação torna-se muito mais complexo e coletivo. A organização e a gestão de conteúdos envolvem novos conceitos de descrição e apresentação da representação dos conteúdos. Adoção de políticas de desenvolvimento de coleções não só impressa, mas cada vez mais digital. Compreensão das formas de direitos autorais. Os catálogos online de acesso não só à referência, mas ao documento completo.

 

Para exemplificar a variedade de termos que são ou tornam-se parte do conhecimento do catalogador para desempenho de suas atividades, elaboramos uma lista assistemática contendo nomes, siglas, conceitos, termos e expressões relacionadas à catalogação. Ela pode ser acrescida ou suprimida, é apenas uma idéia pessoal e descompromissada. É importante que o catalogador tenha noção dos significados de cada palavra na sua atividade.

 

 

Lista Alfabética de Aprimoramento Terminológico do Catalogador

 

(A)

AACR

ABNT

Acervos Digitais

ALA

Analítica

Analógico

ANSI

Arquivo (extensões)

Arquivos Abertos

Artefatos Tridimensionais

Assunto

ATKINSON, R

Autor

 

 

(B)

BARBOSA, A P

Base de Dados

BDTD

BIBCO

BIBLIODATA

Bibliografia

Biblioteca (Física, Digital, Hibrida)

BIDS

BIREME

 

 

(C)

Cabeçalho

Campus Licences

Capítulo

CARLYLE, A

CARPENTER, M

Catalogação Cooperativa

Catalogação na Publicação

Catalogação Retrospectiva

Catálogo Coletivo

CBU

CD-ROM

Classificação Bibliográfica

Cliente/Servidor

Código de Catalogação

Colaborador

Coleção

Coletânea

Colofão

CONSER

Consórcio

Controle de Autoridade

Council on Library and Information Resources – CLIR

Creative Commons

CUTTER, Charles Ami

 

 

(D)

DCMI

Depósito Legal

Descrição Bibliográfica

Descritor

Desenvolvimento de Coleções

DGM

Diafilme

Diapositivo

Dicionário Bibliográfico

Dicionário de dados

Digital

Digital Library Federation

Digitalização

Direito Autoral

Dissertação

Distribuidor

Documento

Documento Digital

DOI

DRM

DTD

Dublin Core

DVD

 

 

(E)

EAD

e-Book

Edição

Editora

Encarte

Entidade Coletiva

Entidade Subordinada

Entrada (principal, secundária, analítica, título)

Esquema de Metadados

Expressão

EARL

 

(F)

Fascículo

FEBAB

Filmes Cinematográficos

Folder

Folheto

Fonte de Informação

Formato Bibliográfico

FRAD

FRANAR

FRBR

Frontispício

FRSAR

FTP

 

 

(G)

GIS

Glossário

GORMAN, M

Gravações de Som

GUI

 

 

(H)

Hardware

Harvesting

Hipertexto

HTML

HTTP

 

 

(I)

IBICT

ICABS

IETF

IFLA

IME ICC

Imprenta

Indexação

Interface

Internet

Interoperabilidade

Intérprete

ISBD

ISBN

ISO

ISO 2709

ISSN

Item

 

 

(J)

JANET

JEWET, C C

Joint Steering Committee Format Variations Working Group

JSCRAACR

 

 

(K)

Kardex

Kbytes

 

 

(L)

LANCASTER, F W

LC

LCCN

LCSH

LEBOEUF, P

Legenda Bibliográfica

Licença de uso

LILACS

Linguagem de Marcação

Link

Livro

Login

LOM

Lombada

LUBETZKY, S

Lugar de Publicação

 

 

(M)

Manifestação

Manuscrito

MARBI

MARC

MARCOUT

MARCXML

Materiais Iconográficos

Material Adicional

Material Cartográfico

MEMÓRIA, Antonia

Metadados administrativos

Metadados descritivos

Metadados estruturais

METS

MEY, E

Microficha

Microfilme

Microforma

MODS

Monografia

Multímeios

Multimídia

Música

 

 

(N)

NACO

NAUDÉ, Gabriel

Navegador

NBR

NISO

Nível de Descrição

Normas Técnicas

Notação

Notas

Número de Chamada

 

 

(O)

OAI

OAI-PMH

OAIS

Obra

OCLC

Online

Online Information Exchange – ONIX

OPAC

OPAC Social

OTLET, P

 

 

(P)

PAC/UAP (IFLA)

Página de Rosto

Palavra-Chave

Pandora (projeto)

PANIZZI, A

Patente

PCC

Periódico

Ponto de Acesso

Portal

Preservação Digital

Princípios de Paris

Propriedade Intelectual

Protocolo

Provedor

Pseudônimo

Publicação

PURL (projeto)

 

 

(Q)

Qualidade na catalogação

 

 

(R)

RDA

Realia

Recuperação da Informação

Recursos Eletrônicos

Redes Sociais

Referência Bibliográfica

Registro Bibliográfico

Registros Sonoros

Regras de Catalogação

Reimpressão

Research Support Library Programme - RSLP

Responsabilidade

Repositório

RIEC

RLIN

ROWLEY, J

 

 

(S)

SACO

Seção

Seleção

Separata

Série

SGBD

SGML

Site

Software

Spectrum (projeto)

Subtítulo

Sumário

Suplemento

Suporte

 

 

(T)

Tabela CUTTER

Tabela PHA

TAG

Taxonomia

TEI

Tesauro

Tese

TILLETT, B

Título

Tombo

Tomo

Trabalho

Tradução

Tratamento Técnico

 

 

(U)

UNESCO

Unicode

Unidade de descrição

UNIMARC

Unisist

URC

URI

URL

URN

Usuário

Utilidades Bibliográficas

 

 

(V)

Verbete

Versão

Verso

Vídeo

Vocabulário

Volume

 

 

(W)

W3C

Web

Webopac

Web Semântica

Winisis

WLN

 

 

(X)

XML

 

 

(Y)

YEE, M

 

 

(Z)

Z39.2

Z39.44

Z39.50

Z39.57

 

______________________________

 

 

Para estimular a leitura da Lista podemos categorizar o nível de compreensão do catalogador em:

 

  • 100% – Catalogador “Mastercard”, sua sapiência não tem preço.  Pode sentar no cume da montanha e refletir sobre o Controle Bibliográfico Universal.

 

  • 70 – 90% – Catalogador “Budista/Hindu”, quase atingindo o nirvana bibliográfico.

 

  • 40 – 60% – Catalogador “Financista” pode ser consultor ou dar aulas da matéria.

 

  • 10 – 30% – Catalogador “Normal”, bom para o mercado, mas há que buscar atualização contínua.

 

  • Abaixo dos 10% – Catalogador classificado na categoria: “Prefiro não comentar”.

 

Humor a parte, a catalogação não é atividade operacional, e não pode continuar reduzida como tal, no país. Ela fundamenta-se em bases teóricas e padrões internacionais. Há novos conceitos e processos de aplicação acontecendo no mundo.

 

Nos dias atuais, não cabe ser realizada isoladamente. O melhor proveito de sua aplicação é resultado de esforço coletivo e colaborativo. É importante à sobrevivência das bibliotecas e à estrutura bibliográfica.

 

Bibliotecas são componentes essências para educação, aprendizagem, e alfabetização das pessoas. Recursos fundamentais para a sociedade se desenvolver e prosperar. Bibliotecários têm as ferramentas, experiências e competências para organizar e preservar o conhecimento registrado. Cumpre agora envolver-se com maior densidade com os documentos digitais que valem a pena ser organizados e preservados para as futuras gerações; e comprometer-se com a melhoria dos padrões bibliográficos nacionais e internacionais, começando por reestruturar ações colaborativas no Brasil.

 

Em 2007, durante o Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, realizado em Brasília – DF, a FEBAB (Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições), promoveu  o Encontro Internacional de Especialistas em Catalogação, com a presença de Bárbara Tillett (então presidente da Seção de Catalogação da IFLA).

 

Neste ano de 2008, durante o mês de agosto (dias 21 e 22), terá lugar na Universidade Federal de São Carlos, o Encontro de Docência em Catalogação, contando com a participação de professores, pesquisadores, profissionais e estudantes de pós-graduação. Oportunidade de promover a interação entre docência e prática profissional; discutir literatura da área; e situar as pesquisas em âmbito nacional, entre outras propostas. Justifica-se a importância do Encontro devido às mudanças havidas na área de catalogação, a partir dos anos 1990, e que requerem reflexão sobre a necessidade de adequação do ensino e da prática em catalogação.  As mudanças sinalizam que o ensino e a atuação profissional não se podem mais limitar às questões de uso do código de catalogação, mas requerem maior aprofundamento teórico que se repercuta na prática. Ao mesmo tempo, considera-se importante maior envolvimento dos catalogadores brasileiros nos fóruns internacionais de catalogação, em particular nas seções da IFLA, inclusive com sugestões sobre temas que afetam diretamente os países de língua portuguesa. O Encontro é coordenado e organizado pelas professoras: Eliane Mey e Zaira Regina Zafalon, informações podem ser obtidas em:

 

Comissão Organizadora do Encontro sobre Catalogação

Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Ciência da Informação

e-mail para contatos: edoccat@gmail.com

 

 

Esperamos que iniciativas como da FEBAB, e como das Professoras da UFSCar, corroborado por todos os participantes, frutifiquem em ações que revigorem o papel e a importância da catalogação brasileira sob novos enfoques. Os usuários agradecem.

 


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.