OBRAS RARAS


LIVROS PEQUENOS NUM GRANDE MUNDO

Como se sabe, um livro pode ser considerado raro por vários, inúmeros motivos. Tanto seu conteúdo quanto sua forma física podem ser determinantes para que o exemplar (ou edição) seja colocado na prateleira especial com outros afins.

 

Idade, (in)freqüência com que aparece no mercado, conteúdo, marcas de propriedade, tipo de encadernação, todos esses e outros motivos aquecem um mercado que só faz crescer a cada dia. Livros que não foram raros ontem o são hoje, e assim caminha a humanidade, evoluindo, mudando, reconsiderando critérios e transformando em raros livros que, talvez, na época em que foram concebidos por algum impressor, em alguma parte do mundo, fossem apenas... livros (claro, não menos importantes).

 

Há livros que nascem pequenos e há os que se tornam pequenos. Os que são conhecidos como livros em miniatura têm, aproximadamente, 7.62 cm, ou seja, 3 polegadas, em altura, largura, ou comprimento. Fora dos Estados Unidos, outros colecionadores consideram os livros um pouco maiores como miniaturas. O por quê de serem confeccionados nesse formato? Curiosidade? Praticidade? Estética? Uma brincadeira entre o impressor e o encadernador dos primórdios da impressão? É certo que tamanho e custo eram fatores importantes no final do século XV, quando se viajava muito, e sem conforto.

 

Tudo, na realidade, começou bem antes da época dos livros impressos. Já havia pedaços de barro na Babilônia, com escrita cuneiforme minúscula, de menos de 2 polegadas. Na China, idem. Como dizem alguns autores com muita propriedade, foi lá que a tipografia foi desenvolvida muito antes de imigrar para a Europa, e foi lá que surgiu a primeira impressão em papel medindo 7 cm de largura. Conhecido como D'harani, o livrinho de orações foi confeccionado para uma nobre japonesa difundir o Budismo em seu país, com tipos de madeira, no ano 770 (nos informa Julian Edison, famoso colecionador americano desses livros). Alguns manuscritos medievais foram igualmente escritos em formato bem pequeno. 

 

O assistente e sucessor de Gutenberg, Peter Schoeffer, imprimiu o que pode ser considerado o primeiro livro de bolso da Europa. Seus fragmentos estão localizados na Bibliothèque Nacional de France. O famoso impressor italiano Aldo Manucio, um homem de saber reconhecido, foi o mais importante impressor de sua época e, se não me engano, também imprimiu livros em miniatura. Os livros de sua época serviram a diversos propósitos, como ensino, religião, política ou propaganda. Ao longo dos séculos, e por várias razões, os livros em miniatura continuaram a ser editados. Os London Almanacs, por exemplo, foram belamente impressos por mais de 200 anos, apesar de serem encadernados em tamanhos diferentes, desde que fossem menores do que 2 polegadas. 

 

No início do século XIX eles também estavam em voga na Alemanha e na França, principalmente usados como presente. Nos Estados Unidos, o primeiro manual sobre contracepção para jovens casais foi publicado em miniatura e anonimamente em 1832. Numa época muito puritana o autor, claro, foi descoberto, preso, julgado, e seu livro, claro também, tornou-se a bíblia do movimento de controle de natalidade (hoje só existem duas cópias da primeira edição). Enfim, até Hitler editou livros em miniatura. E já vi na Biblioteca Nacional do Brasil um livrinho menor do que os aqui citados.

 

A paixão de colecionadores, bibliotecários, artistas, etc. pelos livrinhos levou à criação da Miniature Book Society, uma organização internacional sem fins lucrativos criada em 1983. Seu objetivo é manter o interesse das pessoas na causa, em qualquer e todas as suas etapas de confecção. Fazem reuniões anuais, leilões, exposições itinerantes, conferências, concursos, lista no Yahoo Groups, etc. O mundo é tão frequentado que há até um jornalzinho para os aficcionados: o Miniature Books News. A Lilly Library, em Indiana, EUA, fez uma exposição há poucos anos entitulada “4000 anos de livros em miniatura” com quase mil deles.

 

Ano passado lembro de ter lido notícia de um livro sobre Harry Potter que foi feito em miniatura pela autora, manuscrito. Um evento beneficente na Inglaterra o vendeu em leilão por quase 20 mil euros. Como se vê, as miniaturas são um mundo enorme.

 

Não conheço o universo brasileiro de livros em miniatura, nem colecionadores, mas adoraria ter informação a respeito.

 

Até a próxima!


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.