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FALESEMENGASGARADGMNAAACRESTANASISBDEAGORANARDA

Um elemento bibliográfico que desaparece com o estabelecimento das novas normas descritivas RDA (Recursos: Descrição e Acesso) e ISBD (Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada) – edição consolidada – é a DGM (Designação Geral de Material). Na AACR2r (Código de Catalogação Anglo-Americano, Segunda Edição, Revisão 2002), está contida na regra 1.1C, que apesar de ter seu acréscimo como opcional, sua indicação deve basear-se na escolha de uma relação de termos contidos em duas listas. A lista 1 é indicada para as agências britânicas de catalogação, enquanto os termos da lista 2 é para o uso das agências da Austrália, Canadá e Estados Unidos. No caso de agência brasileira a opção recai na relação da lista 2, entretanto, a regra é um exemplo de ambiguidade existente na AACR2r. Isto apesar da DGM ser um atributo bibliográfico que deve qualificar em uma categoria o recurso informacional descrito.

 

A sua indicação e o próprio posicionamento na representação, na área do título e da indicação da responsabilidade, exatamente após o título principal, tem o objetivo (ou deveria ter) de alertar ao usuário sobre o tipo de material descrito. Mas convenhamos, apesar de sinalizado entre colchetes, e pela posição ocupada, se sinaliza algo é de confusão na cabeça do usuário. Algo como os tais embargos infringentes – tá condenado, mas não está! Aliás, está categorizado mas não está!

 

Em realidade, a sua utilização sempre foi motivo de controvérsias e críticas, até mesmo pelo caráter ambíguo da terminologia empregada. Há pouca clareza dos termos aplicados aos recursos ao misturar em alguns casos as características do formato físico e de conteúdo do recurso.

 

Barbara Tillet comenta que este atributo surge na edição de 1967, da AACR. Criada para atender necessidades das bibliotecas públicas em registrar a tipologia de materiais não-livro que tornavam-se crescente em seus acervos. Portanto, estes novos materiais precisavam ser identificados de maneira simples em relação às suas distintas características.

 

Esta adoção na AACR também pressionou as ISBD a incorporarem o atributo já a partir de sua edição de 1977, sendo incluída nas normas específicas para a descrição de cada tipo de material. E como em um círculo virtuoso ou vicioso, as normas específicas das ISBD serviram de referência descritiva para os distintos capítulos que integram a parte I da AACR2.

 

Por fim, os próprios capítulos da parte I, a exemplo da DGM, foram se tornando ambíguos na descrição de recursos que apresentam características descritas em mais de um capítulo. Um verdadeiro vai-e-vem-e-vai-e-vem na consulta de regras que possam subsidiar as decisões descritivas tomadas e constantemente reversíveis.

 

Apesar da DGM até conseguir contemplar em até três categorias o mesmo recurso, para isto recomenda (1.1C4) a designação multimeios ou conjuntos de peça (Kit), definida no glossário como “Item que contém duas ou mais categorias de material, nenhuma das quais pode ser identificada como predominante; denomina-se também item de multimeios”.

 

A dúvida é: será que o usuário entende tais nuances descritivas? Ainda mais com DGM distintos para o mesmo conteúdo em suportes diversos, exemplo do mapa cartográfico impresso, microfilmado e/ou digital. A duplicidade de registros gera dificuldade para o usuário ao encontrar diversas descrições do mesmo conteúdo, manifestado em diversos suportes. Em um catálogo de acesso online a situação além de estranha transmite insegurança sobre a informação. É ou não é, eis a questão da representação? – Suspira diante da tela o usuário ou um bibliotecário de referência shakespeariano.

 

Por outro lado, a questão gera dificuldades ao catalogador pela abrangência dos termos adotados em relação aos recursos que apresentam múltiplas características, e a sua indicação no OPAC. Neste aspecto, Picco Gomez destaca que na busca de soluções para este problema, a RDA foi posta a enfrentar, em especial a dicotomia evidente entre conteúdo e suporte, e na constituição de elementos que fossem úteis aos usuários para estabelecer critérios de busca durante consulta ao catálogo. Com o modelo conceitual da FRBR um reordenamento para a questão foi estabelecido. A dissonância das categorias cobertas pela DGM correspondente ao conteúdo e as relativas ao suporte ou formato do recurso, e a respectiva relação com os atributos identificados nas entidades do Grupo 1 – Obra, Expressão, Manifestação e Item, deu nova perspectiva à questão da categorização por originar os atributos: tipo de conteúdo e tipo de suporte (decorrente deste, também o tipo de mídia).

 

Em suma, as listas não desaparecem de um código para o outro. Até por gostarmos de listas, tabelas e vocabulários controlados. Temos categoria para tudo. Neste sentido, o modelo FRBR possibilitou visualizar a DGM como atributo combinatório de aspectos que se encontram em distintos níveis de abstração, como aqueles à qual se referem a entidade expressão e a entidade manifestação.

 

Com a definição dos atributos para cada tipo de entidade, a ambiguidade apresentada pela DGM tenta ser corrigida na nova norma. São identificadas as características pertinentes às entidades expressão e manifestação.

 

O que é relativo à forma na qual o conteúdo é expresso teria a ver com a entidade expressão do FRBR, e definiu o atributo tipo de conteúdo. Os aspectos relacionados com a apresentação física são identificados com a entidade manifestação, e definiu o atributo tipo de suporte.

 

Os atributos passam a diferenciar os recursos por suas distintas expressões e manifestações. Assim, uma mudança no atributo tipo de conteúdo indica uma nova expressão da obra, da mesma forma uma mudança no tipo de suporte significa uma nova manifestação da Obra.

 

A instrução 6.9 da RDA define o atributo Tipo de Conteúdo como “uma categorização que reflete a forma principal de comunicação, na qual o conteúdo expressado e percebido pelos sentidos humanos”. Exemplo: som, imagem táctil, forma tridimensional. No quadro 01 apresenta-se a relação e descrição dos Tipos de Conteúdo definidos na RDA (interpretação pessoal).

 

Quadro – 01: Relação dos Tipos de Conteúdo e Descrição

 

Conjunto de dados Cartográficos [Cartographic dataset]

Expressado por conjunto de dados codificados digitalmente e processados em computador. Dados cartográficos percebidos na forma de imagem ou tridimensional, consultar imagem cartográfica e formato cartográfico tridimensional.

Imagem cartográfica [Cartographic image]

Expressado por meio de linha, forma, sombreado, etc., visualmente percebidos como imagem fixa ou em duas dimensões. Inclui mapas, atlas, imagens de sensoriamento remoto, etc.

Imagem Cartográfica em Movimento (Cartographic moving image)

Expressado por imagem percebida como em movimento, em duas dimensões. Inclui imagens de satélite da terra ou de outros corpos celestes em movimento.

Imagem Cartográfica Tátil (Cartographic tactile image)

Expressado por linha, forma, e/ou outras formas, percebidas pelo toque como uma imagem fixa em duas dimensões.

Formato Cartográfico Tátil Tridimensional (Cartographic tactile three-dimensional form)

Expressado por forma percebida pelo toque como uma forma tridimensional.

Formato Cartográfico Tridimensional (Cartographic three-dimensional form)

Expressado por forma percebida visualmente em três dimensões. Inclui globos, modelos em relevo, etc.

Conjunto de Dados Computacionais (Computer dataset)

Expressado por conjunto de dados codificados digitalmente para serem processados em computador. Inclui dados numéricos, ambientais, etc., usado por uma aplicação de software para calcular médias, correlações, etc., ou para produzir modelos, etc., mas, normalmente, não é exibido na sua forma bruta. Dados visualizados na forma anotada, imagem ou forma tridimensional, ver movimento anotado, música anotada, imagem fixa, texto, forma tridimensional, imagem em movimento tridimensional, e imagem em movimento bidimensional. Dados percebidos na forma de áudio, ver execução musical, sons e palavras faladas. Para dados cartográficos ver conjunto de dados cartográficos.

Programa de Computador (Computer program)

Expressado por instruções codificadas digitalmente para processamento e execução em computador. Inclui sistemas operacionais, software aplicativos, etc.

Movimento Anotado (Notated movement)

Expressado por sistema de anotação para movimento percebido visualmente. Inclui toda forma de anotação de movimento percebido pelo toque.

Música Anotada (Notated music)

Expressado por sistema de anotação para música percebida visualmente. Inclui as outras formas de anotação musical percebidas pelo toque (ver música tátil).

Música Executada (Performed music)

Expressado por música na forma audível. Inclui execuções musicais gravadas, música gerada por computador, etc.

Sons (Sounds)

Conteúdos distintos do idioma ou música, expressada na forma audível. Inclui sons naturais, sons artificialmente produzidos, etc.

Palavra Falada (Spoken word)

Expressado por linguagem na forma audível. Inclui leituras gravadas, recitações, discursos, entrevistas, histórias orais, etc., falas geradas por computador, etc

Imagem Fixa (Still image)

Expressado por linha, forma, sombreamento, etc., destinados a ser visualmente percebidos como uma imagem fixa ou imagens em duas dimensões. Inclui desenhos, pinturas, diagramas, imagens fotográficas (fixas), etc.

Imagem Tátil (tactile image)

Expressado por linha, forma e/ou outras formas percebidas pelo toque como uma imagem fixa em duas dimensões.

Música anotada tátil (tactile notated music)

Expressado por sistema de anotação para música percebida pelo toque. Inclui música em Braille e outros sistemas táteis de notação musical.

Movimento anotado tátil (tactile notated movement)

Expressado por sistema de anotação para movimento destinado a ser percebido pelo toque.

Texto tátil (tactile text)

Expressado por sistema de anotação para idioma que é percebida pelo toque. Inclui texto em Braille e outros sistemas táteis para anotação de idioma.

Formato Tátil Tridimensional (tactile three-dimensional form)

O conteúdo é expresso por um formato percebido pelo toque como um formato ou formatos tridimensionais.

Texto (text)

O conteúdo é expresso por um sistema de anotação para idioma percebida visualmente. Inclui os formatos de anotação de linguagens percebidas pelo toque (ver texto tátil).

Formato Tridimensional (Three-dimensional form)

Expressado por formato percebido visualmente em três dimensões. Inclui esculturas, modelos, objetos naturais e espécimes, hologramas, etc.

Imagem em movimento tridimensional (three-dimensional moving image)

Expressado por imagens percebidas como de movimento em três dimensões. Inclui imagens em movimento 3D (usando ação ao vivo e/ou animação), etc.

Imagem em movimento bidimensional (two-dimensional moving image)

Expressado por imagens percebidas como movimento em duas dimensões. Imagens em movimento (usando ação ao vivo e/ou animação), filmes e gravações em vídeo das performances, eventos, etc., percebidas em três dimensões (ver imagem em movimento tridimensional).

 

A instrução 3.3 da RDA define o atributo Tipo de Suporte como “a categorização que reflete o formato de armazenamento e suporte que adquire um portador segundo o tipo de intermediação eletrônica necessária para facilitar o acesso ao conteúdo de um recurso informacional”. Exemplo: suporte de microfilme, cartão de memória, etc.

 

Entretanto, os autores aqui citados destacam que a definição dos dois atributos não foi suficiente para solucionar a questão do tratamento das características de conteúdos e de suportes descritos. Houve a necessidade de acrescentar um terceiro atributo contido no atributo Tipo de Suporte. Este terceiro atributo é definido pela instrução 3.2 da RDA como Tipo de Mídia e refere-se à categorização refletida no tipo de intermediação exigida para o acesso ao conteúdo do recurso informacional. Exemplo: áudio, computador, microforma, não-mediado (caso em que nenhum aparato de intermediação é necessário para o acesso). Está em um nível inferior de abstração em comparação com os termos empregados para o tipo de conteúdo. Este atributo também é utilizado na indicação do usuário dos requisitos de intermediação de equipamento eletrônico para operação e consulta de determinados recursos de informação. Na tabela 1 apresenta-se uma interpretação dos termos relativos ao Tipo de Mídia e sua descrição, e a correlação com o Tipo de Suporte.

 

Tabela 1 – Tipo de Mídia e Tipo de Suporte

 

Tipo de Mídia e Descrição

Tipo de Suporte

Áudio [Audio]

Mídia usada para armazenar sons gravados, projetado para uso com um dispositivo de reprodução, tocador de cassete, leitor de CD ou leitor de MP3. Inclui uma mídia usada para armazenar som digitalmente codificado, bem como som analógico.

Suportes de áudio [Audio carriers]

·         Cassete ou Fita cassete [Audiocassette]

·         Carretel de fita de áudio [Audiotape reel]

·         Carretel de trilha sonora [Sound-track reel]

·         Cartucho de áudio [Audio cartridge]

·         Cilindro de áudio [Audio cylinder]

·         Disco de áudio [Audio disc]

·         Rolo de áudio [Audio roll]

Computador [Computer]

Mídia usada para armazenar arquivos eletrônicos, projetados para uso com um computador. Inclui mídia acessada remotamente através de servidores de arquivos, bem como mídia de acesso direto como fitas e discos de computador.

Suportes de dados [Computer carriers]

§  Cartão de memória [Computer card]

§  Cartucho de memória [Computer chip cartridge]

§  Disco de computador [Computer disc]

§  Carretel de fita de computador [Computer tape reel]

§  Cartucho de disco de computador [Computer disc cartridge]

§  Cartucho de fita de computador [Computer tape cartridge]

§  Cassete de fita de computador [Computer tape cassette]

§  Recurso em linha [Online resource]

Microforma [Microform]

Mídia usada para armazenar imagens de tamanho reduzido não legíveis ao olho humano, projetado para uso com dispositivo, como um leitor de microfilmes ou microfichas. Inclui mídia micrográfica transparente e opaco.

Suportes de microformas [Microform carriers]

·         Cartão-janela [Aperture card]

·         Microficha [Microfiche]

·         Carretel de microfilme [Microfilm reel]

·         Cartucho de microfilme [Microfilm cartridge]

·         Cassete de microficha [Microfiche cassette]

·         Microopacos [Microopaque]

·         Rolo de microfilme [Microfilm roll]

·         Tira de microfilme [Microfilm slip]

Microscópico [Microscopic]

Mídia usada para armazenar objetos diminutos, projetados para uso com um dispositivo, como um microscópio para revelar detalhes invisíveis a olho nu.

Suportes de microscopia [Microscopic carriers]

·         Lâmina microscópica [Microscope slide]

Projetado [Projected]

Mídia usada para armazenar imagens em movimentos e estáticas, projetadas para uso com um dispositivo de projeção, como um projetor de filme de cinema, de slides ou retroprojetor. Inclui mídia destinada a projetar imagens bidimensionais e tridimensionais.

Suportes de imagens projetadas [Projected image carriers]

·         Carretel de filme [Film reel]

·         Cartucho de diafilme [Filmstrip cartridge]

·         Cartucho de filme [Film cartridge]

·         Cassete de filme [Film cassette]

·         Diafilme [Filmstrip]

·         Diapositivo [Slide]

·         Rolo de filme [Film roll]

·         Tira de filme [Film slip]

·         Transparência de retroprojetor [Overhead transparency]

Estereográfico [Stereographic]

Mídia usada para armazenar pares de imagens estáticas, projetadas para uso com um dispositivo, como um visualizador de estereoscópio ou estereográfico para dar o efeito de três dimensões.

Suportes estereográficos [Stereographic carriers]

·         Cartão estereográfico [Stereograph card]

·         Disco estereográfico [Stereograph disc]

Vídeo [Video]

Mídia usada para armazenar imagens em movimento ou estática, projetadas para uso com um dispositivo de reprodução, como um videocassete ou tocador de DVD. Inclui mídia utilizada para armazenar imagens codificadas digital ou analogicamente.

Suportes de vídeo [Video carriers]

·         Carretel de fita de vídeo [Videotape reel]

·         Vídeo cartucho [Video cartridge]

·         Videocassete [Videocassette]

·         Videodisco [Videodisc]

Não-mediado [Unmediated]

Mídia usada no armazenamento do conteúdo projetado para ser percebida diretamente por meio de um ou mais dos sentidos humanos sem o auxílio de um dispositivo intermediário. Inclui mídia contendo conteúdo visual e/ou táctil, produzido por processos como impressão, gravura, litografia, gravação, textura, etc., ou por meio de escrita, desenho, pintura, etc. Inclui também suporte utilizado para transmitir formas tridimensionais tais como esculturas, modelos, etc.

Suportes não-mediados [Unmediated carriers]

·         Ficha [Card]

·         Album Seriado [Flipchart]

·         Objeto [Object]

·         Rolo [Roll]

·         Folha [Sheet]

·         Volume [Volume]

 

Tipo de Suporte [Carrier type]: é um atributo da manifestação. Sua definição está relacionada ao tipo de mídia, porém é mais concreta e específica do que o tipo de mídia (OLIVER, 2011, p.64). O registro do Tipo de Suporte é usado para transmitir o conteúdo do recurso utilizando uma ou mais das condições listadas. Registrar os termos que podem ser aplicáveis ao recurso descrito.

 

Para Picco Gómez, a adoção dos três atributos determina a importância de utilização de um vocabulário eletrônico que a RDA define, e cujo objetivo é o de descrever aspectos significativos do recurso. Também reflete a interpretação do modelo FRBR sobre a forma na qual se expressa um recurso e como se manifesta, e as necessidades do usuário para desenvolver sua consulta. No exemplo a seguir visualiza-se a aplicação dos atributos em um registro bibliográfico no formato MARC:

 

082 00  |a 796.51092  |a B  |2 23

100 1_  |a Montgomery, Ben.

245 10  |a Grandma Gatewood's walk :  |b the inspiring story of the woman who saved the Appalachian Trail /  |c Ben Montgomery.

263 __  |a 1404

264 _1  |a Chicago, Illinois :  |b Chicago Review Press,  |c 2014.

300 __  |a p. cm.

336 __  |a text  |2 rdacontent

337 __  |a unmediated  |2 rdamedia

338 __  |a volume  |2 rdacarrier

504 __  |a Includes bibliographical references and index.

600 10  |a Gatewood, Emma Rowena Caldwell,  |d -1973.

650 _0  |a Hikers  |z Appalachian Trail  |v Biography.

650 _0  |a Women conservationists  |z Appalachian Trail  |v Biography.

651 _0  |a Appalachian Trail  |x History.

 

O mesmo propósito está determinado na ISBD-consolidada, onde os atributos estão especificados na área 0 (Área da Forma do Conteúdo e do Tipo de Mídia). Os atributos são indicados no inicio do registro, como forma de alertar o usuário sobre a forma pela qual o conteúdo de um recurso é expresso, e o tipo de suportes utilizados para transmitir esse conteúdo. A diferença para os atributos da RDA se limita a restrição aos dois elementos (Conteúdo e Mídia) de citação obrigatória na descrição, e cuja categorização é retirada de listas fechadas:

 

§  A forma do conteúdo é composta de um ou mais termos que reflitam as formas principais em que o conteúdo do recurso se expressa, e ao qual se possa agregar um ou mais termos de Qualificação do Conteúdo, que determina o tipo, a natureza sensorial, dimensão e/ou a presença ou ausência de movimento no recurso descrito, e

§  O Tipo de mídia indica o tipo(s) de suporte utilizado(s) para transmitir o conteúdo do recurso.

 

A regra 0.1 especifica uso da forma de conteúdo expressa pelo recurso, de uso obrigatório na descrição. A adoção do termo ou termos é extraída da lista, no idioma e grafia escolhida pela agência catalogadora. No caso de recursos que mesclam conteúdos sem haver um predominante, registra-se na ordem alfabética todos os termos que sejam aplicáveis para o recurso.  No quadro 02 são listados os Termos de conteúdo e respectiva definição para um comparativo com a lista da RDA.

 

Quadro 02 – Termos da Forma de Conteúdo, Definição e Alcance

 

Conjunto de dados

Conteúdo expresso por dados codificados digitalmente para processo em computador. Exemplo inclui dados numéricos, ambientais, etc., utilizados por softwares para calculo de porcentagem, correlações, etc., ou para produzir modelos, etc. Normalmente não se apresentam na sua forma pura. Exclui-se gravações digitais de música [ver música], a língua [ver palavra falada], sons [ver áudios], imagens reproduzidas por computador [ver imagem] e texto [ver texto].

Imagem

Conteúdo expresso por meio de linhas, formas, sombras, etc.; uma imagem pode ser fixa ou em movimento, em duas ou três dimensões. Exemplos incluem reproduções de artes, mapas, mapas em alto relevo, fotografias, imagens de teledetecção, estereográficas, películas e litografias.

Movimento

Conteúdo expresso por meio do movimento, ou seja, o ato ou processo de mudança na posição de um objeto ou pessoa. Exemplos incluem anotação da dança encenada ou coreografia, se exclui as imagens em movimento tais como filmes [ver imagem]

Múltiplas formas do conteúdo

Conteúdo misto no qual se aplicam três ou mais formas.

Música

Conteúdo expresso por faixas ou sons ordenados em sequências, em combinação e em relações temporais para produzir uma composição. A música pode ser escrita (anotada), interpretada ou gravada em formatos analógico ou digital, como sons vocais, instrumentais ou mecânicos com ritmo, melodia ou harmonia. Exemplos inclui música escrita, como as partituras ou partes e a música gravada, como concertos, óperas e gravações de estúdio.

Objeto

Conteúdo expresso por meio de entidades de origem natural ou artefatos criados a mão ou fabricados a máquina. Também conhecidos como estruturas tridimensionais ou realia, como exemplos de artefatos inclui esculturas, modelos, jogos, moedas, brinquedos, edifícios, utensílios, roupa, objetos culturais e outros artigos. As entidades de origem natural são, entre outras, fósseis, rochas, insetos, amostras biológicas em diapositivos, etc. Nos objetos cartográficos inclui globos, modelos em relevo e as secções transversais destinadas a se ver de lado na forma tridimensional, porém mapas em alto relevo [ver imagem].

Palavra falada

Conteúdo expresso por meio do som da voz humana. Exemplo inclui áudio-livro, emissões de rádio, gravações da historia oral e gravações em áudio de obras, sejam gravações em formato analógico ou digital.

Programa

Conteúdo expresso por instruções codificadas digitalmente para processo e interpretação em computador. Exemplo inclui sistemas operacionais, aplicações de software, etc.

Som

Conteúdo expresso por meio de sons de animais, aves, ruídos de origem natural, ou sons simulados pela voz humana ou meio digital (ou analógico). Exemplo inclui gravações de cantos de aves, propaganda de animais e efeitos de som, porém exclui a música gravada [ver música] e gravações de voz humana [ver palavra falada].

Texto

Conteúdo expresso por palavras, símbolos e números escritos. Exemplos incluem livros (impressos ou eletrônicos), correspondência, bases de dados de revistas e periódicos microfilmados.

Outras formas do conteúdo

Se nenhum termo citado é aplicável ao conteúdo do recurso descrito, adotar este termo.

 

Na regra 0.1.1 estipula-se a Qualificação do Conteúdo, obrigatório apenas se aplicável. Trata-se de ampliar a categoria de Forma do Conteúdo. Especifica o tipo, presença ou ausência de movimento, dimensão e a natureza sensorial do recurso descrito. Os termos podem ser indicados de lista da norma, no idioma e grafia escolhida pelo centro catalográfico. No quadro 03 é apresentado as especificações e definições dos termos qualitativos adotados, e respetivo número da regra.

 

Quadro 03 – Especificações das Qualificações de Conteúdo da ISBD

 

Especificação do Tipo (0.1.1.2)

Cartográfico

Conteúdo que representa a totalidade ou parte da Terra ou de qualquer corpo celeste em qualquer escala. Inclui mapas, atlas, globos, modelos em relevo, etc.

Anotado

Conteúdo expresso por meio de um sistema de anotação com objetivos artísticos (exemplo: a música, a dança, encenação) destinado a ser percebido visualmente.

Interpretado

Conteúdo expresso na forma audível ou visível, em um dado momento, e gravado em um recurso. Incluí gravações de interpretações de música ou movimento, música gerada por computador, etc.

Especificação do movimento (0.1.1.3)

(uso exclusivo com a Forma do conteúdo "imagem")

A forma do conteúdo imagem é qualificada para mostrar a percepção da presença ou ausência do movimento no conteúdo da imagem de um recurso.

Em movimento

Conteúdo de imagem percebida em movimento, geralmente por meio de uma sucessão de rápidas imagens.

Fixa

Conteúdo de imagem percebida como estática.

Especificação da Dimensão (0.1.1.4)

(uso exclusivo com a Forma do conteúdo "imagem"). A forma do conteúdo imagem se qualifica para mostrar o número das dimensões espaciais no qual pretende que seja percebido o conteúdo da imagem de um recurso.

Bidimensional

Conteúdo de imagem percebida em duas dimensões.

Tridimensional

Conteúdo de imagem percebida em três dimensões.

Especificação Sensorial (0.1.1.5)

Refere-se ao sentido humano por meio do qual se pretende seja percebido o conteúdo de um recurso tal e como se publica.

Auditivo

Conteúdo percebido por meio da audição. /a

Gustativo

Conteúdo percebido por meio do paladar.

Olfativo

Conteúdo percebido por meio do olfato.

Tátil

Conteúdo percebido por meio do tato/toque.

Visual

Conteúdo percebido por meio da visão.

 

 

A regra da ISBD (0.2), de aplicação obrigatória, refere-se às categorias do Tipo de Mídia que registra o tipo de suporte utilizado na transmissão do conteúdo contido no recurso. As categorias listadas refletem o formato da mídia de armazenamento e alojamento de um suporte em combinação com o tipo de dispositivo de intermediação necessário para representar, ver, colocar em funcionamento, etc., o conteúdo de um recurso. No quadro 04 está listado os termos dos tipos de mídia e respectiva definição e abrangência determinadas pela ISBD edição consolidada.

 

Quadro 04 – Termos dos Tipos de Mídia – Definição e Abrangência

 

Áudio

Para recursos acessíveis mediante reprodutor de áudio.

Mídias utilizadas no armazenamento de som gravado, projetado para uso com dispositivo de reprodução, como: toca-discos, reprodutor de: cassete, CD, MP3 ou iPod. Inclui as mídias utilizadas no armazenamento de som codificado digital ou  analogicamente.

Eletrônico

Para recursos acessíveis mediante computador.

Mídia utilizada na armazenagem de arquivos eletrônicos, projetados para uso com computadores. Inclui as mídias que são acessadas remotamente por meio de servidores de arquivos, bem como mídias de acesso direto, exemplo: fitas e discos de computador.

Estereográfico

Para recursos acessíveis por um visor estereográfico.

Mídia utilizada na armazenagem de pares de imagens fixas, projetada para uso com dispositivo como um estereoscópio ou visor estereográfico para gerar efeito tridimensional.

Microforma

Para recursos acessíveis por aparelho leitor de microformas.

Mídia utilizada na armazenagem de imagens reduzidas, não legível a olho humano e projetado para uso com dispositivo de leitura de microfilme ou microficha. Inclui mídias micrográficas transparentes como os opacos.

Microscópico

Para recursos acessíveis por microscópio.

Mídia utilizada para armazenar objetos diminutos, projetado para uso com dispositivo como o microscópio para revelar detalhes invisíveis ao simples olhar.

Múltiplas mídias

Para os recursos que compreendem mídias mistas na qual se aplicam três ou mais tipos de mídias.

Projetado

Para recursos acessíveis mediante projetor.

Mídias utilizadas para o armazenamento de imagens fixas ou em movimento, projetada para uso com dispositivo de projeção como um projetor de película cinematográfica, projetor de diapositivo ou retroprojetor. Inclui as mídias projetadas tanto para imagens bidimensionais e tridimensionais.

Vídeo

Para recursos acessíveis com um reprodutor de vídeo.

Mídia utilizada para armazenagem de imagens fixas ou em movimento, projetada para uso com um dispositivo de reprodução como um aparelho de reprodução de fitas de vídeo ou de DVD. Inclui as mídias utilizadas para a armazenagem de imagens codificadas digitalmente e imagens analógicas.

Outras mídias

Utiliza-se o termo “outras mídias” se nenhum dos termos citados anteriormente for aplicável ao tipo de suporte e dispositivo de intermediação necessário para transmitir, usar ou perceber o conteúdo dos recursos descritos.

Sem mediação

Para os recursos em que não é necessário nenhum dispositivo de mediação.

 

A ISBD prescreve o modelo de pontuação para disposição dos atributos:

 

·         Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo) : tipo de mídia

·         Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo; qualificação do conteúdo) : tipo de mídia

·         Forma do conteúdo. Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo) : tipo de mídia

·         Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo). Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo) : tipo de mídia

·         Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo) : tipo de mídia + Forma do conteúdo (qualificação do conteúdo) : tipo de mídia

 

Nos exemplo contidos na Norma visualiza-se a sua transcrição mesmo se utilizada em conjunto com a RDA. Exemplos:

 

Conjunto de dados : eletrônico

Conjunto de dados (cartográfico) : eletrônico

Imagem (cartográfica ; em movimento ; bidimensional) : vídeo

Imagem (cartográfica ; fixa ; bidimensional ; táctil) : sem mediação

Imagem (cartográfica ; fixa ; bidimensional ; visual) : projetado

Imagem (em movimento ; bidimensional) : projetado

Imagem (em movimento ; tridimensional) : vídeo

Imagem (fixa ; bidimensional ; táctil) : sem mediação

Imagem (fixa ; bidimensional ; visual). Movimento (anotado ; visual) : sem mediação

Imagem (fixa ; bidimensional ; visual) : projetado

Imagem (fixa ; tridimensional ; visual). : estereográfico

Movimento (anotado ; táctil) : sem mediação

Movimento (anotado ; visual) : sem mediação

Múltiplas formas do conteúdo : múltiplas mídias

Música (anotada ; táctil) : sem mediação

Música (anotada ; visual) : eletrônico

Música (interpretada) : áudio

Objeto (cartográfico ; tátil) : sem mediação

Objeto (cartográfico ; visual) : sem mediação

Objeto (tátil) : sem mediação

Programa : eletrônico

Sons : áudio

Palavra falada : áudio

Texto. Imagem (cartográfica) : eletrônico

Texto (tátil) : sem mediação

Texto (visual) : microforma

Texto (visual) : sem mediação + Texto (visual) : microforma

 

Segundo Picco Gómez, a nova fórmula de designação do material determinada pela RDA, e adotada na ISBD edição consolidada, também está adaptada para o esquema de metadados Dublin Core – DC. Para tanto, se determina o Tipo de Conteúdo no elemento Tipo do Item, e o Tipo de Suporte no elemento Formato. Para determinar o atributo Tipo de Mídia recomenda-se utilizar o DC qualificado, e no qualificador da mídia do elemento formato é registrado este atributo, conforme exemplo:

 

<dc:format>folha</dc:format>

Tipo de suporte na RDA

<dc:format>23 x 16 cm </dc:format>

 

<dcterms:medium>papel</dcterms:medium>

Tipo de mídia na RDA

<dcterms:extent>3 páginas, não numeradas</dcterms:extent>

 

<dc:format>não-mediada</dc:format>

 

<dc:type>texto</dc:type>

Tipo de conteúdo na RDA

 

Considerações:

 

Este texto apesar de longo e repetitivo nos atributos que alteram o conceito da DGM, procura salientar a manutenção do princípio de categorização dos recursos de informação, e que coloca ao catalogador outro disciplinamento na descrição do recurso. Isto pode servir como um atributo de facilitação ou não. É necessário avaliar como os usuários irão se adaptar a tais elementos descritivos. No cenário brasileiro, os catalogadores poderiam definir uma terminologia padronizada para melhor servir ao público usuário.

 

Indicação de leitura:

 

Oliver, C. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília, DF : Briquet de Lemos/Livros, 2011.

Picco Gómez, P. A. El cambio em la designación general de material [DGM] de las AACR a las RDA: definición de los atributos tipo de contenido, tipo de médio y tipo de soporte. Palabra Clave (La Plata), vol. 1, n.2, p.1-12, 2012.

Tillet, B. B. General material designations. Paper for Joint Steering Committee for Revision of AACR, may 08, 2001. Disponível em: http://www.rda-jsc.org/docs/gmd.pdf Acesso em 10/09/2011.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.