BIBLIOTECA ESCOLAR - NOVA FASE


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar. Continuação da coluna anterior, agora apenas com autoria de Marilucia Bernardi

BIBLIOTECA ESCOLAR, O PARAÍSO !?

“Sempre imaginei que o paraíso será uma espécie de biblioteca.”

 

Escolhi essa expressão, do escritor Jorge Luís Borges, para iniciar o texto, pois ainda que não esteja atuando, efetivamente, em biblioteca, continuo acreditando que é por meio dela que teremos alunos melhores, homens e mulheres mais críticos, mais informados e capacitados para as mudanças que se fazem necessárias.

 

Muito me intriga que, às portas de 2017, ainda “brigamos” por mais escolas, por mais bibliotecas, por mais livros, por mais leitura, por melhores professores, por melhores alunos, enfim, continuamos a busca pelo que consideramos seja o ideal em termos de educação e cultura. Às vezes, paro e me pergunto: será que não atingiremos esse “ideal” nunca? E qual é mesmo esse ideal? Confesso que não meditei o suficiente, pois quanto mais penso, mas confusa fico. Então, retorno pra terra, ou seja, pro tempo real e verifico que no que diz respeito às bibliotecas, no caso as escolares, já existe muita literatura adequada e com embasamento suficiente para nos lembrar qual seria, pelo menos a princípio, o ideal de uma biblioteca escolar.

 

Lembrando parte da Declaração Política da IASL (International Association of School Librarianship – Associação Internacional de Bibliotecas Escolares) “A existência e utilização da biblioteca escolar constitui uma vertente imprescindível da educação obrigatória e gratuita. A biblioteca escolar é essencial ao desenvolvimento da personalidade humana, bem como ao progresso espiritual, moral, social, cultural e econômico da comunidade.

 

A biblioteca escolar é essencial ao cumprimento das metas e objetivos de aprendizagem da escola e promove-os através de um programa planejado de aquisição e organização de tecnologias de informação e disseminação dos recursos, de modo a aumentar e diversificar os ambientes de aprendizagem dos alunos.

 

Um programa planejado de ensino de competências de informação, em parceria com os professores da escola e outros educadores, é parte essencial do programa das bibliotecas escolares.”

 

O que mais me chama a atenção nisso tudo, é que essa declaração foi elaborada em 1993, portanto passados 23 anos e, se for feito um balanço dessa trajetória, muita coisa mudou, cresceu de fato, porém, em termos de escola, salvo muito engano de minha parte, as mudanças caminharam bem mais lentas ou muito pouco aconteceu.

 

Fazendo um breve “passeio” pela Internet, observa-se que pelo país afora, as instituições de biblioteconomia, como conselhos, federação e as próprias faculdades continuam engajadas nessa empreitada de tornar conhecido, disseminar, qual o papel da biblioteca e, por extensão, o papel do profissional bibliotecário. Não parece crível que ainda há desconhecimento por parte de alguém sobre isso. Mas, infelizmente, existe e muito.

 

Os temas abordados, embora variados na forma, contém a mesma essência. Por exemplo, em Porto Alegre-RS, nos dias 10 e 11 de novembro de 2016, haverá o V Seminário Internacional de Bibliotecas, e o debate principal será em torno do analfabetismo funcional, suas implicações e maneiras de combatê-lo, assim como estudar de que formas as bibliotecas escolares, comunitárias e públicas poderão contribuir com a sociedade na busca de soluções para este problema. Essa informação foi dada pela bibliotecária da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre.

 

Achei fantástico o tema e a proposta de unir as diferentes tipologias de bibliotecas. Realmente, está mais do que na hora de unir esforços para chegar ao ideal proposto acima. Já foi mencionado em artigos anteriores que a tarefa do bibliotecário é tal qual a de formigas, demora e não aparece. Atualmente, acrescentaria que pode ser comparado com as andorinhas, isto é, uma andorinha só não faz verão.

 

Outro evento, bastante importante também, já ocorrido em junho p.p. foi o 3º. Integrar – Congresso Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação e Museus. O que achei deveras oportuno nesse encontro, foi a colocação sobre a necessidade de dar continuidade nas discussões dos dois eventos anteriores, mas também reafirmar a importância de um discurso coeso na defesa da memória nacional. Cada profissional, independentemente do espaço em que atua, precisa continuar defendendo a existência de políticas públicas efetivas paras os arquivos, bibliotecas, centros de documentação, centros de memórias e museus. (extraído do site www.integrarfebab.org.br)

 

Mais um exemplo que o trabalho conjunto, que a parceira entre áreas afins pode ser possível sim e é de vital relevância para que as mudanças necessárias sejam alcançadas, principalmente nos quesitos educação e cultura do país.

 

Ainda na esteira de trabalhos em parcerias, encontrei, nas mesmas andanças pela telinha do computador, exemplos diferentes, curiosos, interessantes e bem sucedidos para trabalhos em biblioteca escolar que vale a pena replicar.

 

A ideia é difundir a biblioteca, dentro e fora dela, ou seja, atuar em outros espaços. Ainda que o acervo possa ser amplo, o professor pode e deve estimular seus alunos a procurarem outras fontes de aprendizado, além da sala de aula e da biblioteca, assim como livrarias, museus, centros de documentação e pesquisas, etc. E pode também promover visitas em grupos. Assim, a partir do que se aprendeu em sala de aula, podem surgir novas perguntas que serão respondidas em outros espaços visitados, como verificar na prática o que se aprendeu na teoria.

 

Pode a/o responsável pela biblioteca também promover, junto com os docentes, visitas de profissionais de determinadas áreas, como nutricionista que poderá trazer para os alunos, exemplos do que aprenderam nas aulas de Ciências, Biologia ou Química. Assim como também um artista, já conhecido por suas obras, para falar sobre as Artes em geral. O mais comum, já bastante utilizado nas escolas e muito bem aceito, é trazer o escritor do livro lido para um encontro com os alunos. Isso sempre é muito oportuno e importante.

 

Outro exemplo que pode ser seguido é o de chamar, convidar, engajar alunos para ajudar nos pequenos consertos de livros do acervo. Toda e qualquer tipo de biblioteca ainda tem em seu acervo livros mal conservados e muitas vezes até os mais novos, mas muito lidos, também precisam de alguns restauros e se a instituição não possui verba para comprar novos, essa solução de pedir ajuda aos alunos é muito bem-vinda. Além de trazê-los para a biblioteca e dar-lhes uma ocupação, se torna uma rica oportunidade de fazer com que eles adquiram o gosto pela leitura. Além disso, o/a responsável pela biblioteca, em conjunto com os professores, pode incentivá-los a ler e contar aos demais da classe. Poderia ser pensando até uma recompensa, como nota ou pontuação, dependendo de cada local.

 

No caso de bibliotecas já informatizas, pode-se fazer esse mesmo chamamento para que os alunos que saibam bem como usar computador, redes sociais, etc., orientem os que ainda não conseguem dominar essas ferramentas, dentro da biblioteca e com supervisão do/a responsável ou do/a professor/a. Sempre, é lógico, com objetivos específicos e claros a serem pesquisados. Esses pequenos trabalhos somente serão exitosos se forem muito bem planejados, com começo, meio e fim; com horários pré-determinados, locais apropriados, finalidades muito bem definidas e explicadas a todos os envolvidos.

 

Continuo a receber contatos de vários professores e professoras que atuam em biblioteca escolar, ou mesmo sala de leitura, solicitando sugestões, novas ideias, caminhos para conquistar os alunos, principalmente os mais novos, fazendo com que eles consigam ter gosto pela leitura. Espero ter ajudado com as sugestões apresentadas.

 

Ainda que estejamos num mundo praticamente virtual, de tanto acesso a internet, redes sociais, até o telefone fica para escanteio às vezes, pois podemos usar o WhatsApp que sai mais barato, não é mesmo, creio que sempre existirá alguma forma de fazer com que os alunos possam gostar de ler livros e, acima de tudo, aprender com eles. E olha que não sou, de maneira alguma, contra a tecnologia, aliás, sempre falei e ainda acho que é a nossa maior aliada, para qualquer aprendizado.

 

A propósito do título, gostaria de aproveitar para informar que Alberto Manguel, que também acha que o paraíso possa ser uma espécie de biblioteca, lançou o livro: A Biblioteca à noite, da Editora Companhia das Letras e até onde eu pude descobrir, é mais um excelente trabalho para os amantes desse objeto de desejo chamado livro.

 

 “ Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem pássaro.

 Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem água.

 Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros.”    
                                                                        
Jorge Luis Borges


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?