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RDA: OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO

Objetivos e princípios norteiam o desenvolvimento da RDA (Recursos: Descrição e Acesso) desde a sua concepção e primeira versão de lançamento. Esse procedimento tem direcionado a contínua e dinâmica forma de atualização da norma. Aliás, atualização dinâmica é uma característica particular da RDA em relação ao AACR2, por exemplo, cujas atualizações eram cumulativas e publicadas em edições revistas. O modelo de negócio estabelecido para o acesso e uso da RDA está estruturado digitalmente como uma base de dados, que favorece a inclusão das atualizações em tempo real, bem como as correções de deliberações tomadas que se mostrarem inadequadas ou desbalanceadas na aplicação das instruções.

Neste sentido, Alan Danskin, ao encaminhar documento de trabalho sobre os objetivos e princípios de desenvolvimento da nova norma ao Joint Steering Committee for Development of RDA, salientou que apesar da declaração dos mesmos fornecerem orientação ao desenvolvimento da RDA, os balanceamentos às vezes precisam ser feitos entre um princípio e outro. Por exemplo, o princípio da uniformidade precisa estar equilibrado com o princípio do uso comum, o princípio da precisão deve estar equilibrado com o princípio da representação, e assim por diante.

Neste contexto, lista-se os princípios e objetivos precursores na concepção da RDA (versão 2009), e que podem ajudar ao catalogador a refletir, também, no estabelecimento de suas políticas de catalogação, adotadas no seu ambiente de tratamento das informações, nas bibliotecas. 

Outro aspecto suscitado e que merece a atenção do catalogador é o fato destes objetivos e princípios estarem calcados na Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação (ICP), preconizados pela IFLA e, posteriormente, revistos e atualizados pela edição de 2016: https://www.ifla.org/publications/node/11015

É importante, ler e reler os documentos em conjunto com o que é apresentado nas orientações dadas pela instrução 0.4: Objetivos e Princípios orientadores da RDA, edição atual. Na origem, de 2009, os objetivos e princípios norteadores estavam estruturados como:

Objetivos e Princípios para o Design da RDA: os objetivos e princípios que regem a concepção geral da RDA como padrão para a descrição e acesso do recurso. Abordam questões de abrangência, formulação, circulação, etc. A saber:

Objetivos: 

  • Abrangência: as diretrizes e instruções devem abranger todos os tipos de recursos e todos os tipos de conteúdo representados nos catálogos ou instrumentos similares.
  • Consistência: as diretrizes e instruções devem ser consistentes em sua formulação.
  • Clareza: as diretrizes e instruções devem ser claras e escritas em linguagem simples no inglês. Elas devem ser inequívocas em relação aos conceitos, terminologia e âmbito de aplicação.
  • Racionalidade: as diretrizes e instruções devem refletir decisões racionais e não arbitrárias.
  • Circulação: as diretrizes e instruções devem ser sensíveis aos novos desenvolvimentos que afetam o alcance, a natureza e as características dos recursos e os tipos dos conteúdos cobertos, bem como o surgimento de novos tipos de recursos e dos conteúdos.
  • Compatibilidade: as diretrizes e instruções devem ser compatíveis com os princípios, modelos e padrões internacionalmente estabelecidos.
  • Adaptabilidade: as diretrizes e instruções devem poder ser adaptadas por várias comunidades para atender às suas necessidades específicas.
  • Facilidade e eficiência de uso: as diretrizes e instruções devem ser fáceis e eficientes de aplicar.
  • Formato: as diretrizes e instruções devem ser apresentadas em um formato de impressão convencional ou em um formato digital que incorpore recursos como links de hipertexto, exibição seletiva, etc.

Princípios da: 

§ Generalização: para cada elemento da descrição, as diretrizes e instruções devem fornecer orientações básicas substanciais que sejam aplicáveis a todos os tipos de recursos. As diretrizes e instruções sobre relacionamentos devem fornecer orientações básicas substantivas que sejam aplicáveis a todos os tipos de conteúdo. As diretrizes e instruções sobre o controle do ponto de acesso devem fornecer orientações básicas substanciais que sejam aplicáveis a todos os tipos de pontos de acesso de nome e título.

§ Especificidade: quando necessário, as diretrizes e instruções devem fornecer orientações suplementares aplicáveis a um tipo específico de conteúdo, mídia, modo de publicação, relacionamento, nome, título, etc.

§ Não redundância: as diretrizes e instruções devem evitar repetições desnecessárias.

§ Terminologia: a terminologia utilizada nas diretrizes e instruções deve ser consistente com os conceitos e termos definidos nos Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) e Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade (FRAD).

§ Estrutura de referência: a estrutura de referência incorporada nas diretrizes e instruções deve ser consistente em seu projeto geral e servir como um meio eficiente para indicar a localização de diretrizes e instruções adicionais que podem ser relevantes para a aplicação da diretriz ou instrução a partir da qual a referência é elaborada.

Funcionalidade da Produção de Registros Usando RDA: 

Os objetivos e princípios estabelecidos neste tópico são aqueles relacionados com a funcionalidade dos dados descritivos e os dados de controle do ponto de acesso produzidos por meio da aplicação das diretrizes e instruções da RDA [0.0 RDA – Objetivo e Alcance]. Abordam questões de capacidade de resposta às necessidades dos usuários, eficiência nos custos, etc. como já mencionado, na ICP da IFLA, e informa os princípios de catalogação utilizados em toda a RDA. A saber:

Objetivos: 

ü Capacidade de resposta às necessidades dos usuários: os dados devem permitir ao usuário [0.4.2.1 RDA]:

- encontrar recursos que correspondam aos critérios de pesquisa declarados pelo usuário;

- encontrar todos os recursos que incorporem uma obra específica ou uma expressão específica dessa obra;

- encontrar todos os recursos associados a uma determinada pessoa, família ou entidade corporativa;

- encontrar todos os recursos sobre um determinado assunto;

- encontrar obras, expressões, manifestações e itens relacionados com aqueles recuperados em resposta à pesquisa do usuário;

- encontrar pessoas, famílias e entidades corporativas que correspondam aos critérios de pesquisa declarados pelo usuário;

- encontrar pessoas, famílias ou entidades corporativas que estejam relacionadas à pessoa, família ou entidade corporativa representada pelos dados recuperados em resposta à busca do usuário;


- identificar o recurso descrito (ou seja, confirmar que o recurso descrito corresponde ao recurso procurado ou distinguir entre dois ou mais recursos com características iguais ou similares);

- identificar a pessoa, a família ou entidade corporativa representada pelos dados (ou seja, confirmar que a entidade descrita corresponde à entidade procurada ou distinguir entre duas ou mais entidades com nomes iguais ou similares, etc.);


- selecionar um recurso apropriado para os requisitos do usuário em relação às características físicas do suporte e a formatação e codificação das informações armazenadas no suporte;

- selecionar um recurso apropriado para os requisitos do usuário em relação à forma, audiência pretendida, idioma, etc.;
 

- obter um recurso (ou seja, adquirir um recurso através de compra, empréstimo, etc., ou acessar um recurso eletrônico através de uma conexão on-line para um computador remoto);
 

- compreender a relação entre duas ou mais entidades;

- compreender o relacionamento entre a entidade descrita e um nome pelo qual essa entidade é conhecida (por exemplo, uma forma de idioma diferente do nome);

- compreender por que um nome ou título específico foi escolhido como o nome ou título preferido para a entidade.
 

ü Eficiência de custos: os dados devem atender aos requisitos funcionais para o suporte das tarefas do usuário de forma econômica.

ü Flexibilidade: os dados devem funcionar independentemente do formato, mídia ou sistema usado para armazenar ou comunicar os dados. Eles devem ser acessíveis em uma variedade de ambientes.

ü Continuidade: os dados devem ser acessíveis à integração em bancos de dados existentes (particularmente aqueles desenvolvidos usando AACR e/ou padrões ou normas catalográficas relacionadas).

Princípios da [0.4.3 RDA]: 

Ø Diferenciação: os dados que descrevem um recurso devem diferenciar esse recurso de outros recursos. Os dados que descrevem uma entidade associada a um recurso devem diferenciar essa entidade de outras entidades e de outras identidades usadas pela mesma entidade.

Ø Suficiência: os dados que descrevem um recurso devem ser suficientes para atender às necessidades do usuário em relação à seleção de um recurso apropriado.

Ø Relacionamentos: os dados que descrevem um recurso devem indicar relações significativas entre o recurso descrito e outros recursos. Os dados que descrevem uma entidade associada a um recurso devem refletir todas as relações bibliográficas significativas entre essa entidade e outras entidades.

Ø Representação: os dados que descrevem um recurso devem refletir a representação do próprio recurso. O nome ou o nome designado como o nome preferido para uma pessoa, família ou entidade corporativa deve ser o nome ou a forma do nome mais comumente encontrada em recursos associados a essa pessoa, família ou entidade corporativa ou um nome bem aceito ou a forma do nome no idioma e escrita preferida pela agência que cria os dados. Outros nomes e outras formas do nome que se encontram em recursos associados à pessoa, família ou entidade corporativa ou em fontes de referência ou que o usuário possa usar para realizar uma pesquisa devem ser registrados como nomes variantes. O título indicado como título preferido para uma obra deve ser o título mais frequentemente encontrado em recursos que incorporam a obra em seu idioma original, o título encontrado nas fontes de referência ou o título mais encontrado nos recursos que incorporam a obra. Outros títulos encontrados em recursos que incorporam a obra ou em fontes de referência, ou que o usuário possa usar para realizar uma pesquisa, devem ser registrados como títulos variantes.

Ø Precisão: os dados que descrevem um recurso devem fornecer informações suplementares para corrigir ou esclarecer representações ambíguas, ininteligíveis ou enganosas contidas em fontes de informação que façam parte do próprio recurso.

Ø Atribuição: os relacionamentos dos registros de dados entre um recurso e uma pessoa, família ou entidade corporativa associada a esse recurso devem refletir atribuições de responsabilidade constantes no próprio recurso ou em fontes de referência, independentemente de a atribuição de responsabilidade ser precisa.

Ø Uso comum ou prática: os dados que não são transcritos a partir do próprio recurso devem refletir o uso comum no idioma e na escrita preferida pela agência que cria os dados. A parte do nome de uma pessoa ou família usada como o primeiro elemento no registro do nome preferido para essa pessoa ou família deve refletir as convenções usadas no país e idioma mais intimamente associado a essa pessoa ou família.

Ø Uniformidade: os apêndices sobre capitalização, abreviações, ordem dos elementos, pontuação, etc., devem servir para promover uniformidade na apresentação de dados que descrevem um recurso ou uma entidade associada a um recurso.

Ressalte-se que os serviços ou setores de tratamento da informação deveriam estabelecer, de forma explícita, os objetivos e princípios que regem os seus processos e que resultam no catálogo bibliográfico e/ou no repositório digital. Ter uma política de catalogação documentada, definida e aplicada. Vale recordar que Antônio Panizzi e sua equipe ao estabelecerem as 91 regras de catalogação, em 1839, para a biblioteca do Museu Britânico, a conceberam sobre objetivos e princípios. Tais como: padronizar o formato dos registros bibliográficos e garantir que detalhes suficientes fossem incluídos para diferenciar um registro de outro. Que a obra contida no livro pudesse ser encontrada em outras edições, traduções e versões; e publicada sob diferentes nomes do autor e diferentes títulos e, principalmente, servir bem ao usuário. Assim, Panizzi já realçava, em meados do século 19, que o catálogo deveria ser planejado para revelar todas as edições e versões das obras, bem como as possíveis relações com outras obras existentes na coleção da biblioteca. Em resumo servir a conveniência do usuário.

Na atualidade, em pleno século 21, no Brasil, ainda não explicitamos o que é preconizado no documento ICP, não se muda da AACR2r para a RDA sem tal atenção. 

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Fonte consultada: Danskin, Alan. Statement of objectives and principles for RDA. Joint Steering Committee for Development of RDA: 10JSC/RDA/Objectives and Principles/Rev/3 1 July 2009.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.