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A MICROINFORMÁTICA NA BIBLIOTECA

Ao iniciar a minha participação e colaboração no projeto do prof. Oswaldo, gostaria de agradecer-lhe pela lembrança e convite. Que a iniciativa do Oswaldo seja copiada e desdobrada em outros sites da área, estimulando a comunidade bibliotecária a compartilhar suas idéias com a sociedade, agora digital. Atualmente, com a Internet (rede de informação e de relacionamento humano), temos demonstrado como a comunicação e o uso da informação possibilita às pessoas construírem e compartilharem um senso crítico e uma visão do mundo.

Como primeiro texto, faço um livre e resumido comentário sobre a tecnologia computacional na biblioteca com um viés histórico.


Os sistemas computacionais, inicialmente, foram considerados adequados para as organizações envolvidas com grande volume de transações ou gerenciamento de informações. Os primeiros sistemas baseavam-se em computadores denominados grande porte ou mainframe e em minicomputadores. Com a evolução tecnológica e facilidade de acesso à microinformática (em termos de hardware e software), fez com que se tornasse acessível para qualquer bibliotecas e unidades de informação.

Pela facilidade e flexibilidade de aplicação, e, baixo custo de aquisição e manutenção, o computador pessoal tornou-se ferramenta útil para as atividades de processamento e disseminação de informações gerenciadas pelas bibliotecas.

Se no inicio da microinformática (anos 70 do séc. XX), os microcomputadores apresentavam-se como equipamentos para o entretenimento; no final dos anos 80, já eram equipamentos essenciais ao ambiente das organizações, incluindo-se as bibliotecas.

Sobre a influência inicial dos microcomputadores, o cenário existente no período identificava, no mercado norte-americano, trinta produtores/fornecedores de sistemas informáticos para unidades de informação. Atualmente, uma simples consulta em qualquer mecanismo de busca da Web, permite obter milhares de endereços sobre fornecedores ou produtores de sistemas computacionais para bibliotecas e/ou unidades ou redes de informação.

As primeiras pesquisas sobre o uso dos microcomputadores em bibliotecas, indicavam sua aplicação para: a aquisição, notificação corrente (SDI); catalogação (catálogo do acervo, catálogo de coleções especiais); indexação (catálogos, jornais e desenvolvimento de tesauros); controle da circulação (livros e revistas); busca retrospectiva (em linha, banco de dados internos, desenvolvimento de base de dados); aquisição; treinamento (usuários, pessoal biblioteca); funções administrativas e processamento de texto. Atualmente, o mercado apresenta produtos mais completos e evoluídos, tecnologicamente, para aplicação no ambiente de informação, incluindo sistema específicos para gerenciamento de documentos eletrônicos e construção de Intranet.

Na análise da literatura biblioteconômica, já se constatava que a microinformática revolucionaria as estruturas sociais, bem como teria enorme impacto nos serviços de informação. Os primeiros artigos sobre informática bibliotecária apresentavam um conteúdo ainda genérico, citando as possibilidades de aplicações das tecnologias, buscando mais encorajar os bibliotecários a experimentarem os computadores no ambiente da biblioteca, hoje a dificuldade não é mais usar, mas o que utilizar e como utilizar melhor.

Artigos a época salientando as possibilidades dos microcomputadores nas bibliotecas, enfatizam o euforismo dos bibliotecários diante da nova tecnologia e as expectativas de mudanças ocasionadas sobre as atividades biblioteconômicas. Notadamente para a melhoria dos serviços realizados e a excitação de novas descobertas. Uma fase, em realidade, marcada por experiências tipo tentativa e erro.

Num período de poucas opções de softwares para bibliotecas (anos 70 e 80), discutia-se até mesmo as linguagens de programação no ambiente de informação bibliográfica, as características a serem observadas no desenvolvimento de programas e citando linguagens como: Basic e Pascal, por oferecerem melhores recursos na manipulação de dados textuais (comumente encontrado nas bibliotecas).

Nos anos 90, as linguagens de programação evoluem para aplicações mais poderosas e complexas (orientadas a objeto); intuitivas (para leigos desenvolverem seus próprios sistemas); e, agora para criação de páginas hipertextuais.

A partir dos anos 80, estudos sobre adequação dos microcomputadores nas bibliotecas, focam a questão da seleção de hardware e software. Orientam para a necessidade do bibliotecário escolher, primeiro o programa e depois a configuração de máquina que irá executá-lo. Premissa válida ainda. Mas que muitas bibliotecas ao dimensionarem seus projetos de informatização, se esquecem de proceder.

Outro aspecto, na introdução e uso da informática, destaca os requisitos básicos: a compatibilidade de sistemas existentes; a segurança e a integridade dos dados a serem armazenados nas máquinas.

Destaca-se, ainda, a importância do treinamento do pessoal responsável pela operação dos equipamentos; a documentação do sistema (operação, manutenção e rotinas). Além dos aspectos gerenciais e administrativos envolvidos no uso da tecnologia e o principal, o treinamento dos usuários para uso dos recursos introduzidos ou desenvolvidos pela biblioteca.

Uma citação de estudos sobre o tema é o trabalho de MILLIOT (1985), que contextualiza a microinformática no ambiente biblioteconômico por meio de estudo de caso sobre seus aspectos gerenciais e de segurança adotados. Aborda, também, o uso público de computadores e de softwares em serviços de informação e em redes cooperativas de bibliotecas. O estudo não é um guia sobre como usar computador em biblioteca, mas, ainda hoje, serve como orientação para os novos profissionais interessados na utilização de tais recursos na área de informação bibliográfica.

O uso dos microcomputadores nas bibliotecas requer do bibliotecário a obtenção e o conhecimento de informações que tratam do planejamento e análise dos projetos de sistemas a serem implementados. Os bibliotecários precisam criar política de seleção, implantação e avaliação de hardware e software, enfatizando os problemas da definição do sistema a ser implantado. Isto, em realidade, pressupõe a elaboração de um plano diretor de informática por parte das bibliotecas.

A introdução de computadores ou mesmo de qualquer outra nova tecnologia, em bibliotecas, deve ser acompanhada de diretrizes e planejamento para sua utilização. Uma forma de contribuir para o bom aproveitamento dos equipamentos, recursos e melhoria nos trabalhos desenvolvidos pelo serviço de informação.

É um disciplinamento por critérios, que vão desde as já mencionadas: procedimentos de aquisição, uso, compatibilidade de equipamento e programa, ao entendimento que gerenciar computadores requer coordenação e não somente controle. A introdução de inovações sem disciplina na biblioteca é uma garantia de futuros problemas. Os bibliotecários (gerentes ou diretores) devem reconhecer que o computador, assim como a Internet, é somente uma parte dos recursos tecnológicos para se atingir os objetivos organizacionais que a biblioteca se propõe. As tecnologias devem ser otimizadas para a busca de soluções de problemas.

O estabelecimento de um plano diretor de informática, é que orientará o desenvolvimento de utilização dos recursos tecnológicos na biblioteca. Quanto à elaboração desta política, é uma função que pode ser delegada a um indivíduo que tenha, necessariamente, conhecimentos na área de Informática e de Biblioteconomia, ou ao gerente da biblioteca, ou ainda, a um comitê multidisciplinar. Entretanto, a biblioteca deve desenvolver um consenso interno de esforços para solução de seus problemas organizacionais e de cultura tecnológica. É justamente neste entendimento que reside uma das garantias de sucesso do programa de informatização a ser adotado.

Bem, fico por aqui, mas retornarei a questão em outra oportunidade. Com relação ao autor citado, segue a referência: MILLIOT, J., comp. Micros at works: case studies of microcomputers in libraries. White Plains, Knowledge, 1985.


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BIBLIOTECÁRIO, O TRABALHADOR DO CONHECIMENTO & DICAS PARA AMAR BIBLIOTECÁRIAS
Março/2003

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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.