ONLINE/OFFLINE


A BIBLIOTECA NAS NUVENS

Houve um tempo em que comentar sobre a informatização da biblioteca era abordar diagnóstico de necessidades, seleção de software, e tipificar a arquitetura de hardware. Muitas bibliotecas, por restrições orçamentárias, tinham limitações para aquisição ou atualização dos recursos tecnológicos. Atualmente, com a onipresença da internet, o processo de informatização da biblioteca assume novas características e possibilidades. Agrega-se agora entre outros conceitos o cloud computing (computação em nuvem).

 

O conceito já tem um tempo de vigência na área das tecnologias, porém ganhou mais atenção a partir do anúncio da Microsoft sobre o desenvolvimento de seu sistema dedicado ao tema, o Windows Azure. As vantagens e qualidades deste tipo de recurso são amplas, e é também certo que gera muitas dúvidas e incertezas, como toda inovação que envolve um novo modelo de negócio, especialmente aqueles relacionados com seguridade e confiabilidade de sistemas.

 

O termo cloud computing está tão em moda que é utilizado até quando não corresponde com sua exata aplicação. Assim, importa destacar o que há nas nuvens (além de sinal de água ou raios), para que o bibliotecário possa pensar em como explorar esta moda. Afinal, como disse William Shakespeare: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia". Situando ao conceito tratado, “há mais coisas binárias transitando entre a nuvem e o fio terra do computador do que possa entender nossa vã filosofia bibliotecária”.

 

Computação em nuvem é um termo que incorpora o conceito de software como serviço. Se antes a biblioteca comprava um software (produto) para utilizá-lo conforme sua intenção, tem agora a opção de comprar o serviço de processamento do produto (software). O software como serviço está envolto de outros conceitos como: web 2.0, grid computing, Internet Service Bus, e de outras tendências tecnológicas recentes, cuja premissa básica é a confiança no ambiente da internet para satisfazer as necessidades computacionais dos usuários.

 

Definição mais ampla é o da dotação de arquitetura (computacional) consistente de recursos proporcionados por um provedor, que dá suporte a empresa no que se refere ao processamento e armazenamento das suas informações externamente, e que ficam compartilhados através da Internet. A partir destas definições básicas, surgem fornecedores tecnológicos anunciando soluções em nuvem.

 

A Nuvem

 

Entre especialistas se identifica diferentes categorias de computação em nuvem. Mas basicamente dois tipos distintos são salientados: um mais tecnológico (computação) e outro relacionado com os serviços (nuvem). No relacionado com serviços, a ênfase centra-se no acesso aos serviços desde qualquer lugar. São uma série de serviços que se estendem desde a infra-estrutura de sistema através das aplicações e os processos de negócio.

 

Para bibliotecas e serviços de informação utilizadores de correio eletrônicos (e-mail) baseado no modelo do webmail como: Google (Gmail), Yahoo, Hotmail – Windows Live. Tais exemplos são serviços baseados em nuvem.

 

A visão tecnológica se refere ao uso de tecnologias, incluídas a virtualização e a automatização, que se enfocam mais no elemento computação do que no aspecto nuvem. São as tecnologias que permitem a criação e entrega de capacidades baseadas no serviço processamento que ganham destaque nesta concepção.

 

Para bibliotecas pode-se exemplificar com recursos do tipo: LibraryWorld, recurso comercial para construir, manter e dispor o OPAC (Catálogo online de acesso público) na web; LibraryThing for Libraries, igualmente um recurso comercial para instalar via web o OPAC. Ambos os recursos oferecem o processamento e acesso aos registros armazenados externamente do ambiente da biblioteca, que só alimenta os dados.

 

Evidente, a linha que separa uma e outra visão é estreita, e passível de confusão. Sob esse aspecto, qualquer fornecedor de serviços baseado em cloud computing necessita possuir infra-estrutura capaz de suportar sua entrega. A virtualização de processos geralmente se utiliza deste tipo de infra-estrutura.

 

O perigo da computação em nuvem

 

Como toda ideia de terceirização (deixar sob responsabilidade de outros: sistemas, aplicações ou serviços), a economia de custos se mostra como vantagem mais evidente. Porém, ao mesmo tempo, a segurança se apresenta como o de maior risco. Uma situação verificada no modelo de computação em nuvem. Seus e-mails estão seguros no Gmail? O próprio Yahoo desativou, recentemente, seus serviços de construção de sites e de armazenamento de arquivos, todos gratuitos.

 

Especialistas recomendam não se esquecer de questões que passam para plano secundário quando os usuários se encantam por aproveitar a computação em nuvem. Por exemplo, nenhum responsável passaria por cima de ocorrências de falhas nos seus equipamentos, quando o sistema encontra-se instalado, em atualização ou em revisão. E, no entanto, não avalia com mesmo cuidado de detalhes quando opta pela computação em nuvem. O risco de falhas resulta alto para se depender integralmente da nuvem ao se colocar serviços e aplicações sob tal operação. Há que responder qual seria a forma adequada de gerenciar os riscos inerentes deste processo.

 

É recomendável estabelecer limites no uso de tecnologias baseadas em nuvem, considerando os prós e contras de cada serviço ou aplicação deslocada para este ambiente, e que será posta nas mãos de terceiros. Em certos casos, o produtor terá que ceder em parte o controle e a gestão desta informação. Algo que pode redundar em melhora dos custos, mas também incrementar riscos. Assim, existe a necessidade de pesar cada caso envolvido. Em qualquer situação a decisão pela adesão deve ser tomada em conjunto com responsáveis pela área de TI ou colegas mais experientes com o tema.

 

Por fim, a computação em nuvem é um modelo tecnológico que implica considerar a internet como um enorme computador (imenso datacenter). Isto pressupõe para as bibliotecas, assim como para as instituições em geral, uma revisão da cultura tecnológica e uma maneira de pensar sobre as tendências e preparar-se.


   764 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
O SERVIÇO BIBLIOTECÁRIO EM 140 TOQUES
Setembro/2009

Ítem Anterior

author image
CATALOGADORES DA OPOSIÇÃO (VERGONHOSA) OU DA BASE ALIADA (SEM - VERGONHA): A MODA É SOCIAL CATALOGUING
Julho/2009



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.