O BRINCO DO BIBLIOTECÁRIO
Adaptação Fernando Modesto
A biblioteca, em qualquer que seja a instituição em que esteja alocada, é um espaço tradicionalmente conservador. Conservador no sentido de não apresentar nada que possa constranger ou causar mal-estar no público usuário de seus serviços.
Aliás, este aspecto não se restringe apenas ao ambiente físico e mobiliário de um serviço de informação mas, também, se refere às pessoas que ali trabalham desenvolvendo suas funções de auxiliares, técnicos e bibliotecários.
O cuidado com a aparência é essencial ao bibliotecário pois agrega segurança na transmissão e circulação das informações. Pode parecer um despropósito tal consideração, mas as pessoas observam os seus fornecedores em todos os detalhes, o produto pode ser bom mas se o fornecedor for desleixado isto terá implicações na avaliação da qualidade pelo cliente.
Assim, foi que se deu o fato ocorrido em uma biblioteca. O bibliotecário de referência sempre observador, repara que seu colega, também bibliotecário, e até então tido como muito machista nas suas atitudes e posicionamentos, estava usando um brinco.
Achou estranho e até pensou em não perguntar, para não passar por intrometido, mas era estranho demais para um colega conhecido por suas ideias e as peculiaridades do seu trabalho em uma biblioteca que lidava com juristas.
Ele se aproximou do colega discretamente, para não chamar a atenção das pessoas na seção, e em tom baixo comentou:
– Não sabia que você gostava deste tipo de coisa?
– Que coisa? – indaga o colega fazendo aquele ar de desconhecimento.
– O brinco! Você está usando um brinco, o que é isto cara!
– Não é nada especial, é apenas um brinco. – Replicou o colega.
– Como não é nada especial, é um brinco tipo pingente balançando na sua orelha. Desde quando você está usando ele?
– Desde que minha mulher o encontrou no meu carro.
Moral da história: o profissional machão tem que ser macho até nos erros cometidos, ainda que o brinco não combine com a roupa.