BIBLIOCONTOS


A BIBLIOTECÁRIA, A SOGRA E O CAMELO

Diz-se que todo homem quando solteiro é de livre acesso, até casar-se com uma bibliotecária, quando se torna de acesso restrito.

 

Bem, no seu caso, após 25 anos de estável união, queria comemorar a simbólica data com algo diferente. Propôs a mulher uma viagem diferente, quem sabe exótica. Afinal, pesava ele, estavam por merecer há algum tempo, em especial ela que só vivia para as rotinas do seu trabalho na biblioteca.

 

No setor de referência, discutem o destino sem chegarem a um acordo. Para definir o empate conjugal, ele que não era bibliotecário toma um atlas, e decide:

 

O país que meu dedo apontar será nosso destino e ponto final!

 

A esposa ainda ponderou que ele não tinha experiência com “busca de informação” e poderia “machucar o dedo”. Ele se fez de rogado, fechou os olhos folheou o atlas e “apontou” com o indicador. Deu Marrocos.

 

Um dia de viagem (entre vôo, aeroporto e conexões), chegam ao destino. Sol, calor e uma língua estranha, tudo bem. Paisagem diferente, melhor ainda. Após descanso no hotel e passeio pela cidade de Marrakech, eles são levados às compras. Afinal, toda cidade, por mais exótica, tem seu comércio turístico.

 

Andam de lá pra cá, até pararem em uma loja de roupas típicas. Alguns minutos, e a bibliotecária comenta com o marido. 

 

Valdo! Percebeu que aquele senhor nos está encarando. Será que pensa que vamos roubar.

 

Imagina, como somos turistas olha pela curiosidade.

 

Ao tempo que o senhor se aproxima do marido e lhe pergunta algo. O marido responde-lhe que só fala português ou espanhol. Ao que o senhor lhe retruca:

 

Me gustó la chica quiere vender, le doy cinco mil camellos.

 

O marido olha espantado para o homem, imagina trocar a mulher por camelos. É uma proposta desbaratada. Toma a esposa pelos braços, e sai da loja a passos largos. Ela sem entender o que ocorre, questiona o ato, justo no momento que se definira por um item.

 

No ônibus, já de volta ao hotel, ele conta o caso ao guia. Este lhe responde que ainda há tradição antiga entre alguns, de comprar mulheres. E cinco mil camelos é uma fortuna. Neste instante, a curiosidade desperta na mente do marido que indaga ao guia quanto custa um camelo. O guia lhe informa que, em média, um bom camelo pode valer até dois mil euros (o dólar está mesmo em baixa).

 

O marido toma um susto sobre o valor da sua mulher. Pensar que no Brasil dão uma merreca pelo trabalho de bibliotecário. Volta ao Brasil pensativo. A esposa lhe indaga o que acontece, ele desconversa. Aos amigos de copo-e-cerveja diz que perdera uma fortuna.

 

Consigo mesmo, pensava em por a sogra no negócio. Daria uma repaginada na coroa. Ademais, ela era viúva e bibliotecária aposentada, mas bibliotecária. E no Marrocos não iam pedir registro no CRB. Quem sabe a competência enriqueceria a valorização do produto. Pela sua lógica, se a sua mulher valia cinco mil, a sogra daria por baixo uns dois mil. Uma grana razoável. E feito o negócio, o problema não seria mais seu, e sim da sogra e do comprador. Eles que resolvessem com Alá.

Autor: Fernando Modesto

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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.