Comecei a ler ainda muito pequena, por volta dos cinco anos, por incentivo do meu pai. Seu Joaquim gostava de ler para mim e meus irmãos e regularmente nos presenteava com livros. Lembro que, aos oito anos ganhei do meu pai o famoso As roupas novas do rei, clássico do dinamarquês Hans Christian Andersen. Na dedicatória, datada de 10 de dezembro de 1988, ele escreveu: “Para minha filha de Djamila Tais, por seus merecimentos”. Eu havia passado de ano direto, sem recuperação. Meu pai sempre me incentivava a seguir estudando, com livros, idas ao teatro ou me colocando para aprender xadrez. Nesse sentido, tive uma infância privilegiada, rodeada de histórias, fantasias e celebrações. Em dias frios, nos seus momentos de folga, meu pai se sentava em uma cadeira coberto por uma manta xadrez, enquanto eu e meus irmãos nos sentávamos aos seus pés, também enrolados em cobertas, ouvindo atentos as histórias de Sherazade. Tempos depois, com a situação financeira difícil, As mil e uma noites passou a ser usado para amparar uma estante velha na sala, na impossibilidade de comprar uma nova. Meu pai tinha outra estante velha e repleta de livros em seu quarto. Fomos obrigados a ler a biografia de Malcolm X até ele chegar, certo dia, com o advento moderno da época, o aparelho de vídeocassete, que nos fascinou e fez com que preferíssemos assistir às duas fitas de filme sobre o grande ativista estadunidense.

Na adolescência, Machado de Assis também foi leitura obrigatória, bem como os livros de filosofia. Meu pai me tirava nota de O príncipe, de Maquiavel. Durante os outros anos em que fui espírita, eu lia, por opção, todos os livros de Chico Xavier que encontrava. (p.45-46).