MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

A ESCRITA EM SEU SENTIDO LATO

A palavra leitura normalmente nos remete para a ideia de um texto escrito. A palavra prendeu-se, envolveu-se, amalgamou-se com letras. Lê-se a reunião de letras em palavras, frases, sentenças, parágrafos etc. Essa é a concepção mais aceita, a compreensão de leitura presente no senso comum.

 

No âmbito da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, no entanto, o entendimento de “leitura” é mais amplo, abrangendo muito mais do que o texto escrito.

 

Já escrevi em outros momentos que o trabalho com a informação exige o interesse dos pesquisadores, dos estudiosos e dos que atuam nos espaços e equipamentos informacionais, com os quatro grandes segmentos da multimídia: o texto escrito, a imagem fixa, a imagem em movimento e o som.

 

Os suportes do texto escrito são por demais conhecidos: livro, periódico, jornal, textos em formato eletrônico, etc. Os suportes da imagem fixa são: a fotografia, o slide, as microformas, as obras de artes plásticas, os quadrinhos, a escultura etc. Por sua vez, os suportes da imagem em movimento abrangem: o filme, o vídeo. Ainda na imagem em movimento devemos acrescentar a leitura do outro, a comunicação não verbal. Esta última, apesar de ocorrer, na maioria das vezes, de maneira não consciente, também faz parte dos interesses e preocupações da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. Por último, os suportes do som: a música, o cd, o disco, as fitas de áudio etc. Devemos incluir ainda neste segmento: os ruídos e, em especial, a oralidade.

 

Há, claro, suportes que abrangem mais de um dos segmentos. Os suportes eletrônicos, por exemplo, podem integrar o texto escrito, a imagem fixa, a imagem em movimento e o som.

 

A leitura, quando considerada em todos esses quatro segmentos, é compreendida em seu aspecto lato. Lemos o conteúdo, o invólucro, o “corpo”, a materialidade de cada expressão individual dos suportes existentes nos quatro segmentos apresentados.

 

O texto escrito possui uma linguagem que lhe é própria. A leitura de um livro, por exemplo, exige determinados comportamentos – que podem ser transgredidos, mas essa é uma outra discussão –, determinadas atitudes necessárias para a compreensão do texto. Esses comportamentos e atitudes, apesar de exigidos, podem não levar ao entendimento do conteúdo. A leitura, no entanto, não está restrita apenas ao conteúdo do livro, mas também está vinculada ao que é extrínseco a ele. A capa nos atrai e pode criar, de imediato, antes mesmo de se abrir um livro, simpatia ou antipatia em relação a ele. O cheiro do livro é também uma leitura, assim como o é a quantidade de páginas, o tamanho da “mancha” de texto, o espaço entre as linhas, a fonte utilizada, o tamanho das letras, a intensidade da tinta, a existência de “orelha”, informações adicionais sobre o autor, momento em que a obra foi escrita etc. Há outras leituras mais subjetivas: quem faz a indicação, como se chegou ao livro, rapidez ou demora em conseguir o acesso ao livro, expectativas em relação à história ou ao conteúdo, interesses de momentos que podem ou não estar presentes no assunto abordado pelo livro etc.

 

Alguns podem entender que tudo o que foi apresentado além do conteúdo abstrato do texto apenas interfere, influencia na leitura, mas não se caracteriza como tal. A leitura, para mim, é a mescla, é a junção de todas essas “microleituras”.

 

Outro ponto a ser ressaltado e que a torna importante para a Ciência da Informação e para a Biblioteconomia: a leitura, em um conceito lato, é a única forma de apropriação da informação.

 

Até agora só falei da leitura e o tema principal deste texto é a escrita. Consta no título. Estendi-me um pouco nos aspectos relacionados à leitura pois são eles válidos, com algumas especificidades, também para a escrita. O entendimento da escrita, a exemplo da leitura, está vinculado, dentro do senso comum, exclusivamente ao texto escrito. Se o texto é “escrito”, logo tem relação direta com a “escrita”.  Existe também a escrita em vários suportes, físicos ou não. Escrevemos quando “fazemos” cultura; escrevemos quando deixamos marcas no mundo; escrevemos quando falamos para os outros, quando compomos uma canção, quando fotografamos, quando filmamos. Escrevemos quando declamamos uma poesia (e esta é uma escrita única, pois cada declamação é diferente da outra); escrevemos quando contamos uma história para nossos filhos, parentes, vizinhos, amigos, alunos, usuários. Deixamos nossa escrita quando criamos uma obra de arte, seja um quadro, uma escultura. Um filme sobre um livro não é só uma releitura, como normalmente consta nas críticas, mas é uma reescrita.

 

Como leitores, nós somos coautores, nós “coescrevemos” o texto.

 

A leitura não é única; a escrita também não é única.

 

Gravamos, grafamos no mundo nossos entendimentos, nossas concepções, nossas explicações, nossas compreensões, nossas crenças, nossas verdades. Marcamos a nós mesmos na memória dos outros, nos escrevendo.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.