AO PÉ DA ESTANTE


AO PÉ DA ESTANTE... COM AUTORES-LEITORES


Há um gênero interessante de literatura, quando um autor trata das obras que o influenciaram. Pode fazê-lo no correr do texto, como Simone de Beauvoir em Memórias de uma moça bem-comportada, ou ainda como Umberto Eco, em análise semiológica da ficção: Seis passeios pelos bosques da ficção. Seja qual for a abordagem, eles nos trazem a satisfação de um bom livro e a descoberta do autor-leitor.

Seguindo esse filão, hoje indicamos Os livros e os dias: um ano de leituras prazerosas, diário lítero-emocional do escritor Alberto Manguel, nascido em 1948, na Argentina, cujas inúmeras experiências vividas se mesclam ao gosto pela leitura. Ainda jovem, por exemplo, trabalhou como leitor para Jorge Luiz Borges, após conhecê-lo em livraria onde exercia o ofício de vendedor. Já escritor, morou muito tempo no Canadá, lá se naturalizou, mudando-se mais tarde para o Sul da França, onde vive.

O interessante é que, na verdade, Os livros e os dias foi nascendo à medida que Manguel reencontrava determinadas obras, ao organizar sua biblioteca na nova casa francesa. Quantos de nós, assíduos leitores, ou um pouco menos, não nos defrontamos com essa experiência maravilhosa da redescoberta, ao arrumarmos nossos livros (ou dos outros)?

Do mesmo modo, de junho de 2002 a maio de 2003, a cada mês, o erudito Manguel escolhia, dentre seus livros lidos ou relidos, um grande romance que tivesse evocado ricas memórias pessoais, antigas e recentes. Ele então nos conta essas relembranças, que por sua vez o levam a outros livros e autores, bem como a comentários sobre o mundo.

Os livros e os dias permite tanta identificação do leitor com a obra, que talvez sejamos tentados a rabiscar em suas páginas algumas lembranças nossas também, aquelas que aparentemente coincidam com as memórias que cada livro suscitou em Manguel.

Vale indicar, ainda, do mesmo autor, sempre pela Companhia das Letras, além de Os livros e os dias, de 2005, outras duas obras imperdíveis: A biblioteca à noite, de 2006, uma ode à biblioteca, a mostrar que seu culto, no fundo, não se deve ao fato de "oferecer conhecimento, mas, sim, companhia"; e o excelente e mais antigo, mas sempre atual, Uma história da leitura, de 1997, que nos leva a um passeio único, percorrendo uma História que infelizmente não se aprende no colégio.


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SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.