TERESA CÁRDENAS ÂNGULO
No princípio, apesar de tudo, foi a leitura
Meu fascínio pelos livros teve início assim que aprendi a ler. Cada nova palavra me alimentava profundamente. Dia a dia, letra a letra, conquistava o desconhecido. Aos seis anos, comecei a caminhar pela primeira vez sem fronteiras ou regras. Eu me senti poderosa, e aquela sensação de vitória ainda perdura.
A leitura foi e continua a ser uma excelente aliada, uma companhia leal a qualquer hora do dia. Quando criança, eu não era de muitos amigos, então ler era meu parquinho de brincadeiras, meu refúgio tranquilo quando não gostava da realidade à minha volta. Lendo sentia segurança e ao mesmo tempo inquietação, aprendia de tudo, conseguia me surpreender, ria e não raras vezes derramava lágrimas. Eu era uma garota muito fantasiosa, era literalmente capaz de visualizar os personagens, as histórias, podia tocá-los, cheirá-los. Minha casa era apenas um pequeno cômodo, onde meu irmão mais velho, minha mãe e eu morávamos. Naquele corredor havia oito famílias e todos nós dividimos um único banheiro. As conversas dos vizinhos, as brigas, os momentos íntimos, eram filtrados pelas paredes. Cozinhávamos com carvão, o teto ficava manchado de fuligem, uma única lâmpada de luz dourada iluminava a cozinha. Eu lia quase no escuro. Escapava daquele quartinho para entrar em histórias onde as pessoas viviam na floresta ou em castelos com grandes janelas por onde entrava o sol ou em casas com enormes escadarias, quadros nas paredes e lustres com mil luzes. Não costumava brincar fora de casa. Eu era uma garota velha. Enquanto as outras crianças do meu cortiço passavam o tempo “zanzando”, brincando, brigando, andando de bicicleta, eu gostava de ler dois e às vezes até três livros ao mesmo tempo. (p.15-17)