ONLINE/OFFLINE


ESCOLA COM BIBLIOTECA E BIBLIOTECÁRIO É QUALIDADE NA EDUCAÇÃO: #SOUBIBLIOTECAESCOLAR

No mês setembro de 2022 realizou-se um encontro relacionado à biblioteca escolar. Foi uma mobilização das entidades da área (FEBAB, Sindicato, CFB e CRBs) em relação à implementação da Lei n.º 12.244/2010, de universalização das bibliotecas escolares. Transcorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo, com a presença de bibliotecários, estudantes, simpatizantes e deputados defensores da causa.

O tema da biblioteca escolar encontra-se no âmbito da Biblioteconomia brasileira há muitos anos, praticamente desde os anos de 1970 quando teve início a massificação do ensino público, no país. Com a democratização, uma série de políticas públicas foram sendo estabelecidas. Por exemplo, o Plano Nacional do Livro e Leitura — PNLL, cujas diretrizes visam assegurar a democratização do acesso ao livro, o fomento e a valorização da leitura. Também, o fortalecimento da cadeia produtiva do livro como fator relevante para o incremento da produção intelectual e o desenvolvimento da economia nacional.

Apesar dos esforços, os indicadores sociais seguem pouco animadores. Segundo dados da pesquisa “O Brasil Que Lê” os projetos de incentivo à leitura sobrevivem majoritariamente de recursos próprios. A conclusão decorreu do mapeamento de 382 projetos de formação de leitores, como bibliotecas comunitárias, contação de histórias e outras iniciativas.

Reforça os baixos indicadores, o Relatório Brasil no Pisa 2018, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A avaliação de estudantes brasileiros de 15 anos de idade, registrou a média de proficiência em leitura de 413 pontos. Já, alunos de outros 16 países da OCDE alcançaram a média 487, isto é, 74 pontos acima do Brasil.

Mas, em países desenvolvidos, o problema do baixo índice de leitura com efeitos sobre o aproveitamento educacional, é uma constante preocupação.

Neste aspecto, cita-se o caso da ação bibliotecária no combate ao declínio da alfabetização em Indiana, nos Estados Unidos. Dados estaduais da avaliação de leitura demonstraram que 1 em cada 5 alunos da terceira série das escolas, no estado, não tinham vocabulário e fonética fortes. Os gestores de educação anunciaram um investimento de US$ 111 milhões para aumentar os índices dos alunos. O valor incluiu fundos para o treinamento instrucional de professores em programas de leitura e a criação de um centro de alfabetização estadual.

Um ponto destacado na ação foi a exclusão de bibliotecários do plano estabelecido. Aliás, bibliotecários escolares em contato com as agências envolvidas, pleitearam participação no centro de alfabetização, porém sem resposta.

O departamento de educação deu destaque aos especialistas em mídias. Eles irão desempenhar um papel fundamental na implementação do plano sobre como os alunos dominariam as habilidades básicas de leitura.

Apesar da decepção da comunidade profissional, a bibliotecária Emily Wilt, presidente da Association of Indiana School Librarian Educators (AISLE); e o bibliotecário Chad Heck (da Pike High School), em entrevista para órgão de impressa, destacaram o papel do bibliotecário escolar na preparação de alunos para a leitura. Apontou para o estudo de 2007 (How Principals, Teachers, and Students Benefit from Strong School Libraries: the Indiana Study) no qual é identificado que escolas com programas de biblioteca, equipe capacitada e financiamento tiveram melhor desempenho nos testes estaduais de leitura.

Segundo Wilt e Heck, a parte fundamental da alfabetização, é que os alunos devem poder escolher o que desejam ler, e a biblioteca é o lugar para dar-lhes essa oportunidade. Eles observaram que a contratação de pessoal é um desafio nas escolas do estado. Essas têm dificuldades para preencher tanto as funções docentes, quanto de funcionários de apoio. Na proposta pública, os professores terão que agregar o aprendizado e o ensino da leitura. Adicionar outra iniciativa aos docentes — é muita pressão.  Nesse sentido, os bibliotecários estão prontos e dispostos a ajudar em sala de aula. Eles também são especialistas em pedagogia. Desta forma, são aptos a auxiliar os professores que podem não se sentirem preparados no envolver dos alunos na alfabetização, e consequente impulso ao desenvolvimento estudantil.

É fato que, quando os bibliotecários têm uma equipe de apoio, podem criar programas de incentivo à leitura. Por exemplo, compor equipes discentes para resolução de quebra-cabeças e completar desafios que incorporam habilidades de leitura.

Entretanto, um único bibliotecário pode não conseguir realizar muito. Afinal, somos todos apenas humanos e sozinhos não podemos fazer muito. Quanto mais bibliotecários e funcionários adequados a biblioteca tiver nas escolas, melhores serão o desempenho dos alunos.

Na manifestação dos bibliotecários citados, uma questão levantada é a de como fazer com que os alunos se interessem pela leitura? Segundo eles, a leitura é uma parte divertida e essencial da vida. Embora os resultados dos testes estaduais demostraram que a alfabetização dos alunos está diminuindo, a circulação de livros nas bibliotecas é alta.  

No momento, há estudantes interessados em mangás e graphic novels, como “Heartstopper”, de Alice Oseman, que foi adaptado para uma série recente da Netflix. Essa é a maneira fácil de apresentar aos alunos o prazer pela leitura.

Ressaltam, porém, um dos problemas atuais enfrentados pelas bibliotecas norte-americanas, a repressão aos materiais bibliográficos. Pelo menos 1.600 títulos de livros foram proibidos em todo o estado de Indiana. 

Tais proibições ou censuras têm o efeito oposto. Estudantes do ensino médio, quando descobrem que um livro foi proibido, querem saber por que e o que contém. Além disso, se não conseguimos encontrar, acessar ou ler livros que falam conosco ou que gostamos, então não iremos tomar gosto pela leitura.

Em 2018, metade dos alunos de Indiana não contavam com um bibliotecário em suas escolas, segundo relatório da Indiana Library Federation. A existência de um profissional certificado [nas escolas] aumentaria o impacto na alfabetização discente. Embora pensar em um bibliotecário escolar possa trazer à mente alguém lendo livros, o seu trabalho está focado em capacitar diretamente os estudantes. Outro aspecto da nossa atividade é garantir que os materiais bibliográficos sejam o que as pessoas desejam e precisam ler.

O relatório apresenta premissas promissoras para mudar o cenário atual, como:

  • As bibliotecas escolares, apesar das limitações de recursos, devem transformar-se em centros de recursos de aprendizagem. Espaços de aprendizagem baseada em projetos, educação maker, atividades STEM e STEAM.
  • Professores devem realizar transição para uma formação em biblioteconomia escolar. Esses “bibliotecários escolares” podem se beneficiar dos programas de pós-graduação em Biblioteconomia para complementar as habilidades de ensino.
  • Desenvolver colaboração entre escolas, bibliotecas públicas, instituições acadêmicas. Desta forma, compartilhar recursos impressos e digitais, sistemas bibliográficos de informação, desenvolvimento profissional e pessoal.

O relatório aponta para uma confusão na designação de cargos certificados e não certificados. E, também, para falta de compreensão sobre biblioteca escolar ou do impacto de um bibliotecário escolar qualificado, no sistema educacional.

As bibliotecas escolares devem ser apoiadas por forte liderança política. Na medida em que o Estado prioriza habilidades em informática, pensamento crítico e habilidades sociais desenvolvidas através da aprendizagem baseada em projetos. Este relatório descreve cinco recomendações para os passos de implementações:

  • Esclarecer as definições e expectativas para os cargos em biblioteca escolar, certificado de bibliotecário, e de assistente não certificado. Uma compreensão compartilhada das funções e responsabilidades desta biblioteca para o século XXI, ajudará alunos, professores e gestores a obterem o máximo com o investimento limitado de recursos.
  • Facilitar pesquisas detalhadas sobre as conexões entre as atividades da biblioteca escolar e os resultados educacionais. Pesquisas adicionais são necessárias para entender as conexões entre a aprendizagem dos alunos, as atividades da biblioteca escolar. E, também, os resultados educacionais, especialmente no contexto da avaliação baseada em desempenho e ambientes digitais.
  • Destacar as melhores práticas. Experiências eficazes e modernas de biblioteca escolar serão replicadas. Isso, quando formuladores de políticas públicas, gestores, professores e bibliotecários escolares identificarem exemplos fortes e forem reconhecidos por realizarem mudanças.
  • Recrutar professores de alto desempenho para a formação em biblioteconomia escolar. Devido às aposentadorias e ao crescimento contínuo na integração da informação/tecnologia, uma abordagem para aumentar o número de bibliotecários escolares. Profissionais qualificados e destacados devem ser buscado. As estratégias de recrutamento devem priorizar a diversidade para refletir as mudanças demográficas.
  • Explorar as colaborações atuais e futuras. Algumas bibliotecas escolares e públicas já colaboram ao fornecerem sistemas de informação compartilhados e circulação, treinamento e pessoal. Oportunidades para alavancar recursos para maximizar o sucesso do aluno devem ser identificadas e replicadas, em especial, nas áreas de comunidades carentes.

Certamente, a realidade da biblioteca escolar brasileira é distinta da norte-americana. Porém, o silenciamento da voz, de uma comunidade profissional, não pode ocorrer ou aceita de forma passiva. Se temos propostas, essas devem ser divulgadas e respeitadas.

Outro aspecto é que a biblioteca escolar moderna é um ambiente de aprendizagem baseada em projetos, recursos bibliográficos impressos e digitais. Ambiente que é parte do processo formativo do aluno. Em todos os níveis de ensino, os estudantes desenvolvem fluência de leitura, compreensão, vocabulário pelo acesso à material de qualidade.

Bibliotecários escolares capacitados podem planejar aulas com professores, atuando na integração dos recursos digitais de forma a alinhar ao currículo e aos padrões pedagógicos. Assim, ajudar os gestores com iniciativas, colabora na melhoria da escola.

Auxiliares de biblioteca escolar treinados podem executar as atividades operacionais da biblioteca. Já, os bibliotecários escolares gerenciam e implementam programas de letramento informacional do corpo docente e discente.

Indicação de consulta:

Bavis, L. Librarians want to help combat Indiana’s declining literacy rate. Wfyi – Indianapolis, 5 oct. 2022. Disponível em: https://bityli.com/djpEJpsZ


   391 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
O AMBIENTE VIRTUAL DE DESCOBERTA COMPARTILHADA SHARE-VDE
Novembro/2022

Ítem Anterior

author image
SOBRE RELACIONAMENTO NADA AMOROSO NA CATALOGAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Setembro/2022



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.