GERAL


JEFERSON TENÓRIO


Sobreviver era nossa prioridade. Nesse tempo, os livros não tinham chance com a gente. A vida era mais urgente que a ficção.

Nasci em Madureira, no Rio de Janeiro, em 1977, ainda em plena ditadura militar. Convivi parcamente com os livros. E os poucos que apareciam em casa cumpriam um papel secundário e decorativo ou ajudavam a calçada o pé quebrado de uma mesa. A precariedade era nosso único bem.

Fui um leitor tardio porque passei a infância e a adolescência procurando, com minha mãe e minha irmã, modos de sobreviver com dignidade. Não tive muitos brinquedos, o que exigia de mim o maior esforço imaginativo para transformar tampinhas de cerveja, de refrigerante, pedras e caixinhas de papelão em brinquedos. Nessa época, éramos acometidos pelo preconceito e pelas violências de um racismo sistemático e estrutural, mas não sabíamos disso. Achávamos que tudo era muito natural e que a vida era assim porque tinha de ser.

Eu tinha 22 anos quando li pela primeira vez um livro inteiro. Era o Feliz Ano-Novo, de Rubem Fonseca. Foi um acontecimento. Até aquele momento a literatura era incompatível com a minha vida. [...] Então, de certo modo, Rubem Fonseca aproximou minha vida da literatura, pois a miséria, a angústia e a dignidade daqueles personagens eram também as minhas. (p.66-67)


Fonte: TENÓRIO, Jeferson. As confissões de um romancista negro. In: Estudos negros: textos contemporâneos. Porto Alegre: TAG – Experiências Literárias, 2021. 143p. p.65-75.

   249 Leituras


Próximo Ítem

author image
TERESA CÁRDENAS ÂNGULO
Janeiro/2022

Ítem Anterior

author image
DJAMILA RIBEIRO
Dezembro/2021



author image
OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.