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LEARNING COMMONS E A BIBLIOTECA

O Conselho Regional de Biblioteconomia da 8ª região de São Paulo, promoveu, recentemente, o projeto designado “Caravana do Conhecimento e Inovação”, com a finalidade de promover a contínua divulgação e a valorização das bibliotecas e do trabalho bibliotecário. 

O projeto caracteriza-se pela mobilidade e flexibilidade de realização, devendo circular pelo interior do estado de São Paulo, abordando questões relacionadas à biblioteca e sociedade, como: educação, informação, inovação tecnológica e cultura digital. O público-alvo são bibliotecários, gestores públicos, empresários e a sociedade em geral. 

O primeiro evento ocorreu na cidade de São João da Boa Vista, no qual o tema da Inovação e da Biblioteca Escolar foi bastante explorado, entre outros assuntos. Na oportunidade, além da belíssima experiência da biblioteca do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo, abordou-se o conceito do learning commons, o assunto tratado a seguir.

Falar do valor das bibliotecas, em tempo digitais, é muito importante. A percepção do acesso fácil aos recursos de informação de qualquer lugar, por meio da internet, induz ao falso entendimento de que bibliotecas e bibliotecários são desnecessários. 

Para alguns estudiosos da área da Biblioteconomia e, mesmo, profissionais atuantes no mercado de trabalho da área, em especial, ao relacionado com a educação, a profissão bibliotecária encontra-se em uma encruzilhada. Alega-se que, por anos, enfatizou-se a adoção de um modelo de aprendizado para o uso da biblioteca e de seus recursos, como um caminho a seguir. 

No entanto, na atualidade, constata-se que este não é o melhor caminho, bem como qualquer outra opção escolhida não deve ser realizada de forma solitária e destituída de propósito planejado. 

Na área da educação, em geral, há que se atentar para as políticas e padrões nacionais e regionais; para as mudanças nos indicadores de avaliação e, talvez o mais importante, para a transformação digital – que apontam para uma necessidade urgente de reimaginar ou redesenhar a biblioteca (em especial as escolares e universitárias) e o papel do bibliotecário atuante neste espaço, sob o aspecto do empoderamento dos recursos informacionais como uma fonte transformadora. 

Para atender essa urgência, as ações precisam ser sistêmicas e envolver todos agentes interessados e participantes das instituições educacionais. Estamos em um ponto de inflexão que impõe, exige uma transformação profissional, uma transformação digital e um repensar baseado em modelos como o proposto pelo conceito do learning commons.

Aliás, a ideia do learning commons não é nova. Vários espaços dedicados a este conceito surgiram na última década nos Estados Unidos e em alguns outros países, inclusive no Brasil.

Trata-se de uma abordagem na qual toda a escola passa a se constituir em uma comunidade de aprendizagem participativa e colaborativa. Por meio do learning commons, a biblioteca torna-se o centro desta aprendizagem na instituição escolar. 

O conceito se define como um método de estabelecer e orientar o aprendizado, baseado em projetos, problemas ou evidências são estabelecidos como catalisadores intelectuais do engajamento na busca e geração de informação, ideias, pensamento e diálogo. 

Neste contexto, a leitura prospera, o letramento informacional para a aprendizagem e as competências tecnológicas evoluem; e o pensamento crítico, a criatividade, a inovação e a forma lúdica do aprender são estimulados. 

Todos tornam-se um aprendiz; todo tornam-se um professor a trabalhar colaborativamente em busca da excelência. Algumas metáforas que designa o learning commons, na biblioteca, podem ser: laboratório de aprendizagem, fábrica de ideias, estúdio ou até mesmo “grande sala” (great room) da escola e da comunidade.

A questão em evidência é compreender o modelo dos “bens comuns da aprendizagem” adotados em bibliotecas, como algo que transcende as paredes da própria biblioteca, da escola ou até mesmo da comunidade usuária das políticas educacionais.

A mudança na forma de uma evolução sistêmica e participativa adotada pela biblioteca escolar deve ser planejada, implementada, divulgada e avaliada, além de celebrada. Seu êxito representa a renovação, reinvenção e inovação como recurso de aprendizagem e não só de apoio informacional.

Este tipo de recurso remodela os padrões documentais. O learning commons também é um conceito essencial para abordar programas pedagógicos inovadores.

É sabido que, anteriormente, padrões e diretrizes (nacionais e internacionais) estabeleciam indicadores para instalação, dimensão e circulação da coleção, dentre outros. Entretanto, em muitos casos, essas normativas estavam fora do alcance das escolas, além de desconectado do que poderia ser medido e o que realmente importava. 

Certamente, que indicadores para a qualidade da coleção e para as boas instalações são fatores críticos, mas sem um programa focado na aprendizagem dos alunos, tais indicadores não são sustentáveis.

O êxito de um projeto de learning commons no ambiente escolar e/ou universitário requer:

Abordagem envolvendo toda a escola ou a instituição educacional, não apenas uma simples atualização da biblioteca.

Mudança na forma de trabalho isolado do bibliotecário, do professor ou da equipe de suporte da biblioteca. Há necessidade de um esforço integrado das equipes para que qualquer transformação promovida seja duradoura.

As normas e diretrizes são projetadas para realizar a transição do ensino e da aprendizagem, em conjunto, para desenvolver a criação de ambientes colaborativos de aprendizagem física e virtual. 

Os melhores resultados serão alcançados quando o learning commons abordar metas por meio de planos de melhoria da educação escolar e superior.

Como consideração final, importa compreender que não existe uma solução definitiva, mas um conjunto de alternativas que podem fornecer um melhor ambiente e programa de aprendizado possíveis e satisfatórios para os alunos. 

Porém em qualquer das alternativas adotadas, a biblioteca escolar ou universitária é recurso essencial, também, para o bom sucesso da educação e desenvolvimento humano.

Apesar de não ter sido o país latino com pior desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), o Brasil mais uma vez mostrou que se encontra praticamente estagnado em matéria de qualidade de ensino. 

A biblioteca escolar continua a ser, nas políticas públicas, uma alternativa secundária e nem mesmo é vista. A contribuição do bibliotecário escolar é considerado um custo desnecessário. Para os gestores e políticos, melhor investir no “buraco sem fundo” partidário e em programas educacionais públicos “meia boca”, do que em ideias, bibliotecas e pessoas.

Indicação de leitura:

Kirkland, A. B.; Koechlin, C. Leading learning: Standards of practices for School Library Learning Commons in Canada: A Catalyst for Igniting Chance. Teacher Librarian, vol. 42, n. 5, p. 45-47, June 2015.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.