O CDS/ISIS MORREU? VIVA O CDS/ISIS LIVRE
A história dos sistemas para automação de bibliotecas não pode ser contada sem abrir um amplo espaço ao CDS/ISIS (Computarized Documentation System / Integrated Set for Information System), popularmente conhecido como Microisis (versões MS/DOS) e Winisis (versões MS/Windows). O sistema promovido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para apoiar projetos de informatização de bibliotecas nos países em desenvolvimento tem, certamente, impactos significativos nestes sistemas de informação.
No Brasil, em especial, é reconhecida a sua importância na promoção dos serviços de informação e na organização e gerenciamento das bases de dados bibliográficas. Ao longo de duas décadas, o software tem servido como ferramenta de trabalho de muitos bibliotecários na informatização de suas funções. Mesmo com a adoção de sistemas comerciais de maior complexidade, o espaço para utilização do Isis não se esgotou. Isto decorre de suas qualidades e características como um poderoso gerenciador de bases de dados (ainda que não relacional) e ao mesmo tempo de fácil uso e baixo custo.
A sua popularidade também decorre do baixo requisito de hardware para instalação e operação. Já, na sua primeira versão (Microisis 1.0), operava nos computadores IBM PC-XT, com 150 Kb de memória e disco rígido de 10 MB. Algo considerado ridículo nos dias atuais.
Nacionais: responsáveis pela difusão do programa em escala nacional no país.
Regionais: distribuem o programa e coordenam as atividades relacionadas do mesmo com uma comunidade de países de mesmo âmbito geográfico que careçam de distribuidores nacionais.
Especiais: formado por instituições coordenadoras de redes de informação que adotaram o CDS/ISIS, caso da BIREME responsável pela distribuição do programa entre os integrantes de sua rede de saúde.
A primeira descontinuidade do software deu-se com a versão para MS/DOS (Microisis 3.08). Em realidade, a demanda era por um sistema de interface gráfica, compatível com o sistema operacional MS/Windows (3.1 e superiores). A mudança de plataforma também gerou uma série de atualizações (a versão atual é o Winisis 1.5), bem como fizeram surgir aplicativos para uso no ambiente Web.
Atualmente, na página eletrônica do CDS/ISIS, localizado no portal da UNESCO, há diversos utilitários baseados na família ISIS, alguns são distribuídos como freeware e outros com o código fonte de sua interface. Alguns, inclusive, atendem aos anseios dos usuários em tornar seus dados acessíveis na Internet.
Freeware:
WEBLIS: sistema integrado de biblioteca para ambiente Web baseado no CDS/ISIS.
GENISIS: software para desenvolvimento de interface de consulta de bases de dados CDS/ISIS disponível em formato para ambiente Web ou em CD-ROM.
JAVAISIS: pacote cliente-servidor TCP/IP para bancos de dados de CDS/ISIS.
Fonte aberta:
XML2ISIS: utilitário de importação de dados no formato XML para um banco de dados CDS/ISIS.
IsisMarc: interface de entrada de formulário MARC para CDS/ISIS.
Nenhum software tem uma evolução autônoma. Em realidade, a evolução é sempre pautada pela demanda do mercado consumidor. O CDS/ISIS não está e nem nunca esteve isento desta influência.
Uma reunião de especialistas, ocorrida em 15 de maio e 2006, na sede da UNESCO, em Paris, debateu o futuro do software. Considerando as expectativas e os anseios da comunidade, uma nova forma de desenvolvimento e distribuição foi proposta baseada no modelo do software livre. A sugestão dos participantes foi para a reestruturação do CDS/ISIS baseada em linguagens de programação atuais, interface multiplataforma e compatibilidade com as versões existentes, além da adesão aos formatos de marcação como o XML. É estimado que o desenvolvimento e distribuição da nova concepção do software leve entre um a dois anos. O prazo dependerá da participação de instituições convidadas e dos aportes financeiros empregados no projeto.
Este acontecimento, reforça o posicionamento de usuários Isis, em encontro anterior, realizado na cidade alemã de Eschborn, em 2003, que recomendou o estabelecimento de um ‘Grupo de Coordenação ISIS' (ICG) para coordenar atividades de desenvolvimento relativas a uma nova geração de software CDS/ISIS. Nesta proposta, comporia o grupo de coordenação a UNESCO, FAO e Bireme. Junto aos participantes institucionais seriam convidados mais 8 membros individuais por um período renovável de 2 anos. Este Grupo estabeleceria em seu entorno uma força-tarefa para atuar nas ações planejadas. Considerou-se que todos os especialistas
Além dos atores principais e colaboradores envolvidos na iniciativa, documentos de eventos recomendam que outros trabalhos relacionados ao sistema Isis, existentes pelo mundo, possam ser coletados e os seus avanços aproveitados visando não reescrever as necessidades já prontas. É o caso de projetos como OpenIsis / Malete / GNI, se considerados, dariam boas contribuições nas especificações de necessidades ao novo software.
OPENISIS / MALETE / GNI
Como mencionado, o software CDS/ISIS, suas ferramentas de desenvolvimento e seus utilitários são sistemas proprietários e, em grande parte, fechados.
A comunidade usuária, desde muito tempo, se manifesta por recursos abertos e livres que permita trabalhar e interagir com bases de dados Isis em ambiente Linux e MS/Windows. Neste sentido, nasceu o projeto OpenIsis. A primeira geração de recursos desenvolvidos teve essa denominação. A segunda geração é denominada Malete, que é um servidor de bases
CLABEL: software livre para a criação de catálogos públicos de acesso em linha em unidades de informação. Em seu desenvolvimento foi empregado o WXIS e o PHP-OpenISIS, como sistemas gestores de bases de dados; para o intercâmbio de informação adotado o formato MARC 21.
IGLOO: é uma aplicação livre distribuída sob licencia GPL para a publicação de bases de dados ISIS na Web.
PHP-Openisis: interface
Finalizando
Seja o CDS/ISIS um programa livre de fonte aberta ou não, é fato que muitas empresas e profissionais em todo o mundo vivem da prestação de suporte, assessoria, desenvolvimento e customização do mesmo. Aspecto característico dos sistemas de software livre, um modelo de negócio que se oxigena não pela comercialização, mas pela prestação de serviços.
Acrescente-se, também, a decisão de vários governos em baixarem medidas a favor da adoção do software livre. Na América Latina, países como a Venezuela, Peru e Equador têm determinado às instituições estatais migração para sistemas livres. Tais fatos colaboram como elemento de persuasão a abertura do código do CDS/ISIS.
Com certeza, a adesão ao modelo livre, o estabelecimento de um Comitê de coordenação parecem ser a solução perfeita para que o programa e sua grande comunidade enfrentem o futuro com segurança, integração de esforços e menos aprisionamento tecnológico.
Fontes consultadas
Especialista em sistemas de informação ISIS faz apresentação na BIREME. Newsletter BVS 056 10/agosto/2006.
ISIS y SW Libre - Algunas respuestas. Electronic user-group for Unesco's CDS/ISIS. 13 May 2005
Report - Two-day consultation of the potential CDS/ISIS funding partners to elaborate a project proposal for the development of a new open source CDS/ISIS and to set up the funding mechanisms. UNESCO HQ, 15-16 May 2006.
UNESCO e BIREME apóiam desenvolvimento de nova plataforma ISIS. Newsletter BVS 051 07/julho/2006
Expert group makes proposals for future of UNESCO’s CDS/ISIS software. News
Communication and Information Sector's daily news service. 26-06-2006 (Paris)