MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

INTERNET, REDES E AÇÃO POLÍTICA

É voz corrente que a internet possibilita o acesso de todos à informação; que via redes podemos não só ter acesso, mas também nos expressar, partilhar ideias, concepções e entendimentos sobre qualquer coisa. Essa liberdade, ou pretensa liberdade, é chamada, pomposamente, de democracia da informação.

 

Creio estar claro que não compactuo nem comungo dessa visão, ao contrário, defendo a impossibilidade da liberdade plena, da democracia plena no mundo da cibercultura, pois também ela é dominada, também ela tem seus latifúndios.

 

A grande mídia impressa, televisiva e radiofônica estão entre os principais latifundiários, estão entre os que determinam as informações que circularão nesse espaço.

 

A dominação, além da apropriação dos, digamos, meios de produção ciberespaciais, dá-se em dois planos, o primeiro é o controle da circulação das informações e o segundo, a ilusão da democratização da informação.

 

Podemos publicar nossas ideias, concepções, entendimentos do mundo com poucas restrições. Para isso utilizo ou o aluguel de espaços nos hospedeiros de sites e portais, quase sempre pagos ou oferecidos como brinde opcional por provedores de acesso e/ou conteúdos, ou utilizo perfis nas redes sociais, em sua maioria gratuita e de fácil associação e acesso. Sou "dono" desses espaços, neles escrevo quase tudo o que quero (as restrições ficam por conta de pedofilia, incitação ao crime e outras coisas do gênero, além de interferências de alguns governos ou de imposições legais e judiciárias). Na maioria das vezes, escrevo para mim mesmo ou para um pequeno número de amigos ou colegas "de rede". Os escritos são curtos, intimistas, quase que um diário. O controle dá-se pela pouca abrangência e alcance do que escrevemos. O controle dá-se pela distribuição de seus escritos, de suas postagens, de suas ideias, opiniões, pontos de vista, etc. O "efeito" de sua escrita é praticamente nenhum, pois atinge um número ínfimo de pessoas.

 

Apesar de atingir uma quantidade restrita até mesmo do universo de meus amigos, tenho a impressão e a sensação de que sou livre para expor meus pensamentos, minhas posições, incluindo as políticas, para todo o mundo. Os que dominam o ciberespaço o fazem através da propriedade dos latifúndios informacionais virtuais e com a veiculação de uma falsa ideia de que a democratização da informação naquele espaço é possível e real. Enquanto todos, ou a maioria, acreditarem que a liberdade de expressão é possível e igualitária entre todos os internautas, o domínio se mantém e se consolida.

 

Nestes tempos em que acontecimentos políticos brasileiros se sobrepõem às outras temáticas, em que muitos são desinteressados ou possuem pouca preocupação com o desenrolar das atividades do Congresso Nacional e de ações do Judiciário e das mídias, enquanto outros se angustiam com a perspectiva de ver suas convicções e opiniões serem derrotadas, os que confiam na força das redes sociais a utilizam de maneira constante e exaustiva. O intuito é o de apresentar fundamentações aos que pensam de maneira contrária, tentando persuadi-los a abandonar as posições que defendem.

 

No entanto, em uma rede como o Facebook, por exemplo, a tendência é que seus usuários congreguem no rol de "amigos" ou dos que o seguem, majoritariamente pessoas de pensamento similar, de concepções próximas. O recurso de bloqueio, presente nessa rede, permite ocultar postagens dos que não advogam as mesmas ideias. Assim, quando veiculamos um pensamento, uma ideia, uma opinião ou replicamos e compartilhamos postagens de outros, quase sempre atingem um grupo de pessoas com um perfil semelhante ao nosso. O que isso significa? Que trocamos informações dentro de nossa "tribo" e com as quais nos identificamos. Essas informações, em uma parte significativa das vezes, são próximas ao que pensamos.

 

Usamos as redes sociais para nos congratularmos, nos regozijarmos quando nos vemos vencedores, ou para nos confortamos nas derrotas. As dores, as angústias, as raivas são amenizadas quando as "repartimos" com outros que também as vivenciam.

 

As redes têm um efeito catártico. No entanto, partilhar nossas crenças e verdades, apesar de ter uma abrangência restrita, também permite que outros percebam que não estão sozinhos, que muitos pensam como eles e que vale a pena lutar por essas verdades.

 

O alcance de nossas vozes é curto e restrito, na maioria das vezes, a pessoas que compactuam de nossas ideias; a democratização da informação, no ciberespaço ou não, é um engodo, uma balela, mais uma arma de dominação; no entanto, as redes sociais nos permitem conhecer colegas de pensamento, de crenças, nos permitem saber que não estamos sozinhos, nos dão a sensação de pertencimento a um grupo. Pelas redes sociais sei que o meu entendimento de mundo não é só meu; certo ou errado, ele é de muitos.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.