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COMPETÊNCIAS ATUAIS EM CATALOGAÇÃO PARA BIBLIOTECÁRIO(A)

Padrões de catalogação e metadados descritivos, apoiados por tecnologias, têm evoluído significativamente, impactando e inovando os processos de trabalho nos serviços de tratamento técnico em bibliotecas. O salto inovativo, na catalogação bibliográfica, gera desafios e imprimem reavaliação das competências necessárias ao exercício da atividade, em tempos digitais.

Neste sentido, em janeiro de 2017, os membros da Cataloging Competencies Task Force, apoiados pela ALA ALCTS CaMMS Competencies and Education for a Career in Cataloging Interest Group, publicam o documento: Core Competencies for Cataloging and Metadata Professional Librarians, no qual apontam as competências consideradas essenciais para bibliotecários de catalogação e metadados. O objetivo foi fornecer parâmetros para gestores envolvidos na contratação e/ou avaliação de profissionais e estagiários de Biblioteconomia; ou ainda, parâmetros para professores dos cursos de biblioteconomia, na reorientação do ensino destas temáticas.

Define-se as competências para uma ampla variedade de atividades realizadas por catalogadores, nas diversas tipologias de bibliotecas. Situa as competências em: conhecimentos, habilidades e comportamentos, que passam a ser importantes ao catalogador no desempenho da função. Enfatiza, entretanto, que competência em catalogação e metadados se realiza ao longo da carreira profissional, em atualização contínua. O documento mencionado, ressalta servir de complemento ao estudo anterior, também sobre competências, denominado: American Library Association’s Core Competences of Librarianship.

Um ponto destacado, nas competências levantadas, é a responsabilidade dos catalogadores diante das questões de diversidade, na área. Em especial, por fazerem uso de padrões e vocabulários, que atribuem julgamentos de valor sobre os recursos de informação. Enquanto criadores de representações, devem ter consciência sobre as suas visões de mundo, sob perspectiva histórica, cultural, racial, de gênero e religiosa. Desta forma, devem buscar identificar onde suas visões excluem outras experiências humanas. Assim, compreender o viés inerente aos padrões de catalogação e metadados é uma competência essencial para o desempenho da atividade.

Quanto as competências essenciais em: (1) conhecimentos, (2) habilidades e (3) comportamentais, observa-se que:

(1) Competências em conhecimentos

Abrangem antecedentes e contexto para o trabalho em catalogação e metadados. Incluem a compreensão de modelos conceituais sobre os padrões e a estrutura básica dos recursos de catalogação e formatos de codificação. As competências se subdividem em três conhecimentos principais: (1.1) dos princípios, (1.2) dos sistemas e (1.3) das tendências.

(1.1) Conhecimento dos princípios fundamentais da catalogação e metadados: os princípios referem-se aos padrões destinados às informações de suporte e conteúdo dos dados bibliográficos. Assim requerem compreender:

  • O contexto histórico dos princípios atuais da catalogação e metadados. Exemplo: Cinco Leis da Biblioteconomia de Ranganathan, os objetivos do catálogo de Cutter.
  • Os princípios de gestão de identidade e controle de autoridade.
  • Os princípios por trás dos vocabulários controlados, incluindo a sua estrutura e os seus benefícios e as desvantagens dos termos pré e pós-coordenados, além de poder identificar os vocabulários atualmente em uso.
  • As várias estruturas de classificação e poder identificar os esquemas de classificação em uso.
  • A padronização dos dados e os padrões de conteúdo. Exemplo: diretrizes da Resource Description and Access (RDA); Anglo-American Cataloguing Rules, 2nd edition (AACR2); Descriptive Cataloging of Rare Materials (DCRM); Describing Archives: A Content Standard (DACS); Cataloging Cultural Objects: A Guide to Describing Cultural Works and Their Images (CCO).
  • Os padrões de estrutura. Exemplo: Dublin Core Metadata Initiative (DCMI); Metadata Object Description Schema (MODS); MAchine Readable Cataloging (MARC); RDA Element Sets; Bibliographic Framework Initiative (BIBFRAME); Encoded Archival Description (EAD); Visual Resources Association Core Categories (VRA Core).
  • Os padrões de Codificação, formato e de intercâmbio de dados. Exemplo: MARC; Extensible Mark-Up Language (XML); Terse RDF Triple Language (Turtle).
  • Os padrões de atribuição de valor. Exemplo: Library of Congress Subject Headings (LCSH); Library of Congress Genre/Form Terms for Library and Archival Materials (LCGFT); Library of Congress Medium of Performance Terms for Music (LCMPT); Library of Congress Classification (LCC); Dewey Decimal Classification (DDC); RDA Value Vocabularies.
  • Os modelos conceituais para dados da biblioteca. Exemplo: Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR); Resource Description Framework (RDF).

(1.2) Conhecimentos de sistemas e tecnologias: abrangem as maneiras de gerir os dados bibliográficos. Requerem a compreensão sobre:

(1.3) Conhecimentos das tendências na atividade de catalogação e metadados: as tendências incluem recursos e padrões emergentes; bem como o entendimento sobre como a catalogação se encaixa na maioria das bibliotecas. Requer compreender:

  • Como a catalogação se encaixa no contexto da biblioteca e do patrimônio cultural (conhecimento geral). Exemplo: uso de metadados no apoio a referência e circulação; o impacto da qualidade vs. falta de qualidade dos metadados para o acesso do usuário aos recursos informacionais.
  • As principais tendências/organizações na atividade de catalogador. Exemplo: linked data, Program for Cooperative Cataloging (PCC); LC-PCC Policy Statements; RDA Steering Committee.

(2) Competências em Habilidades

Desenvolver capacidade de realizar uma catalogação eficiente, e não apenas deter o domínio de princípios e destreza de descrever; mas aprimorar a aptidão para sintetizar esses princípios e capacidades para criar com coesão, dados bibliográficos que funcionem compativelmente com os ecossistemas de metadados locais e internacionais. As habilidades se subdividem em três outras competências: (2.1) A aplicação de estruturas conceituais, padrões e princípios dentro de um sistema bibliográfico; (2.2) Aplicação de padrões universais em um contexto local; (2.3) Integração, mapeamento e transformação de metadados em um sistema bibliográfico.

(2.1) A aplicação de estruturas conceituais, padrões e princípios dentro de um sistema bibliográfico: envolve os requisitos de,

    • Formular dados consistentes. Exemplo: aplicar padrões de conteúdo e de metadados, como: diretrizes RDA, AACR2, DACS etc.
  • Promover a desambiguação de criadores, colaboradores, títulos/séries. Exemplo: utilizar instruções de um padrão de conteúdo de metadados (RDA guidelines) e/ ou documentos de boas práticas (PCC NACO Participants Manual), para formular descrições autorizadas; gerenciar identificadores para entidades.
  • Analisar e classificar recursos informacionais.
    • Exemplo: adotar as melhores práticas para análise e atribuição de assuntos (LC Subject Headings Manual); atribuir padrões de valor de metadados, como: LCSH; Medical Subject Headings (MeSH); Thesaurus for Graphics Materials (TGM); Art & Architecture Thesaurus (AAT); Sears etc.
    • Exemplo: atribuir números de classificação a partir de um padrão de valor de metadados, como: DDC; LCC; Superintendent of Documents (SuDocs) etc. 
    • Exemplo: atribuir termos de gênero/formas a partir de um padrão de valor de metadados, como: LCGFT; AAT; [the Rare Books and Manuscripts Section of the Association of College and Research Libraries (ACRL), uma divisão da ALA] - RBMS Genre Terms, etc.
  • Codificar dados acionáveis por máquina. Exemplo: utilizar padrão de estrutura de metadados (MARC, Dublin Core, MODS etc.), por meio de formato de serialização (XML, Turtle etc.)
  • Estabelecer relações entre criadores, obras etc. Exemplo: utilizar um padrão de valor de metadados (RDA Element Sets) para relacionar diferentes entidades.

(2.2) Aplicação de padrões universais em um contexto local: envolve,

  • Avaliar ou compreender as necessidades dos usuários locais quanto aos metadados da biblioteca;
  • Definir (ou aconselhar) práticas de metadados locais, incluindo a seleção de padrões para uso local;
  • Documentar as decisões tomadas e as práticas locais;
  • Projetar e modificar processos de catalogação e o fluxo de trabalho com metadados.

(2.3) Integração, mapeamento e transformação de metadados em um sistema bibliográfico: envolve,

  • Converter um registro/documento de um padrão de metadados para outro. Exemplo: MARC para XML.
  • Empregar padrões para normalizar metadados.
  • Documentar entradas e decisões de mapeamento.

(3) Competências Comportamentais

Buscar conhecimentos e habilidades apropriados para embasar as competências em catalogação. Compreender os principais conceitos e capacidades, entretanto, não garantem uma prática de catalogação bem-sucedida. As competências comportamentais descrevem os atributos pessoais que contribuem para alcançar sucesso na profissão e os caminhos do pensamento que podem ser desenvolvidos por meio de cursos e da própria experiência profissional. As competências se dividem em cinco comportamentos ou atitudes pessoais: (3.1) Comunicação interpessoal; (3.2) Orientação do serviço para o público; (3.3) Iniciativas e adaptabilidade; (3.4) Curiosidade Profissional; (3.5) Solução de problemas.

(3.1) Comunicação interpessoal

  • Colaborador efetivo;
  • Demonstrar fortes habilidades de comunicação oral e escrita;
  • Criar e manter relacionamentos profissionais;
  • Escutar com interesse genuíno e a mente aberta.

(3.2) Orientação do serviço para o público

  • Reconhecer a diversidade cultural e de populações;
  • Priorizar as necessidades dos usuários;
  • Valorizar os diversos pontos de vista e as formas de realizar as coisas.

(3.3) Iniciativas e adaptabilidade:  que demonstre

  • Criatividade;
  • Flexibilidade;
  • Conforto com as incertezas;
  • Independência;
  • Compromisso com a aprendizagem continuada ao longo da vida.

(3.4) Curiosidade Profissional

  • Manter consciente interesse pela literatura da área e a pesquisa profissional.
  • Buscar envolvimento com organizações de representação profissional.
  • Advogar pela valorização da profissão.

(3.5) Solução de problemas: desenvolver capacidades para

  • Gerenciar projetos;
  • Gerenciar fluxos de trabalho;
  • Pensar criticamente;
  • Manter atenção aos detalhes;
  • Realizar avaliações e determinar valores;
  • Contribuir para uma visão holística e os esforços de planejamento estratégico.

As competências apontadas no documento da Cataloging Competencies Task Force, sinalizam tanto o dinamismo da catalogação, quanto a sua complexidade de aplicação. Continuamente, novos saberes acumulam-se aos existentes e pulsantes para o aprendizado e o exercício da atividade. Como exemplo, desta situação, temos o IFLA Library Reference Model (LRM), publicado em setembro de 2017. Estudar catalogação nunca foi descrever regras, mas compreender e aplicar conceitos que promovam e disponibilizem o patrimônio cultural e os registros de memória para as pessoas em busca de informação e conhecimento.

 


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.