LITERATURA INFANTOJUVENIL


DE TANTAS TIAS PARA TIA-AVÓ

Sou oficialmente tia desde o nascimento da Ticiane em 1980. Depois veio a Ariele (1982), o Rafael (1986), o Pedro (2001) e o Tiago (2006). Essa é uma cronologia que tem origem familiar, pois estes são filhos das minhas irmãs Silvia e Solange. Porém, em 2018, virei tia-avó da Laura, que veio da barriga da minha primeira sobrinha Ticiane. Que alegria! 

Antes de falar da Laura, quero dizer que fui chamada de tia desde os tempos em que dava aula na Pré-escola na década de 80. Além disso, sou chamada de tia pelos filhos das minhas primas e primos; pelos sobrinhos dos meus cunhados; pelos filhos de muitos amigos e até familiares de familiares. Já perdi a conta! 

Começo a escrita dessa Coluna na véspera de Natal e entre as mensagens de áudio que recebi, foi a do André (que hoje já tem netos) e continua me chamando de tia susu.

Destaco também que quando tínhamos a Livraria Maluquinha, por exemplo, as crianças me chamavam de tia maluquinha e recentemente reencontrei uma delas, já adulta. Rimos porque ela me contou que até os colegas da sua escola, que não me conheciam, me chamavam de tia maluquinha e sabiam que eu lia histórias pra ela todos os sábados de manhã na livraria. 

Sempre gostei disso. Sempre gostei de ser tia de tantas e tantos que até fiquei pra titia. Por isso quando encontrei, em 1997, o Ziraldo (meu eterno ídolo) em um evento em Curitiba e ele me perguntou se tinha visto o meu nome no verso da folha de rosto do seu livro Tantas Tias, tontiei!. Claro que ganhei mais um autógrafo, mas este foi especial, pois de fato carimbou essa minha especial e eterna função, ser tia.

Então quando a Laura, minha sobrinha-neta nasceu, automaticamente fiz uma varredura na minha memória e lembrei de cada tia que tive e tenho. Vou falar apenas das que ainda tenho fisicamente ao meu lado (plagiando Rolando Boldrin aquelas que não partiram – antes do combinado (isso mesmo, tia faz falta na vida da gente). 

Constatei que ainda tenho a tia Augusta, única irmã da minha mãe; e, veja tenho três tias Maria - tia Maria esposa do irmão do meu pai – Isidoro, tia Maria e a tia Cida (Maria Aparecida), respectivamente, esposa do tio Moisés e do tio Waguinho. 

Nessa viagem biográfica volto a infância e da tia Augusta lembro das histórias de assombração que assustavam, mas divertiam. Da esposa do tio Doro recordo da vida dura na lavoura e a dedicação para alimentar uma família numerosa. Tia Maria do tio Moisés envolvida com as causas espirituais e a tia Cida (que também é prima) fazendo casinhas de tijolo para brincar com a gente e que agora temos longas conversas a respeito de política (mulher também entende de política gente!). 

Voltando a falar da Laura, ela nasceu em julho 2018. Em um dia de muitas expectativas, além da mãe, do pai, das avós, dos avôs, da tia, do tio, tio e tias-avós, primos e primas, havia uma torcida de amigos conectados. Laura nasce, de repente, um silêncio se instala e a notícia não esperada é proferida pelos médicos: “Laura tem uma síndrome e é uma criança incompatível com a vida” (isso está no prontuário). Inabilidade total da equipe do hospital ao comunicar isso aos pais.

O silêncio é quebrado novamente: choro, lágrimas, descrença e uma tristeza nunca vivida. Hoje que sou tia-avó, tenho certeza da capacidade das crianças em nos ensinar. Laura cresceu, engordou, está aprendendo a sugar o leite no seio de sua mãe (que por excesso e qualidade doa para um hospital de nossa cidade). Já reconhece as vozes da mãe, do pai, da vó e do vô, para eles esboça sorrisos tímidos. Suas conquistas diárias são transmitidas por whatsapp para tia Ariele que mora em São Paulo. Eu e a tia-avó Solange (irmãs da vó da Laura), telefonamos ou passamos todos os dias para perguntar para Laura como ela está. Laura é guerreira e faz nossa vida mais pulsante.

Mas o que isso tem com a literatura infantil, tema dessa Coluna?

Pensando na minha condição de tia-avó, volto ao livro do Ziraldo (homem guerreiro que apesar de hospitalizado grava, nas eleições de 2018, entrevista em defesa da democracia brasileira, mas isso é uma outra história). Nesse livro reencontro a Tia Maria de Ziraldo (e me identifico). Fico mais feliz quando me sinto representada pela personagem tia-avó da página 14.

A minha mãe tinha uma tia-avó
e, para mim, mamãe sempre dizia:
a tia-avó é muito mais que avó
e
, certamente, é muito mais que tia.

A tia é tia. E basta: é tia só.
E mesmo a avozinha é só avó.

Se ser tia é bom, esta avozinha
multiplica por três tal alegria;
p
ois além de ser tia da sobrinha
é tia de uma mãe ou de uma tia.

Se o verdadeiro amor de uma avó
é bem maior que toda a fantasia
de quem pensa que ama; e se o xodó
maior que tem no mundo é o da tia,
de que tamanho será que teria
de ser o coração – me digam só –
daquela avó que é avó e tia,
daquela tia que é tia-avó?

O leitor deve estar pensando e tio? Não vai falar de tio e de tio-avô?

Atualmente só tenho fisicamente tio Waguinho (Wagno) e com ele converso muito sobre a história de Londrina e fotografia (ele é fotógrafo desde que eu me entendo como gente). Quando vemos ou falamos de fotografia, percebo que esta é uma das razões de sua vida longeva.

Preciso ainda falar do tio Rafael, tios-avôs Nelson e Arley (que não são meus, mas são da Laura) e aproveito para retomar a fala dos Editores do livro Tantas tias – “A tia é o melhor amigo do homem enquanto o homem é criança”. E como são os tios de uma menina? Os outros eu não sei, mas tio Rafael (que também espera um bebê) e tio-avô Nelson olham e colocam Laura nos braços com firmeza e leveza. 

Compreendem essa dubiedade?!

Sugestões de leitura:

ZIRALDO. Tanta tias. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

ZIRALDO. Tia te amo. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

ZIRALDO. Tia nota dez. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

Em 2012 os textos destes três livros foram reunidos em O grande livro das tias.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.