GESTÃO EMPRESARIAL NA ERA DA INFORMAÇÃO


ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO NOS AMBIENTES VIRTUAIS DAS EMPRESAS COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO

Durante a fase de pesquisa para desenvolvimento da minha dissertação de Mestrado, bem como para a tese de Doutorado, realizamos algumas avaliações -ainda que não fosse o objeto fim desses trabalhos- quanto a estrutura dos websites de empresas com capital aberto. Nessa última pesquisa, avaliamos apenas uma das dimensões que fazem parte de todo o contexto que envolve a estruturação desses ambientes, ainda assim, durante esse pequeno levantamento pude observar as particularidades e importância, muitas vezes relegada, de uma boa estruturação para esses ambientes de modo que o acesso às informações seja eficiente. Entendo como sendo acesso eficiente aquele que possibilita ao usuário a apropriação da informação e construção de conhecimento.

 

Naturalmente, os websites de empresas com capital aberto são mais complexos, isso devido a quantidade de informações que devem ser divulgadas seguindo uma legislação específica, entre elas informações financeiras, contábeis, resultados do último exercício e perspectivas para o próximo. Empresas que não possuem capital aberto utilizam seus websites com uma perspectiva mais comercial, divulgando informações com um viés mais “marketeiro”. Também diferem das demais, as empresas que são especializadas em vendas on-line, já que o e-commerce necessita de uma estrutura que permita não apenas a divulgação de produtos ou serviços, mas que também possibilite a realização de transações financeiras.

 

Independentemente do objetivo da empresa, o que importa é que estudos e aplicações propriamente ditas envolvendo a estrutura dos websites são de extrema importância, uma vez que permitem, por meio de aportes teóricos e metodológicos, a construção de espaços com informações dispostas em formato digital que se integrem às necessidades e às perspectivas das empresas e dos clientes.

 

Tais perspectivas inerentes tanto aos objetivos da empresa quanto dos clientes envolvem essencialmente a construção do conhecimento, isso porque para tomada de decisão sobre negócios ou aquisição de um produto ou serviço, o cliente necessita apropriar-se de informações que irão subsidiá-lo nesse processo. Em resumo, a empresa necessita que seu ambiente virtual a promova e o usuário necessita que esse ambiente o satisfaça, seja qual for seu objetivo. Desse modo, é fundamental que essas informações estejam disponibilizadas de tal forma que o acesso seja possível e eficiente, isso sem considerarmos, é claro, o quesito Competência Informacional (1) que envolve outras questões relativas às condições cognitivas que determinam a capacidade de utilização desses ambientes, por exemplo. Falamos de um usuário que possui certa familiaridade com ambientes virtuais e realização de negócios on-line. Ainda assim, é fundamental que esse ambiente possua critérios que permitam o acesso e apropriação da informação para posterior construção de conhecimento e efetiva consideração acerca do produto ou serviço oferecido.

 

Uma das formas de se construir e administrar um ambiente virtual de forma eficiente é considerando fatores que envolvem a Arquitetura da Informação, que segundo Macedo (2005, p.132)

 

[...] é uma metodologia de ‘desenho’ que se aplica a qualquer ‘ambiente informacional’, sendo este compreendido como um espaço localizado em um ‘contexto’; constituído por ‘conteúdos’ em fluxo; que serve a uma comunidade de ‘usuários’. A finalidade da Arquitetura da Informação é, portanto, viabilizar o fluxo efetivo de informações por meio do desenho de ‘ambientes informacionais’.

 

Para a autora, a Arquitetura da Informação pode ser aplicada em qualquer tipo de ambiente informacional, incluindo-se os ambientes virtuais. Baseando-se em Rosenfeld e Morville (1998), a autora ainda afirma que a Arquitetura da Informação é compreendida como a integração das três dimensões: contexto, conteúdo e usuários.

 

§  Contexto: qualquer sistema de informações está inserido em um contexto organizacional. Cada organização possui sua missão, objetivos, estratégias, pessoal, processos e procedimentos, infra-estrutura física e tecnológica, recursos financeiros e cultura únicos, estejam explícitos ou não. Dessa forma, é necessário compreender os objetivos do negócio que estão por trás do espaço informacional e os recursos disponíveis para o planejamento e a implementação do projeto da Arquitetura da Informação, que deve ser moldada para atender as peculiaridades de cada contexto.

§  Conteúdo: é compreendido de maneira ampla, incluindo documentos, aplicações e serviços. Essa esfera abrange também as estruturas de representação e organização dos conteúdos, tais como metadados e facetas informacionais. Considera-se para a Arquitetura da Informação, a natureza e o volume disponível de conteúdos e seu potencial de crescimento ao longo do tempo.

§  Usuários: é necessário conhecê-los e compreender suas necessidades informacionais, que são extremamente variáveis e influenciam comportamentos de busca por informações. O foco da Arquitetura da Informação deve ser o desenho de sistemas que correspondam a estas necessidades e comportamentos (MACEDO, 2005, p.111).

 

Desse modo, é possível considerar que a gestão do conhecimento pode ser implementada também através do planejamento e desenvolvimento de uma arquitetura da informação voltada aos interesses da empresa a que se destina, uma vez que pode viabilizar a estruturação do ambiente informacional, otimizando os processos de gestão (MACEDO, 2005).

 

À medida que a empresa preocupa-se com os meios através dos quais a informação é disponibilizada, ela também está considerando o conhecimento que será construído. Com a demanda por mais ferramentas por parte dos usuários, bem como através da colaboração entre os envolvidos em decorrência do compartilhamento de ideias e pensamentos acerca das inovações implantadas, é possível que a empresa compreenda se seu ambiente é eficiente na disponibilização de informações que fomentarão a construção do conhecimento, o que aumenta, naturalmente, a vantagem competitiva dessa empresa.

 

Importante destacar que o desenvolvimento de uma estrutura que favoreça os elementos de arquitetura da informação em ambientes virtuais empresariais constitui-se em apenas uma das ferramentas de gestão do conhecimento. Gerir conhecimento tanto interno quanto externo, requer que todos os ambientes da empresa estejam integrados. O ambiente virtual é, muitas vezes, a porta de saída de informações cruciais sobre os negócios, mas por trás disso existe toda uma estrutura organizacional formada por processos e pessoas e essa estrutura precisa antes de qualquer outra coisa ter a gestão do conhecimento como premissa básica.

 

Entendo que o êxito no desenvolvimento da gestão do conhecimento é, portanto, mais facilmente alcançado com o auxilio dos elementos de arquitetura da informação, deixando claro que essa última não produz efeitos fantásticos no que diz respeito à gestão do conhecimento quando utilizada de forma isolada, necessitando, portanto, uma gestão integrada.

 

Referências

 

MACEDO, F. L. O. de. Arquitetura da informação: aspectos epistemológicos, científicos e práticos. 2005. 190f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília, Brasília, 2005.

 

MORVILLE, P.; ROSENFELD, L. Information architecture for the world wide web. 3.ed. Sebastopol: O’Really, 2006.

 

Notas

 

(1) Para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e usar efetivamente a informação. [....]” Fonte: ALA. American Library Association. Presidential Committee on Information Literacy:  Final Report. 1989. Disponível em: <http://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/presidential>. Acesso em: 01 nov. 2013.


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ELAINE CRISTINA LOPES

Doutora em Ciência da Informação (UNESP-Marília). Docente do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).