AÇÃO CULTURAL


EFEMÉRIDES

Hoje, 22 de Abril de 2011, Sexta-feira Santa, comemora-se, na Cristandade, a Paixão de Jesus Cristo, entendida como o ápice do martírio sofrido por Ele pela redenção da humanidade, em decorrência do pecado original.

 

Esta não é uma data fixa e está regulada, pelo menos no calendário adotado no Ocidente, pelo período relativo à Quaresma. Como data móvel, trata-se de uma data convencionada entre a cúpula da hierarquia católica e especialistas, provavelmente originada por causa do passar de tão longo tempo, o que criou algumas fragilidades cronológicas e, certamente, deu origem aos muitos calendários produzidos desde a vinda de Cristo à Terra, como Filho de Deus e, concomitantemente, na forma humana.

 

Se, como bibliotecária que sou, eu estivesse à frente de uma comissão ou chefia de projetos culturais de uma biblioteca pública ou escolar e precisasse decidir sobre como atuar relativamente a essa data específica, usaria a “fórmula” da Ação Cultural para proporcionar à comunidade usuária um conhecimento renovado sobre o tema do dia.

 

Reportando-me a pesquisas de campo já terminadas, recordo que na região de Marília-SP, o primeiro contato com suas crianças, muitas delas originárias de famílias cristãs praticantes, apontava para sua experiência com material de leitura relacionado a trechos facilitados da Bíblia, muitas vezes com edições em quadrinhos.

 

Portanto, essas crianças já tinham um conhecimento de conteúdo religioso ligado a Jesus Cristo, tanto sobre a vida quanto sobre a morte, intercalado com preceitos morais e éticos, embora ainda incipientes.

 

Tanto na Igreja Católica quanto em outras igrejas denominadas evangélicas, todas de orientação cristã, existe uma prática de aprofundamento dos conhecimentos religiosos, para consolidar e enraizar melhor a fé de seus seguidores. Ela se dá na chamada escola dominical ou nas aulas de catecismo.

 

Não é esse o objetivo de uma biblioteca, que também pode ser reconhecida como centro de informação e cultura ou agência de conhecimento, por meio de todos os recursos informacionais de que dispõe, sejam os mais tradicionais, sejam aqueles considerados de ponta, da mais nova tecnologia,

 

Há algum tempo atrás, em viagem aos Estados Unidos, pude visitar a biblioteca pública  de uma cidade americana de porte médio, no “far west”, quase às beiras do Oceano Pacífico. Lá, passei algumas horas em visita; pude ver que, física e tecnicamente, estamos “ombro a ombro” com a situação deles; que, na programação cultural, eles ganham de nós; e que, em termos de Ação Cultural, nós estamos à frente conceitualmente (lamentavelmente, em aspectos teóricos, já que a “nossa timidez” profissional ainda faz com que a Ação Cultural só recentemente comece a engatinhar em nossas bibliotecas, como parte intrínseca da filosofia de trabalho e da atuação da equipe que lá atua). Isso quer dizer que a prática ainda não corresponde plenamente ao que a teoria brasileira está afirmando.

 

Vamos pegar, hoje, apenas esses dois exemplos – a pública e a escolar – tendo em vista que, apesar de a “fórmula” ser a mesma, uma biblioteca universitária ou especializada aplicaria um projeto de Ação Cultural com o mesmo tema, com abordagens e estratégias diferentes.

 

Portanto, levando em consideração os três verbos de ação fundamentais, poderíamos esboçar três pontos iniciais para um projeto a ser desenvolvido.

 

Com a antecedência necessária para definir a equipe interna e externa envolvida, o início seria a escolha das opções sobre como dar oportunidade para criar ou recriar conhecimento, como debatê-lo e como prover o público-alvo com informações (novas, complementares, em multimeios) sobre o tema definido.

 

Volto à visita feita à biblioteca pública americana. Lá, pude presenciar  a cena de várias crianças pequenas, em torno de 4 a 6 anos de idade, sentadas em mobiliário adequado, em volta de uma grossa coluna estrutural do prédio, à frente de telas, onde assistiam a filmes de histórias infantis de sua predileção, num recanto próprio para sua faixa etária, mas não longe dos olhos de suas mães ou avós, que liam, conversavam entre si ou faziam algum trabalho manual, esperando pelas crianças.

 

Se fosse no Brasil – Em Garça-SP, por exemplo, muito forte em projetos culturais – poderíamos: a) proporcionar-lhes fantasias, espelhos e cenários variados, para que recriassem a história vista na tela ou que criassem uma história do seu imaginário, b) proporcionar-lhes o diálogo com especialistas em literatura infantil e fantástica, teatrólogos, psicólogos, pedagogos, etc., sobre as histórias apreciadas, c) oferecer-lhes mais informação sobre conteúdo semelhante do acervo, próprio ou coletivo, com a exibição de capas disponíveis, através de imagens, por meio de slides em “power point”, ou ainda, com a exibição de músicas que reproduzissem as histórias acessadas por outros meios.

 

Esses exemplos tão simples permitem que se tenha a possibilidade de vislumbrar aonde se pode chegar, numa biblioteca, no intuito de fazer circular a informação proporcionada pelo acervo para buscar gerar conhecimento/mais conhecimento para o usuário.

 

No início deste texto, falávamos da data comemorativa da Paixão de Cristo como possibilitadora de um projeto de Ação Cultural em biblioteca, na tentativa de agregar conhecimento religioso e cultural para o usuário, sobre o tema. No caso, sobre a data em si, sobre as mudanças de calendários, sobre aspectos históricos, religiosos, sociais, culturais e artísticos que envolvem a Sexta-Feira Santa, e o que nos toca, ainda hoje, dois mil anos depois.

 

Todavia, a pretensão deste texto é a de propor aos meus colegas que atuam em bibliotecas, arquivos e museus que pensem nas efemérides que ocorrem a cada dia do ano, que deveriam ser celebradas e poderiam ser objeto de um projeto de Ação Cultural, pois amanhã já não seria mais 6ª feira Santa e o tema seria outro.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior