DESABAFO
Querida amiga Marília Ludgero, estou aqui comichando sobre o tema: livros gratuitos na internet. Não sei com quem falar e desabafo com você, como sempre.
Há uma campanha doida sobre liberdade total de acesso aos livros, total direito de cópia etc. A internet trouxe mudanças substanciais, lógico, na questão do livro. Mas, a meu ver, é maluquice pensar que algo disponível na internet está lá gratuitamente! Há uma equipe de produção de um livro, impresso ou eletrônico, onde eu, você e o Briquet, por exemplo, nos enquadramos. No caso do eletrônico, é preciso transformar o escrito em Word, ou qualquer outro programa, no editor de texto para impressão (em papel ou eletronicamente) - são programas caríssimos e altamente especializados, tanto para compra como para uso. Alguém sentou e escreveu; outro revisou; outro selecionou, outro revisou novamente, outro editou, outro passou para o editor de impressos - esta fase é imutável, para o livro ter seriedade. O que talvez acabe é a tipografia - mesmo o livro eletrônico pode ser impresso domesticamente, em papel. O custo baixa, mas não termina. Qual o resultado?
A cultura deixou de ser auto-sustentável (teatro, cinema, shows etc.) e vive às custas do governo, seja por meio de patrocínio direto, seja por meio da Lei Rouanet e outras. Agora o governo também vai pagar a conta da indústria editorial brasileira?
Outra questão, que me atinge diretamente: em um livro que custe (preço de capa), por exemplo, R$ 40,00, o autor ganha R$ 4,00; o editor fica, para todas as despesas, com R$20,00; o distribuidor e o livreiro dividem o restante - R$16,00 ou menos, com os descontos na compra etc. Todos têm custo. O menor é o do autor, que gasta seu tempo, seu conhecimento, a eletricidade e a conta da internet - durante vários meses até um ano. O editor paga a gráfica, o tradutor, o revisor, além de outros custos operacionais para manutenção da editora, e vive do tempo gasto com livros (selecionando, editando etc.) - que pode chegar a vários meses a cada título. O distribuidor e o livreiro pagam a manutenção do estoque, as compras sem certeza da venda, os custos operacionais para manutenção das livrarias etc. Os pequenos livreiros desaparecerão, certamente. Voltando ao início do parágrafo: será que o trabalho do autor não vale nem um sorvete? E, novamente, quem vai pagar a conta?
Penso seriamente em não mais escrever nada. Quem quiser, que aprenda.
Beijocas, desculpe as reclamações, ainda não coloquei vírgula antes do etc.
Eliane.