ORGANIZAÇÕES DO CONHECIMENTO


MÉTODOS DE PROSPECÇÃO E MONITORAMENTO INDUSTRIAL - III

Dando continuidade aos métodos e técnicas de prospecção industrial, neste texto será apresentado o método Delphi. O método Delphi ou método Delfos tem como objetivo obter um prognóstico do futuro, por meio de um grupo de especialistas e através de procedimentos formais. As diferenças de opiniões não são discutidas abertamente, evitando desse modo, confrontos e influências de qualquer natureza. Este método foi desenvolvido por Olaf Helmer e Theodore J. Gordon da Rand Corporation, no estado da Califórnia, Estados Unidos, na década de 50. O nome do método refere-se ao oráculo situado na cidade de Delfos na antiga Grécia(1).

No contexto da inteligência competitiva organizacional (ICO) o método Delphi pode ser definido como "Um método de previsão do futuro que alcança de forma sistemática o consenso entre especialistas sobre temas complexos do tipo qualitativo"(2).

Realizar prospecção industrial utilizando-se do método Delphi, propicia à organização um conjunto de informações, e que analisadas pelos especialistas, determinam condições futuras de diferentes naturezas, assim como possibilitam definir estratégias de ação para o enfrentamento dessas condições, sejam positivas ou negativas.

Este método é realizado por meio de um processo estruturado e sistematizado, envolvendo especialistas (mínimo sete) altamente qualificados, cujo anonimato é importantíssimo. A escolha dos especialistas que farão parte da aplicação do método é muito importante, exige atenção, por parte dos selecionadores, de aspectos como: formação, função, atividades exercidas, experiência prática, conhecimento teórico, conhecimento de mundo etc.

O método Delphi tem natureza qualitativa e é gerenciado por uma equipe coordenadora. O trabalho é realizado virtualmente, e ocorre de forma organizada. É um método considerado bastante flexível, porque permite a mudança de opinião entre os participantes durante sua aplicação, além de conferir aos participantes mais tempo de reflexão. Tem como características básicas: a) anonimato dos participantes; b) interação entre os participantes quanto às opiniões convergentes e divergentes; c) heterogeneidade dos especialistas.

É importante mencionar que o método dá maior liberdade aos participantes, uma vez que a pressão é menor. No entanto, este método quando não tem um bom gerenciamento por parte da equipe coordenadora, pode ser desastroso, como exemplo pode-se citar: falta de respostas por parte dos especialistas participantes, falta de entendimento, por parte dos especialistas, quanto às questões práticas do método, falta de recursos tecnológicos (tecnologias da informação) para o processamento das informações.

O método conta com as seguintes etapas básicas:
a) Definição do problema(s)/fenômeno(s);
b) Definição dos especialistas participantes;
c) Definição da equipe gestora;
d) Definição da equipe consultiva;
e) Construção do instrumento de coleta de dados (questionário);
f) Envio do questionário para cada um dos especialistas participantes, via ambiente eletrônico;
g) Realização da primeira enquête;
h) Análise estatística da primeira enquête;
i) Identificação dos pontos consensuais do grupo de especialistas participantes;
j) Envio de formulário com os pontos consensuais do grupo, fazendo nova enquête;
k) Análise da segunda enquête;
l) Pode-se trabalhar com quantas enquêtes forem necessárias, de forma que o resultado final seja de fato, o conjunto do pensamento dos especialistas participantes;
m) Elaboração do relatório final: é composto pelo prognóstico sobre o(s) problema(s)/fenômeno(s) inicial(is), e pode conter informações adicionais, produzidas pelas análises realizadas no material obtido dos especialistas, como por exemplo: análises estatísticas, séries históricas, comentários, sínteses, prognósticos alternativos etc.

É importante que as pessoas que comporão a equipe gestora sejam capazes de realizar análises e elaborar informações com valor agregado. Os especialistas devem ser informados claramente dos objetivos do método Delphi, assim como devem possuir uma visão de futuro aguçada, criatividade e motivação para participar. Em relação à equipe consultiva é importante observar as seguintes características nas pessoas participantes:
a) Conhece o problema por meio de informações (jornais, livros, revistas);
b) Tem visão crítica a respeito do problema;
c) Tem familiaridade com o problema;
d) Já vivenciou este tipo de problema;
e) Pesquisa e estuda este problema;

A equipe coordenadora deve elaborar o instrumento (questionário), observando:
a) Clareza nas questões formuladas;
b) As questões, em relação umas as outras, devem ser autônomas;
c) Os termos utilizados devem fazer parte do jargão daquela área/negócio;
d) As hipóteses e variáveis devem estar em sintonia com as possibilidades e perspectivas futuras.

Pode-se trabalhar com diferentes variáveis. Como exemplo pode-se citar:
1. Nível: de conhecimento, de competitividade etc.;
2. Grau de: importância, estratégico etc.;
3. Impacto: qualidade de vida, emprego, questões sociais, meio ambiente etc.;
4. Limitações: tecnológicas, legislativas, econômicas etc.;
5. Recomendações: de cooperação, de interação, fiscais etc.

A prospecção industrial é fundamental para o processo de tomada de decisão no ambiente corporativo, assim como possibilita maior segurança na direção a ser seguida na busca de vantagem competitiva.

___________________________________

1 ASTIGARRAGA, E. El método Delphi. San Sebastian: Universidad de Deusto, s.d.

2 MORATO MURILLO, A.; FERNÀNDEZ GÜELL, J. M. Metodologias de prospectiva tecnológica industrial. Curitiba: UNINDUS : OPTI, 2004.


   534 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
MÉTODOS DE PROSPECÇÃO E MONITORAMENTO INDUSTRIAL - IV
Abril/2005

Ítem Anterior

author image
MÉTODOS DE PROSPECÇÃO E MONITORAMENTO INDUSTRIAL - II
Fevereiro/2005



author image
MARTA LIGIA POMIM VALENTIM

Professora Titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pós-Doutorado pela Universidad de Salamanca (USAL), Espanha. Livre Docente em Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional pela Unesp. Docente de graduação e pós-graduação da Unesp, campus de Marília. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Líder do Grupo de Pesquisa "Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional". Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp, campus de Marília, gestão 2017-2021. Presidente da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), gestão 2016-2019.