MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

A TÍTULO DE “PREÂMBULO”

Meu envolvimento com a mediação da informação é antigo. Ainda como aluno, trabalhei na Fundação Getúlio Vargas (de São Paulo) junto ao Serviço de Referência. Descobri em meu primeiro emprego na área, tal fascínio por aquele segmento que o elegi como norte de meus interesses, estudos e pesquisas.

 

Um parêntese: a mediação da informação não está restrita ao trabalho desenvolvido no e pelo Serviço de Referência existente nos espaços e equipamentos informacionais, como o parágrafo acima pode, erroneamente, sugerir. Como veremos em textos posteriores, a ambiência da mediação da informação não se limita nem se sujeita a espaços restritivos e delimitadores.

 

Como boa parte dos alunos, iniciei o primeiro ano do curso de Biblioteconomia e Documentação (como era denominado na época) com pouco ou nenhum conhecimento das atribuições, das funções de um bibliotecário. Sobre a área, Biblioteconomia, menor era o meu conhecimento. A antiga e repetida frase “biblio... quê?” era proferida por meus amigos e por mim também.

 

A Biblioteconomia entrou em minha vida pela porta dos fundos, ou melhor, pelo andar superior. Descobri ao tentar me inscrever para o vestibular de Sociologia, que o período para isso já se encerrara. Mas, ainda estavam abertas para o curso de Biblioteconomia. Os documentos eram os mesmos e as inscrições estavam sendo feitas no andar superior.

 

Outro parêntese: o prédio – maravilhoso – da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo ficava, e ainda fica, na Rua General Jardim, em frente à Biblioteca Monteiro Lobato. Ao lado da Biblioteca havia um teatro – se não me engano chamado Leopoldo Fróes – derrubado tempos depois. Infelizmente, na época, os dois primeiros anos do curso estavam alocados em um prédio no Pacaembu e apenas o último ano era ministrado nas dependências do antigo e encantador casarão.

 

A decisão por prestar o vestibular para Biblioteconomia levou alguns dias e foi motivada pelo fato de eu freqüentar bibliotecas e gostar muito de ler.

 

Fiz a opção pelo período matutino, pois trabalhava à tarde e consegui, em um escritório de contabilidade, a oportunidade de exercer os poucos conhecimentos que possuía daquela área em alguns trabalhos pontuais.

 

Terminado o primeiro ano do curso, não me sentia motivado a continuá-lo. Os dois professores com os quais mais me identificava – Oswald de Andrade Filho e Julio David Leoni que, respectivamente, ministravam as disciplinas de História da Arte e Sistemática – faleceram naquele ano. Resolvi retomar minha antiga opção, Sociologia. No entanto, mais uma vez a profissão me chamou (ou me convocou). Um grande amigo, quase ao final do ano, me apresenta um recorte dos classificados de um jornal com a divulgação de uma vaga de emprego. A Fundação Getulio Vargas, de São Paulo (EAESP/FGV – Escola de Administração de Empresas de São Paulo/Fundação Getúlio Vargas), abria teste seletivo para Auxiliar de Biblioteca. Exigia-se: aluno do 2º ano do curso de Biblioteconomia; sexo masculino. Horário de trabalho: das 18h00 às 23h00, de segunda a sexta e, aos sábados, das 13h00 às 18h00. Pelo horário, obviamente, o aluno deveria estar matriculado no período matutino e, nesse período, ao menos no curso de Biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, era eu o único homem entre os alunos (ou alunas).

 

Brincando, tal amigo comentava que a vaga havia sido divulgada em um jornal pelo fato da empresa não ter meu endereço, uma vez que o perfil do candidato só seria satisfeito se eu me candidatasse. Ou seja, a Fundação Getulio Vargas estava à minha procura. Mais: a Biblioteconomia acenava com uma proposta de emprego para que eu não a abandonasse.

 

A decisão em concorrer à vaga, no entanto, só se concretizou quando soube do salário e dos benefícios oferecidos. Apesar de não ter sido o único candidato (outros dois interessados, alunos da ECA/USP – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo –, apareceram), findo uma estafante seleção, consegui ser aprovado. Com essa motivação, matriculei-me no 2º ano do curso.

 

Na verdade, não escolhi uma profissão; ao contrário, foi uma profissão que me escolheu.

 

Resolvi contar essa pequena história por três motivos: primeiro, porque sei que muitos profissionais da área vivenciaram experiência semelhante e alunos, hoje, vivem situações muito próximas a essa. Segundo, porque a escolha pelo segmento da Biblioteconomia que propicia um contato direto e constante com o público não ocorreu antecipadamente, mas fortuitamente. No entanto, após tê-lo escolhido, a relação foi dependente do meu envolvimento com a área da Biblioteconomia, do meu interesse em conhecê-la melhor. Terceiro, porque ela, história, explica um pouco das razões pelas quais resolvi escrever sobre a mediação da informação.

 

O envolvimento com a mediação da informação, como dizia anteriormente, começa com meu primeiro estágio e apesar de ter atuado em outros segmentos da área, sempre que possível, busquei trabalhar diretamente com os usuários.

 

Quando decidi pela academia, mantive o mesmo interesse, embora incluindo nele as ações que desenvolvia fora da área. Assim, comecei a trabalhar com Informação e Sociedade, Bibliotecas Públicas, Bibliotecas Alternativas e Serviço de Referência. Em 1997 propus a criação de uma disciplina denominada “Mediação da Informação” no novo (na época) currículo do curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina. Implantada, até hoje sou responsável por ela.

 

Relendo este, digamos, “preâmbulo” para a coluna, achei que ele pode ser entendido como um “ufanismo ao próprio umbigo”. Não foi com esse intuito que ele foi escrito (até porque, apesar da impressão causada com a releitura, resolvi mantê-lo). Achei que precisava contextualizar minha vida acadêmica/profissional com o tema da coluna. Os interesses não surgem do nada, não nascem de geração espontânea.  Ao contrário, são eles fruto do imbricamento, do entrelaçamento das experiências, da vivência, da maneira como entendemos e como explicamos o mundo.

 

Aliás, a mediação da informação não ocorre no vazio, mas na relação, no envolvimento das pessoas entre elas e com o mundo.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.