MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO: OUTRAS DEFINIÇÕES

Sueli Bortolin

 

 

As investigações que efetuamos nos últimos anos levaram-nos a descobrir que o termo mediação, cada vez mais, deixa de ser domínio de uma determinada área do conhecimento ou área profissional. O Direito, a Psicologia, a Arquitetura, a Pedagogia, o Serviço Social, a Terapia Ocupacional e também a Ciência da Informação (CI) têm se apoderado desse termo adaptando-o às suas necessidades e especificidades. Nos textos da CI, é possível encontrar, entre outras, as expressões – mediação da informação, mediação cultural, mediação da leitura, mediação pós-custodial, mediação documental, mediação profissional, mediação do conhecimento, mediação do objeto cognitivo, mediação digital e mediação do espírito.

 

Visando mapear quais pesquisadores estão envolvidos nestas temáticas, em 2010, fizemos uma busca em anais, revistas e livros da área de CI. Estabelecemos como critério para os três tipos de documentos o título, pois percebemos que a existência destas expressões no campo de palavras-chave e em resumos não assegurava a abordagem no corpo do texto. Houve caso, por exemplo, da palavra mediação aparecer no texto uma única vez e de maneira não contextualizada.

 

Especificamente para cada documento estabelecemos os seguintes critérios:

 

a) anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), os trabalhos apresentados no Grupo 3 - Mediação, Circulação e Uso da Informação (esse grupo atualmente é denominado - Mediação, Circulação e Apropriação da Informação) nas edições de 2007, 2008 e 2009;

 

b) doze revistas científicas que possuem textos na íntegra na internet e estavam listadas no site da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (ANCIB), sendo elas: Brazilian Journal of Information Science (2006-2009), Ciência da Informação (2000-2009), DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação (2000-2010), Encontros Bibli (2000-2010), Informação & Informação (2000-2009), Informação e Sociedade: Estudos (2000-2010), Perspectivas em Ciência da Informação (2004-2010), Ponto de Acesso (2007-2010), Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação (2003-2010),  Revista Ibero-americana de Ciência da Informação - RICI (2008),   Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação (2008-2009) e Transinformação (2002-2009). Destacamos que analisamos os títulos publicados apenas na seção de Artigos entre 2000 a 2010, totalizando 244 números e 1.595 artigos.

 

c) capítulos publicados em livros da área de CI a partir de 2000, totalizando 52 obras, pertencentes ao nosso acervo pessoal e ao Sistema de Bibliotecas da Universidade Estadual de Londrina.

 

Antes de listar os autores, destacamos que a quantidade de nomes não equivale ao número de trabalhos, visto que parte deles foi escrito em parceria e também que ainda há autores que publicaram mais de um trabalho nas referidas temáticas. São eles: Aida Varela, Alcenir Soares dos Reis, Aldo de Albuquerque Barreto, Anderson Fabian Ferreira Higino, Aparecida Almeida da Silva, Cécile Gardiès, Elaine Cristina Lopes, Fernanda Ribeiro, Ghisene Santos Alecrim Gonçalves, Giulia Crippa, Henriette Ferreira Gomes, Isabelle Fabre, Josiane Senié Demeurisse, Leoneide Maria Brito Martins, Lidia Eugenia Cavalcante, Ligia Maria Moreira Dumont, Maria Antonieta Pereira, Marco Antônio de Almeida, Maria Aparecida Moura, Maria Helena Toledo Costa de Barros, Marilene Abreu Barbosa, Marta Macedo Kerr Pinheiro, Marta Lígia Pomim Valentim, Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, Raquel do Rosário Santos, Rogério Luis Massensini, Silvia Maria do Espírito Santo, Sueli Bortolin, Valdir José Morigi e Vincent Liquete.

 

O objetivo deste texto não é a análise das publicações dos referidos pesquisadores, assim nos limitamos a fazer uma leitura técnica dos trabalhos que apresentaram a palavra mediação no título. Com isso foi possível perceber que ao usarem este termo os autores tiveram enfoques diferenciados, pois têm concepções diferentes da mediação, sendo ela: processo discursivo, antecipação de desejos, diálogo e interação comunicacional, fluxo de eventos, possibilidade de acesso à informação, solução de conflitos, dispositivo ou instrumento de construção de conhecimento e espaço de aprendizagem, entre outras.

 

Apesar de apontar as expressões encontradas, precisamos dizer que, nos últimos anos, o nosso envolvimento é maior com as discussões acerca da mediação da informação e da leitura. Essas discussões ocorrem na Universidade Estadual de Londrina, desde 2002, do Grupo de Pesquisa Interfaces: Informação e Conhecimento, espaço em que foram desenvolvidos, sob a coordenação de Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, os projetos: A Mediação da Informação: norteadora do fazer bibliotecário, Mediação da Informação e Múltiplas Linguagens e A Mediação da Informação e a Leitura Informacional. Na atualidade sob a coordenação de Sueli Bortolin o projeto A oralidade na mediação da informação, da literatura e da memória.

 

A respeito da mediação da informação trazemos para cá o conceito estabelecido pelo referido Grupo e que tem norteado nossas ações e publicações nos últimos anos. Mediação da Informação é

 

[...] toda ação de interferência - realizada pelo profissional da informação -, direta ou indireta; consciente ou inconsciente: singular ou plural; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional. (ALMEIDA JÚNIOR, 2008, p. 3).

 

Para possibilitar um panorama histórico da construção desse conceito descrevemos como se deram as discussões no âmbito do grupo. Primeiramente foi realizado um levantamento na literatura nacional e internacional com posterior identificação e leitura dos materiais localizados. Nessa etapa foi possível perceber que a expressão “mediação da informação” estava presente nos textos, seja ele acadêmico (todos os níveis), seja em relatos de experiência dos bibliotecários.

 

As discussões em torno dos textos permitiram inferências fundamentais para a área de CI. A primeira que destacamos é a percepção de que a mediação da informação ocorre em espaços diversificados dentro da biblioteca. Não sendo exclusividade da Divisão de Informação e Referência, como muitas pessoas pensam.

 

A respeito disso, Almeida Júnior (2008, p. 4) afirma: “O início de nossos estudos sobre o tema partiu dessa concepção que, evidentemente, mostrou-se incoerente com as reflexões suscitadas pelo desenvolvimento da pesquisa.”

 

Com isso foi possível perceber a mediação da informação numa perspectiva mais abrangente, sem limitá-la a um determinado território funcional e consequentemente atribui a todos os profissionais da biblioteca a responsabilidade de atuar como mediadores.

 

Para Almeida Júnior (2008, p. 4-5), a mediação divide-se em dois gêneros: mediação implícita e explícita. Na última se enquadram as atividades que acontecem “[...] nos espaços em que a presença do usuário é inevitável, é condição sine qua non para sua existência, mesmo que tal presença não seja física, como, por exemplo, nos acessos à distância [...].” E a mediação implícita, [...] ocorre nos espaços dos equipamentos informacionais em que as ações são desenvolvidas sem a presença física e imediata dos usuários. Nesses espaços [...] estão a seleção, o armazenamento e o processamento da informação.” (p. 4)

 

Acreditamos que a divisão proposta, em especial a implícita, além de alertar para a dimensão da mediação da informação no cotidiano do bibliotecário, pode levá-lo a perceber que suas ações, a maioria delas rotineiras, são mais importantes e úteis do que aparentam ser.

 

Essas e outras reflexões, em especial, aquelas ligada às ações realizadas no âmbito da biblioteca, provocou nos membros do grupo de pesquisa outras definições, entre elas a de mediação oral da literatura, que é “[...] toda intervenção espontânea ou planejada de um mediador de leitura visando a aproximar o leitor-ouvinte de textos literários seja por meio da voz viva ou da voz mediatizada.” (BORTOLIN, 2010, p. 136).

 

Nesse momento, influenciados pelas ideias de Almeida Júnior quando afirma – a mediação da leitura é um elemento primordial para a apropriação da informação, mas o fazer principal do bibliotecário é a mediação da informação; estamos nos preocupando em definir a mediação da informação de maneira oral.

 

Pensando nisso convido Almeida Júnior, autor desse site e dessa Coluna, para juntos tecermos, tendo como base as duas definições apresentadas acima, uma definição para a mediação oral de informação.

 

Assim daqui para frente, não será apenas a minha voz que estarão ouvindo, mas também a do Oswaldo Francisco de Almeida Júnior:

 

Toda realização do profissional da informação no sentido de possibilitar que o leitor ouvinte se aproprie da informação, seja ela veiculada por meio da voz viva ou da voz mediatizada.

 

 

Referências

 

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Mediação da informação e múltiplas linguagens. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9., 2008, São Paulo. Anais... São Paulo, 2008. CD-ROM. p. 3.

 

BORTOLIN, Sueli. Mediação oral da literatura: a voz dos bibliotecários lendo ou narrando. 2010. 232 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010.

 


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.