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OS CAVALEIROS CATALOGADORES DA TÁVOLA CATALOGRÁFICA E A BUSCA PELO CÓDIGO DA ALIANÇA – PARTE II

(Continuação da primeira parte).

 

Os passos para a Aliança

 

O ano de 1876 viu nascer a profissão de biblioteconomia na América do Norte. As regras de Cutter e a primeira edição da Classificação Decimal de Dewey aparecem. O Library Journal inicia suas edições. Após o encerramento da Centennial Exposition, 103 bibliotecários se reuniram na cidade da Filadélfia para a segunda conferência nacional de bibliotecas. A partir deste evento foi lançada a American Library Association - ALA.

 

Uma das principais preocupações da conferência de 1876 foi o renascimento da concepção de Jewett sobre catalogação cooperativa. Liderados pelos dois protagonistas do momento, Melvill Dewey (1851-1931) e Charles Cutter, a emergente ALA criou uma Comissão sobre Indexação Cooperativa com o objetivo de recomendar uma abordagem mais uniforme para a catalogação. Em janeiro de 1877, a Comissão publicou um conjunto de regras que foram submetidas para comentários e discussões pela comunidade. Esperava-se que o processo resultasse em um conjunto de normas de catalogação, endossado pela Associação, que seriam então utilizadas pelas principais bibliotecas norte-americanas. Entretanto, não seriam.

 

Em março de 1878, uma Comissão sobre Títulos Uniformes publicou suas Condensed Rules for Cataloging (Regras Condensadas para Catalogação). As regras eram derivadas de Jewett e apresentavam, em primeiro lugar, os elementos da descrição bibliográfica: título, edição, imprenta, colação (descrição física) e notas. Somente após estas questões serem resolvidas é que se elaborou a proposta para um conjunto de regras sobre a escolha e a forma de entrada. O propósito deste código estava relacionado às regras de Cutter. A comissão encarregada dos comentários e avaliações consultou dezenas de bibliotecários e em reunião realizada durante a Conferência de Boston, em 1879, aprovou as normas como publicada. Nesse ponto, o progresso em direção a um código de catalogação uniforme foi interrompido para se aguardar os resultados de esforços semelhantes no Reino Unido.

 

Em 1877, os bibliotecários britânicos se reuniram em uma conferência que levou à criação da associação profissional: Library Association of the United Kingdom - LAUK. Uma delegação formada por 16 proeminentes bibliotecários norte-americanos, incluindo Cutter, compareceram ao evento. Como ocorrido na Conferência da Filadélfia, no ano anterior, a catalogação foi a preocupação desses bibliotecários. A terceira sessão da conferência foi dedicada a sete textos sobre bibliografia e catalogação. Em resposta a esses textos, Cutter comentou tanto o catálogo dicionário em fichas, quanto o arranjo alfabético das entradas por autor e assunto do título. Justin Winsor (1831 – 1897) discutiu os métodos em uso na Biblioteca Pública de Boston para criar um catálogo por ordem de autor, assunto e título para a biblioteca central e todas as suas bibliotecas ramais. Poole exaltou as vantagens do catálogo da biblioteca pública de Chicago, enquanto Lloyd Smith apresentou o catálogo geral da Library Company of Philadelphia.

 

A quarta sessão, da conferência, contou com mais quatro textos sobre catalogação. Estes textos discutiam: (1) retirada de palavras da entrada por assunto para livros, (2) catalogação cooperativa, (3) proposta para um catálogo coletivo internacional, e (4) criação de um catálogo geral sobre literatura Inglesa.

 

Em resumo, um terço dos trabalhos apresentados estavam preocupados com a catalogação, a bibliografia e os cabeçalhos de assunto. Tal como os seus pares norte-americanos, os bibliotecários britânicos eram interessados no conceito da catalogação cooperativa. Entretanto, o pré-requisito para isto era um código de catalogação comum. Tarefa que foi então desenvolvida.

 

Os esforços britânicos resultaram em duas edições das regras de catalogação da LAUK: Cataloging Rules of the Library Association of the United Kingdom, a primeira em 1881, e a segunda em 1883. Ambas as versões seguiram o modelo de Jewett, ou seja, a descrição precedida das questões individuais de entrada e de cabeçalho. A edição de 1881 consistiu de 49 regras divididas em seis seções: 1) Título; 2) Volumes, dimensão, lugar, datas, etc.; 3) Língua do título e Imprenta; 4) Conteúdo e Notas; 5) Cabeçalhos, sobre como os livros devem ser entrados (Esta era a maior seção em números de regras); e 6) Miscelâneas. A edição de 1883 foi mais compacta, com 48 regras divididas em quatro seções e pequenas alterações.

 

Informados sobre a realização dos bibliotecários britânicos, a Comissão de Cooperação da ALA retomou os seus esforços. Em 1882, ela revisou as regras norte-americanas para harmonizar com as novas regras da LAUK e o compêndio de regras da Biblioteca Bodleiana. Em 1883, o Library Journal publicou as Condensed Rules for an Author Title Catalog (Regras Condensadas para o Catálogo de Autor e Título). Este código não era um conjunto detalhado de regras, mas de linhas gerais sobre catalogação. As Regras Condensadas retornavam para a estrutura empregada por Panizzi e Cutter. A sequência proposta neste código era: 1) Entrada; 2) Cabeçalho; 3) Títulos; 4) Imprenta; 5) Conteúdos e Notas; 6) Miscelânea; e 7) Organização. 31 das 67 regras foram dedicadas à entrada e cabeçalho. Esta ênfase foi uma reminiscência de Panizzi e Cutter. O código proposto em 1883, manteve a página de rosto como a principal fonte de informação e a transcrição exata do título. Os elementos comuns da descrição eram: edição, local e ano de publicação, colação (volumes / páginas), e a dimensão. Este código era aderente ao modelo de Jewett-Cutter na aplicação dos nomes verdadeiros de autores para obras sob pseudônimo, se forem conhecidos. Embora as intenções da Comissão fossem alinhadas com as intenções de seus colegas britânicos, o código condensado em sua estrutura era contrário aos códigos da LAUK de 1881 e 1883.

 

As regras, do código condensado, não eram para ser usadas por si mesmas uma vez que não estavam detalhadas o suficiente para fornecer um padrão norte-americano de catalogação universal. Este código simplesmente havia juntado as regras de Cutter e dos códigos britânicos como uma fonte de aconselhamento e suporte aos catalogadores.

 

Em 1886, Dewey expande o código da ALA publicado em 1883. Dois anos depois, este código após ser revisado foi publicado como Rules for Author and Classed Catalogs as Used in the Columbia College Library (Regras para Catálogo de Autor e Assuntos como usado na Biblioteca da Escola de Columbia). O código tornou-se conhecido como Library School Card Catalog Rules (Regras para Catálogo de ficha de Biblioteca Escolar).

 

Poole, presidente da Comissão de Cooperação da ALA sugeriu, na Conferência de Bibliotecas em 1889, a aceitação do código revisto por Dewey para a biblioteca da escola de Columbia; exceto quando o código diferia das recomendações anteriores da ALA. Infelizmente, Poole relacionou isso com a proposta de mudar a abordagem para entidades coletivas. Como resultado, a Comissão não conseguiu resolver essa questão, bem como a ideia de fundir, em 1883, as regras condensadas e as regras para biblioteca escolar proposta por Dewey.

 

Havia ainda um outro fator no jogo. Klas August Linderfelt (1847-1900), então bibliotecário na Biblioteca Pública de Milwaukee, tinha a intenção de traduzir as instruções de Karl Franz Otto Dziatzko (1843-1903): Instruction für die Ordnung der Titel in alphabetischen Zettelkatalog der Königlichen und Universitäts-Bibliothek zu Breslau (Instruções para o Ordenamento Alfabético de Títulos nos Catálogos em Fichas das Bibliotecas Universitárias Reais), de 1886. Apesar de realizar a tradução, concluiu ser de pouca serventia. Entretanto, Linderfelt manteve a estrutura original de Dziatzko, porém acrescentou regras adaptadas de Cutter, da Biblioteca Bodleiana, do Museu Britânico, de Jewett, da ALA, da LAUk, e de Dewey com as regras para biblioteca escolar.

 

O resultado foi um resumo de práticas aceitas na arte e nos mistérios da catalogação. O trabalho foi publicado, em 1890, por Cutter sob o título The Eclectic Card Catalog Rules (As Regras Ecléticas para Catálogos em Fichas). Esse código foi dividido em duas partes: I) preocupada com as entradas de autor e título, e remissivas; e II) abordava a transliteração, grafia de nomes estrangeiros, e assuntos relacionados. A novidade no trabalho de Linderfelt foi a organização do código de forma não-tradicional. O catalogador podia olhar para o item em mãos e o descrever como de um único autor, múltiplos autores, coleções, etc. Uma vez que foi categorizado, o catalogador seria orientado para a regra apropriada à situação revelada na análise do item. Este código foi considerado interessante, e mesmo útil, mas não causou nenhum impacto real no cenário da catalogação norte-americana.

 

Como o século XIX chegando ao fim, houve ganhos significativos no desenvolvimento do catálogo desde as 91 regras de Panizzi. O objetivo do uso de um código padrão por todas as bibliotecas, foi ilusório. O nível deste cenário foi ilustrado por uma pesquisa com 191 bibliotecas conduzida por William Coolidge Lane (1859-1931), do Boston Athenaeum, em 1893.

 

Houve diferenças entre os tipos de catálogos adotados pelas bibliotecas. Os respondentes indicaram que 6 tinham apenas um catálogo de autor, 15 somente de autor e título, 89 usavam catálogo dicionário, 8 adotavam catálogos separados por autor e assunto, 57 com catálogo de autor e classificado e 5 bibliotecas trabalhavam com o catálogo classificado.

 

O interessante foram as regras de catalogação utilizadas por estas bibliotecas. Lane encontrou 85 usando as regras de Cutter com ou sem modificação, 36 bibliotecas usavam as regras para biblioteca escolar de Dewey, 10 destas bibliotecas combinavam as duas regras, 9 adotavam as regras da ALA, 3 as regras Ecléticas de Linderfelt, 2 com as regras de Jewett criadas para o Instituto Smithsonian, e 39 não informaram ou disseram não adotar nenhum sistema. Estava claro que muito precisava ser feito para atingir o objetivo de uma catalogação cooperativa que fora defendida por Cutter e Dewey, no evento da Filadélfia, em 1876.

 

O código da aliança

 

Em 1900, a ideia da catalogação cooperativa foi ressuscitada, porém sem um progresso em relação a constituição de um código de catalogação nacional usado por todas as bibliotecas. A pesquisa de Lane mostrou a inexistência de consenso a respeito nos Estados Unidos. A ideia de constituir uma central de catalogação cooperativa e de impressão de fichas emergiram.

 

Na Conferência de Montreal, em 1900, uma nova comissão sobre regras de catalogação foi estabelecida para analisar as regras em vigor e, em especial, os pontos sobre os quais as bibliotecas norte-americanas tinham sido incapazes de concordar. Em dezembro do mesmo ano, a ALA instituiu uma comissão consultiva sobre regras de catalogação. Neste sentido, ela foi determinante para atingir o objetivo há muito procurado.

 

A ALA firma acordo com a Biblioteca do Congresso (LC) que inicia, em 1901, a disponibilização do serviço de fichas catalográficas impressas para as bibliotecas norte-americanas. A LC havia aprovado o seu próprio código de catalogação para fichas impressas, em 1898. Tal fato gerou certa dificuldade, por haver diferenças entre o código da LC e o código da ALA, de 1883. Entretanto, a ALA estava disposta a aceitar as fichas da LC, com a finalidade de obter a sua distribuição para as bibliotecas. Assim, alguma acomodação deveria ser feita como a mudança promovida pela Comissão de Regras para Catálogos, na direção de um novo código consensual que substituísse as regras de 1883.

 

Em 1901, a Comissão decidiu que o novo código seria projetado para atender às necessidades das grandes bibliotecas, mais as acadêmicas. Houve discussões específicas relativas tipografia e forma de entrada. Também foi decidido que as variações por parte das regras da Biblioteca do Congresso seriam especificadas em notas. Em julho do mesmo ano, o Conselho Executivo da ALA finalmente autorizou a publicação das regras de catalogação da ALA para fichas impressas. A Comissão Consultiva sobre Regras de Catalogação se reuniu em março de 1902. O objetivo do encontro foi promover a uniformidade entre a revisão das regras da ALA, a quarta edição das Regras para Catálogo Dicionário de Cutter e, em seguida, publicar uma nova edição das regras para bibliotecas escolares de Dewey. A Comissão chegou a um acordo sobre todas as questões pendentes. O seu relatório foi apresentado no Congresso da ALA. Após um longo e acirrado debate a Comissão recebeu aprovação para o projeto de impressão pela Biblioteca do Congresso da A.L.A. Rules, Advance Edition (Regras da ALA, Edição Aprimorada).

 

Estas propostas do código de regras foram próximas às adotadas pela LC em 1898, que as aceitou na integra. As regras da ALA foram consideradas como um relatório preliminar da Comissão, pois as regras ainda estavam abertas às críticas e alterações. O código proposto foi acrescido dos critérios de Cutter sobre ser orientado para o público, e não para os próprios catalogadores. As 81 regras foram elaboradas com pequenas alterações na ordem dos elementos de descrição. O título (como aparece na página de rosto) foi seguido pela edição (se estivesse presente), local, editora, data, seguida pela colação.

 

Optou-se por adotar a forma mais completa do nome do autor e o seu nome verdadeiro para as obras sob pseudônimos, desde que determinável. Membros da Comissão sugeriram que as pequenas bibliotecas não precisavam registrar detalhes de paginação, ilustrações etc. Admitiu-se que a biblioteca pública devesse adotar o que fosse mais conveniente para dar entrada a autores que escrevessem sob pseudônimos. A mudança mais radical foi no tratamento de livros com vários autores. Na era dos catálogos impresso em livro e dos catálogos em fichas escritas à mão, a entrada mais completa sempre foi dada sob o primeiro autor, com entradas breves colocadas sob os nomes de autores posteriores.

 

A adoção das fichas impressas, distribuídas pela LC, permitia entradas completas sob cada um dos autores, uma vez que as cópias das fichas eram idênticas. As regras da ALA – edição aprimorada, de 1902 foram publicadas por subscrição das bibliotecas, no formato de folhetos ou na forma de fichas. Em 1903, a LC acrescentou regras para a colação e nota de série. Ao longo de 1903 e 1904, os catalogadores apresentaram suas observações e críticas. No final de 1904 havia material para uma nova revisão das regras, e avançadas o suficiente para justificar a expectativa de uma edição das mesmas.

 

Os bibliotecários britânicos também consideravam o status das regras da LAUK, em vigor desde 1883. Em reunião no ano de 1902, a LAUK avaliou a reimpressão ou a revisão do código de 1883. Entretanto, Louis Stanley Jast (1868-1944) argumentou que as regras não correspondiam de forma adequada às práticas e às necessidades da atualidade, de então. Para apoiar sua afirmação, ele indicou que o local de publicação e de edição, atribuídos no código de 1883, deveriam ser considerados como opcionais. Comentou que Cutter havia afirmado que a catalogação era baseada em princípios, porém que ele não tinha conseguido indicar quais eram esses princípios.

 

Jast acrescentou, em seus comentários, que se a catalogação era uma ciência, ela deveria ser redutível aos princípios. E, se podemos externar estes princípios no novo código, organizando as regras específicas sob regras mais amplas, de onde possam fluir naturalmente, se teria o domínio do mesmo, de forma relativamente fácil. No seu comentário ele lançou as bases para um método de ensino da catalogação.

 

Após a reunião de 1902, a LAUK iniciou o processo de revisão do seu código. Logo após esse encontro, Dewey contatou Jast para sugerir que as duas Associações conjugassem os seus esforços em trabalhar na direção de um código de catalogação comum.

 

Jast havia escrito a George Herbert Putnam (1861-1955), da Biblioteca do Congresso, a fim de garantir uma cópia das regras da ALA, de 1902, para servir de base ao projeto de revisão do código da LAUK, em andamento. A Comissão britânica sobre regras de catalogação não encontrou grandes diferenças entre o seu conceito para as regras e o código da ALA, recomendando que a ideia de um código comum fosse perseguida.

 

No Congresso que promoveu em setembro de 1904, a LAUK aceitou oficialmente a proposta de Dewey, e enviou Jast ao Congresso da ALA, em St. Louis, para apresentar uma minuta de proposta para o código em comum. O projeto e a proposta de um código comum foram aceitos pela ALA, e o seu Conselho Executivo foi autorizado a analisar o projeto. A responsabilidade para viabilização foi colocada nas mãos da Comissão de Regras para Catálogos.

 

Em 1905, essa Comissão da ALA reconheceu e aceitou 29 das 54 regras propostas pelo código britânico. Um relatório desta ação foi enviado para a Comissão britânica homóloga. Ambas as Comissões, americana e britânica, deram prosseguimento aos esforços, durante 1906. Na reunião da Comissão norte-americana as diferenças foram minimizadas para os pontos que estavam sob consideração ativa.

 

Agora que havia um acordo geral entre todos, a Comissão norte-americana enviou um relatório à Comissão de Revisão das Regras para Catálogos da LAUK delineando suas discussões e acordos. Na reunião daquele ano, a Comissão britânica foi da opinião que os projetos dos códigos (inglês e norte-americanos) atingiram um estágio de acordo que se justificava a sua impressão o mais rápido possível, e tendo sido autorizado pelas Associações de Bibliotecas para o prosseguimento e conclusão das negociações futuras que fossem necessárias.

 

A Comissão britânica sugeriu que houvesse duas edições (inglesa e norte-americana), mas que as edições deveriam tanto quanto possível serem idênticas no arranjo e formulação. Onde houvesse divergência de opinião entre as duas Comissões, em relação a uma determinada regra, essa divergência seria explicada em uma nota anexa à norma ou impressa ao lado das duas regras, mostrando cada uma das opiniões.

 

A Comissão norte-americana apresentou o seu projeto de código no Congresso da ALA, em maio de 1907. O projeto foi aprovado e a Comissão encarregada de expandir as negociações, a fim de harmonizar as diferenças ainda pendentes com a Comissão britânica. James Christian Meinich Hanson (1864-1943), presidente da Comissão de Regras da ALA foi enviado a Inglaterra para encontro com os bibliotecários britânicos, e as duas comissões chegaram a um acordo completo, menos 8 das 174 regras. As diferenças eram minucias relativas à forma de entrada para uma autora casada, as traduções de obras estrangeiras, questões decorrentes da mudança de nomes, alterações de título dos periódicos e outras questões similares. Entretanto, a ALA autorizou a impressão e publicação do código conjunto.

 

O resultado deste esforço foi o Catalog Rules: Author and Title Entries (Regras para Catálogo: Entradas de Autor e Título), que estava muito nos moldes Panizzi-Cutter, em termos de entradas para autor e título. Os assuntos foram excluídos do âmbito de aplicação. Como nas regras de Cutter, este código tinha 58 definições antes das regras para entidades principais. A estrutura básica estava muito na tradição de Panizzi-Cutter, com a entrada e o cabeçalho sendo aplicado em primeiro lugar. Os autores pessoais foram discutidos primeiro (regras 1 a 57), depois as entidades coletivas (regras 58 a 111), a seguir as entradas para títulos (regras 112 a 129) e, finalmente, as miscelâneas (regras 130 a 135). Somente após estas questões, as regras eram orientadas para a descrição (regras 136 a 166). A ordem dos elementos da descrição era bastante familiar: título, edição, lugar, editora, data, colação e série.

 

As remissivas eram as próximas a serem tratadas (regras 167 a 171) e, por fim, a questão do uso de maiúsculas, pontuação e numerais (regras 172 a 174). Como nas regras de Panizzi e de Cutter, a questão das entradas e dos cabeçalhos dominaram esse código, representando 135 das 174 regras existentes. Embora Panizzi e Cutter pudessem estar de acordo com este resultado, certamente Jewett não estaria.

 

Fim: Da aliança se fez o código, mas não deu casamento

 

69 anos depois das 91 regras de Panizzi, a aliança da catalogação anglo-americana havia sido forjada. Ao longo das duas décadas seguintes à publicação, nem a ALA ou a LAUK tomaram medidas ativas para manter a atualização do código. Nesse período, a Biblioteca do Congresso fez uma série de revisões, acréscimos e comentários às regras. Em 1930, a Comissão sobre Catalogação e Classificação da ALA sugeriu a conveniência de uma revisão das regras de 1908. A dissolução da aliança havia começado só retornando o namoro 40 anos depois.

 

Nota:

 

Este texto é uma tradução resumida e adaptada. Contém inserção de dados e de interpretação do colunista. Para leitura integral ver:

Blake, Dr. Virgil L. P. Forging the Anglo-American Cataloging Alliance: Descriptive Cataloging, 1830–1908. Cataloging & Classification Quarterly, n.35, p. 3-22, 2002. Acesso em: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1300/J104v35n01_02


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.