PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: FORTALECIMENTO E INTERCONEXÃO DAS ENTIDADES DA BIBLIOTECONOMIA E INFORMAÇÃO

Em 1954 foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia. Nos  seus primeiros anos de realização esse evento teve a força de agregar discussão sobre as questões de interesse dos profissionais e da profissão de bibliotecário. Adquiriu o sentido de um parlamento a partir do qual os bibliotecários brasileiros olhavam o passado e o presente para pensar sobre como construir e o que ter alcançado no futuro. Dessa maneira, todos os temas mais evidentes no momento de sua realização eram objeto de apreciação.  Mas esse parlamento foi sofrendo desgaste ou ajustando-se à multiplicação dos interesses e, assim, foi perdendo o seu papel de centro de análise e difusão de ideias construtoras. Temos visto, então, que nos últimos 43 anos o  movimento de caráter fragmentador que se tornou dominante no universo biblioteconômico brasileiro não garante a existência de um ambiente em que se possa integrar uma visão de conjunto desse todo.

 

Chamo de universo biblioteconômico ao conjunto de pessoas que portam a profissão de bibliotecário, suas práticas, as entidades que constituíram para o ensino na graduação e na pós, defesa e regulação profissional, bem como a todos os conteúdos formativos, documentos científicos e normativos que produziram e produzem. Isto quer dizer que creio ser este um universo complexo. No entanto, percebo que a fragmentação que se produziu nessas pouco mais de quatro décadas tem demonstrado a acumulação de dificuldades que, no todo, não beneficiam esse mesmo  universo biblioteconômico brasileiro. E, no caso, tais dificuldades também não aumentam o beneficio para as comunidades usuárias dos serviços bibliotecários.

 

Olhando-se os acontecimentos, verifica-se que a primeira ruptura deu-se com a criação da Associação Brasileira das Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD), em 1967. Essa iniciativa operou no sentido de especializar uma discussão que, até então, envolvia a todos os bibliotecários, particularmente, no âmbito do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD). Em seguida, em 1972, criou-se o Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia e Documentação (ENEBD), uma subespecialização do discurso escolar da Biblioteconomia. Em 1978  deu-se início à série de eventos “Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias”  (SNBU), inicialmente como parte das atividades da Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitária (CBBU), uma das comissões técnicas da Federação Brasileira de Associações Bibliotecárias (FEBAB). Em 1989 surgiu a (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia (ANCIB), fato que se deu pela dificuldade da ABEBD conciliar e implantar sua proposta de formar uma Câmara de Graduação e outra de Pós-Graduação em seu ambiente institucional. Em 1994 foi realizado o primeiro Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação e Biblioteconomia.

 

Das deliberações, indicações e apontamentos de estratégias futuras geradas nesses eventos pouca coisa se faz para integrar em espaços comuns de discussão e deliberação mais ampla, compondo uma posição integrada e, por isso, potencialmente mais forte, que reverta significativamente para a sociedade. Cada entidade, ao final de “seu” período de discussão e debate, que pode ser anual, bienal, trienal ou sem qualquer prazo, se contenta em que alguns dos seus pares, a maioria dentre os que compareceram aos respectivos conclaves, tenham idéia das conclusões formuladas. O máximo de realização fica por conta de que o debate foi feito, pessoas compareceram, captou-se algum recurso suficiente para pagar as contas do evento, prestou-se contas e pode-se dormir em paz até a próxima edição ou, algumas vezes, ainda se tenha que buscar auxílios para o fechamento de contas a saldar. A repetição disso, espelha, para além da fragmentação das entidades e de seus eventos, o estilhaçamento dos temas e uma certa despreocupação com a sociedade em volta, tanto no que esta vai reforçando como distanciamento e menos valorização das várias frentes do campo profissional, quanto pela angústia dos agentes dessa fragmentação em ampliá-la ainda mais, justificando que isso representa um esforço necessário para superá-la.

 

Evidentemente que essa fragmentação tem alguma relação com o crescimento econômico e com a mobilização social brasileiras e, de certo modo, sofreu limitações decorrentes do modo como são estabelecidas as políticas públicas no pais, mas tem muita relação com o temperamento patrimonial, patriarcal e da cordialidade brasileira, da forma como essa cordialidade foi interpretada por Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”.

 

Em que pese essa tradição ou temperamento que explicam as razões pelas quais  as coisas são deixadas ao acaso e ao “Deus dará”, há nos últimos anos certa predominância de um discurso - nem sempre coerente mas usual nos Cursos de Biblioteconomia e nos Departamentos de Ciência da Informação de várias universidades brasileiras - que entroniza os fundamentos da Gestão da Informação como centrais nos conteúdos formativos dos bibliotecários. Por esse discurso, os bibliotecários (vulgos profissionais da informação) sairiam preparados para a realização de práticas profissionais de alto nível e com responsabilidade ética e social. Se isso, de verdade, fosse isso mesmo seria somente maravilhoso. Mas isso é isso mesmo? Apostemos que sim, é isso mesmo!

 

Feita a aposta, desafio as entidades que se desmembraram ou foram criadas pela iniciativa e esforço da FEBAB, isto é, CFB e CRBS, CBBU, ABECIN (a sucessora da ABEBD) e ANCIB a, juntamente com a mesma, planejarem e executarem um grande evento em que suas deliberações individuais tiradas nos conclaves que realizaram nesta primeira década do século XXI sejam sistematizadas  e discutidas com a finalidade de resultar numa proposta de política nacional de bibliotecas e informação. Uma proposta de base, que poderia ter a força aglutinadora capaz de mostrar para a sociedade que existimos e, mais que isso,  somos capazes de assumir posições política e socialmente responsáveis.


   459 Leituras


Saiba Mais





Sem Próximos Ítens

Sem Ítens Anteriores



author image
FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB