BIBLIOTECA ESCOLAR - NOVA FASE


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar. Continuação da coluna anterior, agora apenas com autoria de Marilucia Bernardi

RETORNANDO À BIBLIOTECA ESCOLAR...

Após um período de abstinência de escrever para essa coluna, devido a uma série de acomodações que foram necessárias após minhas mudanças (cidade, casa e serviço) retorno, com muito prazer, para discorrermos sobre nossa velha conhecida, a problemática e, diria mais, a emblemática, mas não menos querida Biblioteca Escolar.

 

Nesse tempo, embora não tenha participado diretamente de nenhum movimento, curso, palestras, etc. e por não estar mais na capital, procurei me atualizar por meio de livros, jornais, a mídia de uma forma geral, o próprio Infohome e aí percebi, ou melhor, senti que alguma coisa não andou, tive a sensação de termos apertado o botão do stop, em algum momento, pois quase não vi notícias a respeito de Biblioteconomia e Biblioteca Escolar que fossem grandes novidades.

 

O espanto se deve ao fato que desde meados de 2010, após a criação da Lei n.1244 de 25/05/2010 muito se falou a respeito de BE; muita bandeira foi levantada; muitos quadris foram remexidos; as instituições universitárias tiveram sua preocupação voltada a alterar currículo, etc. e o que vimos até final de 2012 foi pouca coisa. Inclusive, consultando o Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª. Região, não temos estatísticas que mostrem o aumento, ou melhor, a criação de novas bibliotecas em função dessa referida lei. Em 2011 eu escrevi que considerava aquele o ano da Biblioteca Escolar devido à ocorrência de tantos movimentos e de repente, com o passar do tempo, senti uma esfriada nos ânimos. Espero ter sido somente minha sensação...

 

Porém, como aprendi e ainda continuo nessa empreitada que é não ver só o lado negativo da situação, achei uns artigos bastante interessantes que não tratavam diretamente sobre BE, mas que implicitamente estavam ligados a ela, inclusive o artigo do Oswaldo, de set. 2012 – A leitura na Biblioteca.

 

Foram 4 artigos que citam, muito apropriadamente, a necessidade de termos clareza do papel do bibliotecário, do professor e da Biblioteca em si, para efetivamente poder colocá-la no patamar devido. Os 4 de uma maneira ou outra falam da internet, dos tablets e dos demais suportes de leitura. Realmente, quando Oswaldo cita que a pesquisa “Retratos do Brasil” considera leitor apenas aquele que lê livros e não outro suporte, isso não faz nenhum sentido principalmente nos dias atuais em que uma grande parcela dos jovens e uma ainda pequena das crianças, em fase de alfabetização, se utilizam até dos celulares para ler alguma coisa. Isso deve ser considerado também na formação de novas bibliotecas, novos acervos, pois não é mais possível conceber bibliotecas apenas com livros. Para a criação de novas bibliotecas, diria que é condição sine qua non que o acervo tenha não somente o livro impresso, mas todos os outros suportes já conhecidos.

 

Outro artigo que me chamou a atenção foi de 8 de outubro e versava sobre a preocupação que parte da população dos grandes centros urbanos tem em relação ao seu modo de vida estressante e de como isso pode antecipar a morte, apesar de tanto acesso a informação que eles têm e de tentarem viver de uma melhor maneira. E num determinado ponto, o autor do artigo – Luli Radfahrer escreve: “A internet, apesar de todos os seus defeitos, proporcionou um salto evolutivo sem comparação na história. Ainda há muito a progredir, mas existe, com certeza, cada vez menos ignorantes.” Ele aborda também que muitas pessoas evitam alterações em seus hábitos de vida, pois mudanças dão muito trabalho. Então ficar neutro e numa zona de conforto é menos perigoso.    

 

E isso podemos, perfeitamente, transferir para muitas de nossas bibliotecas e profissionais que trabalham com a leitura, os chamados tradicionalistas. Não estou dizendo que é ou está errado, mas é necessário haver mudanças para atrair os alunos, os leitores de um modo geral. É necessário evolução e evolução significa alteração, mudança, quebra de paradigmas.

 

O artigo traz em outro ponto que informação é poder, a ignorância não é uma benção e o conhecimento não é reversível, porém qualquer aprendizado gera mais responsabilidades. E eu considero que são essas responsabilidades que precisamos ensinar aos nossos jovens. Ensinar significa orientá-los, dar exemplos de como devem lidar com todo aprendizado adquirido no dia-a-dia.

 

Ainda sobre o mesmo tema, li em outro artigo, “Tablet na infância – educação e entretenimento”, do dia 10/10/12, de um evento da Folhinha de S.Paulo sobre o uso dos tablets na escola, muitíssimo interessante. Foi uma discussão calorosa entre especialistas da área de tecnologia, psicólogos e pedagogos. Um dos debatedores, que era contra o uso do equipamento na escola, disse que é necessário que a escola possua um projeto pedagógico para tal uso, assim como para os livros adotados. Nada mais certo e justo, pois na biblioteca também deve existir essa premissa, estar coadunada com o projeto da escola.

 

O importante disso tudo, que eu gostaria de ressaltar é, novamente, a necessidade de as bibliotecas - e quem nelas trabalha - estarem inseridas nessas discussões, também se preocuparem com essa mídia que já está aí, pois muitas famílias já adquiriram e as crianças já vêm para escola sabendo como usar. Quero crer que na esfera pública ainda não chega a tanto, mas os celulares sim, estes estão disponíveis a toda classe social, portanto não devemos mais perder tempo em aprender também.

 

E o 4º artigo lido, que eu gostaria de mencionar, é da Roseli Sayão, de 6/11/12 – Leitura nos olhos dos outros.   Ela faz um contraponto com a máxima “Leitura é Bom”, que os adultos falam para as crianças, para os alunos de um modo geral. Mas e os adultos lêem? “Se ler é bom porque nós, adultos, lemos tão pouco.” No Brasil, de acordo com estatísticas, a média por pessoa é de só um livro por ano. Após discorrer sobre alguns pontos na questão familiar, ela cita que as bibliotecas também poderiam funcionar como locais alavancadores do gosto pela leitura. Para isso precisam ser mais atraentes, com livros e outros suportes de informação, e atividades interessantes para toda e qualquer faixa etária que a escola atenda. E uma última informação que ela coloca é que as famílias deveriam se preocupar, quando da procura por escolas, se possuem biblioteca e como é usada pelos professores e alunos.

 

Agora eu faço uma reflexão, pois embora esteja trabalhando com Ensino Médio, me deparei com professores que lêem muito pouco ou quase nada. E se os professores não têm essa prática, como eles convencerão seus alunos de que isso é bom e necessário? E voltando ao artigo do Oswaldo, cabe ao professor, mas também ao bibliotecário, cada um no seu galho e de sua forma, fazer com que os alunos gostem e aprendam a usar todo e qualquer recurso de informação.

 

Voltando de 15 dias de férias, para meu deleite, recebi a Revista Pátio Ensino Médio e me deparei com a matéria de capa: O jovem e a leitura.  Já fui direto ao assunto que me deixou bastante alegre, otimista quanto a novos rumos e pensando em novos projetos na biblioteca onde atuo. Sugiro a leitura desses textos, de profissionais da área de Educação, Letras, entre outros. Valem a pena e apresentam, inclusive, um projeto que foi elaborado por profissionais bibliotecários do IFRS- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, que é perfeitamente aplicável em qualquer outra escola, principalmente nas de E.F.II e Ensino Médio. São as famosas Rodas de Leitura, muito desenvolvidas nas séries iniciais.

 

“O papel da biblioteca, no que tange às atividades de incentivo e promoção da leitura, transcende o domínio do ato de ler e o acesso às obras literárias disponíveis no acervo. É função social das bibliotecas, especialmente no meio acadêmico, além de disseminar o conhecimento técnico-científico, promover junto à comunidade projetos que visem ao incentivo e à disseminação da leitura”. Pátio, ano IV, n.15, dez.12/fev.13, pág.22. É totalmente desnecessário tecer algum comentário sobre isso, o texto já fala por si, com o qual concordo plenamente.    

 

Finalizando, antes de escrever esse artigo, soube pelo CRB 8 que ainda está acesa a luz no fim do túnel, ou seja, novos e diferentes rumos estão surgindo no mundo da biblioteca escolar. Tomei a liberdade de fazer um “copie e cole”, do site do Conselho que nos traz importantes informações alterando o texto da Lei 1244. Vide abaixo:

 

Fonte: redação do Última Instância, 08/01/2013 - 11h53


Está pronta para entrar no Senado proposta que obriga todas as escolas públicas de ensino básico a manterem biblioteca, com profissional capacitado a atender os alunos. O PLC (Projeto de Lei Complementar) 28/2012, do deputado Sandes Júnior (PP-GO), acrescenta dois artigos à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996) na parte que trata das diretrizes dos conteúdos curriculares da educação básica.

O projeto atribui aos sistemas de ensino a criação e a manutenção de bibliotecas escolares com acervo permanentemente atualizado e mantido em local próprio, atraente e acessível, com disponibilidade de acesso à internet para os alunos. Além disso, exige a atuação de um bibliotecário com ensino superior para atender uma ou mais escolas da mesma jurisdição de ensino.

Relatado pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o PLC 28/2012 já foi aprovado pela Câmara e tramita na CE (Comissão de Educação) em caráter terminativo, ou seja, se não houver recurso para votação no Plenário, pode seguir diretamente para sanção da presidente Dilma Rousseff. O texto atual da proposta estabelece prazo de cinco anos para as escolas cumprirem as exigências.

Leitura

O autor do projeto, deputado Sandes Júnior, sustenta a necessidade de se universalizar o acesso a bibliotecas escolares porque, em sua avaliação, um bom acervo consolida "não só o hábito e gosto pela leitura, mas também cria horizontes que ultrapassam as referências pessoais dos alunos".

No relatório em que defende a aprovação, Cássio Cunha Lima diz que “a iniciativa envolve oportunidade ímpar para a implantação de bibliotecas em escolas onde não existam”. O senador prevê, no entanto, dificuldade para a contratação de bibliotecários nas mais de 100 mil escolas rurais de pequeno porte espalhadas pelo país. Por isso, propõe pequeno ajuste no texto para permitir que grupos de unidades escolares sejam atendidos pelo mesmo profissional, sem necessidade de presença permanente em cada biblioteca.

 

É sabido que não somente nas escolas rurais haverá dificuldade em ter o profissional bibliotecário, mas também na quase totalidade de escolas públicas, municipais ou nas estaduais espalhadas pelo Brasil afora. Se essa necessidade já se faz sentir no estado de São Paulo de há muito, que dirá nos demais. Fui informada também que no Diário Oficial do Estado já foi publicado o órgão que fará exames do concurso para esse profissional acima citado, isto quer dizer, um coordenador para uma rede de bibliotecas. Esse ponto é uma questão antiga pensada, repensada e sugerida pelo CRB aos nossos governantes e, quem sabe, será atendida agora a partir dessa revisão da Lei 1244.

 

Que venha 2013 trazendo novos ares, novas propostas, novas possibilidades...


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?