Tornei-me aluna em Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) a partir da informação de que se lia muito para o curso em questão. Ninguém me disse, então, que eram livros técnicos, muitas vezes... mas me interessei pelo conteúdo programático e logo percebi que o profissional dessa área precisaria, mesmo, ler muito. Afinal, como tratar a informação adequadamente sem conhecer ao menos um pouco do assunto e, mais importante ainda, como bem atender o usuário sem ler? Não podia prever que, meses depois de formada, em 1982, estaria trabalhando com livros raros na Biblioteca Nacional, cujo acervo dos séculos XVI e XVII, impresso em várias línguas, e a presença de usuários especializados exigiriam contato com áreas do conhecimento ainda desconhecidas da jovem bibliotecária.

Adquiri o hábito de leitura em casa, sempre incentivado pelos familiares. Na adolescência, lembro-me de ter sido sócia do Círculo do Livro. Muitos títulos de capa dura passaram por minhas mãos, como A Cidadela, de Cronin, que me marcou pela questão da ética na Medicina e o problema das minas de carvão para a saúde. Não o reli até hoje; outros o deixaram para trás. A melhor lembrança da década de 1970, no entanto, é a de ter tido a sorte de conhecer Machado de Assis por meio da professora certa. O autor é meu preferido até hoje.

Apesar de ser leitora constante (mais lenta do que gostaria), estou certa de que jamais conseguirei me satisfazer o suficiente. A vida é curta; os afazeres, muitos; e os livros, adoravelmente instigantes e infindáveis.

Valeria Gauz - Bibliotecária – Rio de Janeiro / RJ