MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

TODOS LEMOS, MAS NÃO LEMOS - 2

Eu, particularmente, não gosto de reler livros de ficção. Poucos foram aqueles que reli uma vez, raros os que reli duas ou mais vezes. Aconteceu com os livros de Monteiro Lobato: como estão sendo reeditados, surgiu a oportunidade de comprá-los e voltar a mergulhar no universo do Sítio do Picapau Amarelo.

 

O mesmo se deu com os livros de Júlio Verne. Lançados em bancas de jornais, comprei e reli alguns dos mais conhecidos títulos escritos por ele.

 

Poderia elencar alguns autores e livros que, por um ou outro motivo, voltei a me envolver com suas histórias, mas não é este o objetivo deste texto.

 

Relendo alguns livros de Monteiro Lobato, percebi que pouco me recordava das histórias. De alguns, lembrava-me do eixo central da história; de outros, nem mesmo isso. Um deles achei muito chato e não consegui entender como na infância havia gostado.

 

Hoje, em relação aos momentos da vida, sou outro. Tenho interesses, vivência, gostos, valores, preocupações diferentes daqueles que possuía na infância. Novidades na primeira leitura já não existem na segunda e menos ainda na terceira, na quarta, etc.

 

Com os textos técnicos ou especializados em determinadas áreas, a situação é semelhante, ou seja, as releituras são sempre diferentes das leituras primeiras.

 

Vamos acrescentar uma pergunta: todos leem um livro ou um texto da mesma maneira, ou melhor dizendo, todos leem a mesma coisa, apreendem, compreendem e se apropriam da mesma coisa?

 

A resposta é evidente: não.

 

Quando conversamos sobre um livro com outra pessoa que também o leu, os trechos e momentos destacados como importantes ou interessantes não são necessariamente, idênticos. O próprio entendimento do que é básico, do que é fundamental no texto, não é coincidente. Nem é preciso que o seja.

 

Temos, assim, algumas constatações: cada leitura é uma nova leitura; os leitores têm leituras diferentes; as apropriações não são idênticas; a leitura de um mesmo texto causa impressões diferenciadas em cada leitor.

 

Podemos afirmar que a leitura não se resume à decodificação do texto escrito. A decodificação é sempre a mesma, pois segue determinações já estabelecidas e do conhecimento de todos os alfabetizados. Mas, além da decodificação, a leitura pede e exige do leitor, a criação de significados que permitam a ele a apropriação do texto lido. No entanto, a criação de significados pressupõe uma relação entre o conhecimento específico individual do leitor, com as instigações propostas pelo autor. Não devemos nos esquecer também, que muitas instigações do autor não foram elaboradas conscientemente por ele.

 

Nenhum autor sabe como sua visão de mundo será compreendida, entendida, apropriada pelo leitor, pois essa apropriação será sempre dependente dos referenciais de cada leitor.

 

O conhecimento é construído individualmente, mas, embora parecendo paradoxal, sempre na relação com o mundo. Somos dependentes do mundo e dos outros. Assim, nossa leitura depende do mundo e dos outros.

 

Depois destas discussões, infelizmente rápidas, creio que afirmar que não lemos nunca, não trará surpresas ou estranhamentos. Não lemos, porque sempre lemos de novo, sempre temos uma nova e diferente leitura.

 

A primeira leitura é feita em um momento e o reflete. A segunda leitura do mesmo texto também é feita em um momento, outro em relação ao da primeira leitura e, da mesma maneira, o reflete. Idem para a terceira, para a quarta... Cada leitura é diferente, embora o texto seja o mesmo.

 

Podemos afirmar que lemos um determinado livro, um determinado texto?

 

A maioria das pessoas se assusta quando digo que não lemos. Quer dizer, lemos, mas não lemos.

 

Algumas questões surgem: se não lemos, para que ler? O que significa ler? Por que a angústia em ter tanto por ler e pouco tempo para isso? Quem lê muito sabe mais, é mais inteligente? Há uma relação entre conhecimento e quantidade de livros ou textos lidos?

 

Acho que será necessário ao menos mais um texto para refletirmos sobre isto.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.