BIBLIOTECA ESCOLAR - NOVA FASE


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar. Continuação da coluna anterior, agora apenas com autoria de Marilucia Bernardi

CARNAVAL NA BIBLIOTECA ESCOLAR

“Ô abre alas,

Que eu quero passar

Eu sou da lira

Não posso negar.

Ô abre alas

Que eu quero passar

Rosas de Ouro

É quem vai ganhar”

 

 

Uma das obras da compositora e maestrina carioca Francisca Edwiges Neves Gonzaga – Chiquinha Gonzaga (1847-1935). Essa marchinha data de 1899.

 

Confete e serpentina na biblioteca... Por que não?

 

Embora o carnaval já tenha passado, pode-se preparar para outros anos na mesma época e sim, podemos deixar a biblioteca escolar enfeitada, ambientada para o carnaval, onde os usuários podem ter acesso a todo o acervo sobre essa festa conhecida mundialmente e que para nós brasileiros, começou como uma festa folclórica.

 

É outra oportunidade para trabalhar música, fantasia, folclore, usos e costumes; tempo de fazer pesquisas para conhecer carnaval de antigamente; de outros países; de mostrar que não é uma festa pagã, como muita gente ainda acredita ser.

 

Pode-se criar ambientes na biblioteca com bastante colorido, para chamar atenção, principalmente, dos pequenos, os quais são atraídos mais pelo visual. As estantes podem servir para pendurar algumas serpentinas; no chão pode ser espalhado um pouco de confete; juntamente com os professores da disciplina de Artes, podem ser confeccionadas fantasias escolhidas pelas crianças e divulgadas na biblioteca; cartazes, murais com uma boa e profunda pesquisa a respeito da história e desenvolvimento do carnaval podem ser espalhados em locais de bastante acesso e abertos para visitação, antes, durante e após a realização da festa.

 

Para os professores de música é uma oportunidade rica de mostrar o que são marchinhas, que, inclusive, nesse ano, em muitas cidades elas fizeram parte do desfile de blocos. Trazer à tona compositores famosos como Chiquinha Gonzaga que bem poucos conhecem e cuja biografia já se encontra em livros infantojuvenis.

 

Ainda com a parceria de professores de Artes, pode ser elaborado um concurso de máscaras, que movimentaria bastante, não somente as aulas de artes como também o ambiente da biblioteca, onde deve ser exposto o trabalho finalizado.

 

Geralmente as escolas suspendem as aulas no período de carnaval e o que é sentido nos dias que o antecedem e alguns dias posteriores, é que pouca coisa funciona, ou seja, a produtividade fica bastante prejudicada e o que diremos então sobre a frequência e uso da biblioteca?

 

Então essa pode ser uma das saídas para tentar alterar, um pouco, esse quadro. Mostrar que mesmo que as aulas sejam suspensas, a oportunidade de efetuar empréstimos de livros para o exercício prazeroso da leitura não deve ficar esquecida.

 

Dando uma navegadinha pela internet, encontrei alguns exemplos de trabalho em biblioteca escolar, durante as festividades de carnaval, mas em escolas da Espanha. Sim, na Espanha, mas também alguns poucos em escolas do Estado do Rio de Janeiro. Pensei cá com os meus botões: “será que em alguma biblioteca do restante do país, principalmente no estado de São Paulo, é feito alguma coisa durante, ou melhor, para o carnaval e apenas não encontrei publicação ainda?”

 

Essa é uma outra questão séria que precisamos enfrentar. Muitos profissionais bibliotecários fazem ótimos trabalhos em suas bibliotecas, mas não o divulgam, não escrevem artigos para revistas; não são adeptos de entrevistas para falar de biblioteca e sua importância, etc. E num momento tão importante e crucial como esse, pois considero que estamos passando por uma tremenda crise de identidade (não sei se o nome é o mais adequado). Pois o que vemos e ouvimos é que a educação brasileira está totalmente sucateada, com escolas capengas em sua estrutura e o ensino mais ainda; greves de professores e funcionários; falta de professores; notícias dão conta de que cada vez menos professores se formam.... e por aí vai. Então, se temos visto e ouvido tanto sobre a penúria de nossas escolas públicas, qual a situação, real, das bibliotecas escolares????????????

 

Aproveitando a deixa... durante o seu discurso de posse, a Presidente brasileira falou que o lema desse mandato é: Brasil – Pátria educadora. E que a educação será prioridade em seus novos quatro anos de governo!!!!!!!!!!!!

 

Sem entrar nessa seara política, gostaria de lembrar que já estamos chegando a cinco (5) anos da promulgação da Lei 12.244, de 24/05/2010 sobre a universalização das bibliotecas, que OBRIGA a toda escola pública e particular possuir uma biblioteca com acervo adequado para cada aluno e com profissional habilitado. Lembram-se?

 

Lá em 2010 parecia ser, realmente, o boom das bibliotecas escolares. Tudo conspirava para ser o início da ERA da biblioteca escolar. A mídia trazia matérias e matérias a respeito; cursos e palestras eram dados; as faculdades começaram a se preocupar mais com a formação dos seus alunos.... e, de repente, o assunto foi minguando até chegarmos ao ponto de os Conselhos Regionais não conseguirem mais nem executar seu trabalho, ou seja, encontram muita resistência por parte das escolas em manter uma biblioteca, de fato, funcionando e com profissional habilitado. Algumas que possuíam, até a transformaram na famigerada Sala de Leitura.

 

Bom, isso era apenas para não deixar o assunto da Lei morrer. Precisamos sempre estar em alerta.

 

Mas retornando ao carnaval, onde tudo é festa, brincadeira, divertimento, porém sem deixar de lado as questões prioritárias, no caso, as ações positivas e boas práticas que podem ser realizadas na biblioteca escolar, me lembrei de um artigo que li recentemente e que pode fornecer mais e novos elementos para serem aplicados em bibliotecas.

 

No último dia 11 de fevereiro, o Centro Cultural São Paulo foi o palco de uma palestra com o teólogo e professor Leonardo Boff. O encontro foi com educadores da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, para reflexões sobre sustentabilidade e educação.

 

Em sua fala destacou quatro pilares da Educação, baseados no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, coordenada por Jacques Delors: a) aprender a conhecer, b) aprender a fazer. c) aprender a ser e d) aprender a viver juntos. Além disso, enfatizou “que é necessário inserir conceitos mais urgentes, como aprender a cuidar, aprender a conviver e aprender a espiritualizar.”

 

Disse também ”a educação não pode mais ser tratada da mesma forma, pois diante dos desafios atuais e, em face às crises hídrica e energética, é necessário mudar paradigmas para garantir a sobrevivência, com qualidade neste planeta”

 

Ele pediu aos professores presentes ao Encontro que fizessem um resgate da inteligência emocional (tanto trabalhada na década de 1990), a razão cordial, em sua rotina de trabalho e, ao terminar, exaltou a esperança, pois acredita que, apesar das dificuldades, a crise proporciona oportunidades de crescimento.

 

Me chamou muito a atenção esses trechos de sua fala, pois também acredito que seja imprescindível que voltemos um pouco nosso olhar e nosso coração para a retomada da humanização nas pessoas. Penso que com tanta tecnologia, mais e mais informações a cada segundo, tanto corre-corre, não estamos mais conseguindo parar e ver o outro a nosso lado.

 

Textos sobre inteligência emocional mostram como devemos nos comportar perante o outro, o quanto isso é importante para a sobrevivência de todos. Especialistas em educação, também colocam que muitos dos professores precisam antes aprender a aprender, para depois aprender a ensinar. Se não sabem aprender, como conseguirão fazer com que seus alunos aprendam qualquer conteúdo?

 

Há pelo menos dez anos, muitas escolas incluíram em seus currículos a questão Sustentabilidade, e assim cuidar do Planeta Terra. É chegada a hora de retomar esses temas, de uma forma mais séria, mais real, pois todos estão vivendo, na pele, a problemática da falta de água.

 

E em meio a essa discussão a biblioteca pode interagir com exposições sobre a questão da água no planeta e, especificamente, em cada estado; pode promover debates entre especialistas no assunto, por ex. responsáveis pela água e luz em sua cidade e o corpo discente da escola, podendo ainda, dependendo da condição de espaço, convidar as famílias. Seria uma ótima oportunidade para orientação e esclarecimentos.

 

Pode ainda oportunizar, juntamente com os professores de química ou física, espaço para que alunos apresentem ideias para economia e redução dos gastos com água e luz. Esse trabalho requer muita pesquisa por parte dos alunos, e consequente aprendizado; poderão aprender a trabalhar em equipe e também os coloca como participante de uma situação que atinge a todos.

 

Estes projetos, sendo bem conduzidos e planejados, contemplarão os pilares citados por Leonardo Boff e, com certeza, ajudarão a todos os envolvidos a se conhecerem melhor e, dessa forma, se tornarem um pouco mais humanizados.

 

Como iniciamos o texto falando sobre o carnaval, gostaria de finalizá-lo com uma marchinha, que embora fale de tristeza pelo fim da folia, no final exorta-nos a cantar para alegrar a cidade, assim como devemos nos alegrar com os bibliotecários e/ou aqueles que militam nas bibliotecas escolares existentes e atuantes que, apesar de tantas dificuldades, continuam perseverando e produzindo ótimos resultados.

 

 

Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

Acabou nosso carnaval

Ninguém ouve cantar canções

Ninguém passa mais

Brincando feliz

E nos corações

Saudades e cinzas

Foi o que restou

E no entanto é preciso cantar

Mais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar e alegrar a cidade

 

Vinícius de Morais

 


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?