ORGANIZAÇÕES DO CONHECIMENTO


CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E MEDIAÇÃO

O processo de inteligência competitiva apóia-se na gestão da informação e na gestão do conhecimento para desenvolver sua atividades. Existem correntes teóricas que não acreditam na gestão do conhecimento, simplesmente pelo fato de que o conhecimento está na cabeça das pessoas. No entanto, se entendermos gestão do conhecimento como um conjunto de estratégias de ação que visam fomentar a criação, o compartilhamento/socialização e a retroalimentação do conhecimento humano, em um determinado espaço organizacional, sem dúvida nenhuma a gestão do conhecimento é possível.

"A transmissão racional e intencional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho"(1).

Partindo-se desse pressuposto, pode-se afirmar que o conhecimento gerado por meio de experiências vivenciadas, bem como as reflexões advindas dessa experiência vivenciada, possibilitam uma necessidade humana de expô-las à outro. Certamente, em muitos casos, a fala será o canal de distribuição utilizado. Contudo, outras vezes a escrita será o canal utilizado. Se isso é verdade, várias ações estratégicas podem ser desenvolvidas buscando atingir esse objetivo.

No espaço organizacional o conhecimento de cada indivíduo é extremamente importante e requer ser comunicado. A comunicação por sua vez, requer uma mediação eficiente, caso contrário, a comunicação será realizada, mas sem um resultado eficaz.

Isso significa que a mediação tem importante papel na gestão do conhecimento, pois uma pessoa ou equipe terá de ser responsável pela organicidade e logicidade do conhecimento gerado pelos indivíduos da organização, visando sua distribuição aos demais. Se fizermos uma analogia com o que ocorre no cérebro humano, em relação aos dados e informações apreendidos durante o dia, sabemos que a organização desses dados e informações ocorre enquanto o indivíduo dorme. No dia seguinte, todos os dados e informações apreendidos no dia anterior, estarão catalogados e classificados, de modo que poderão ser acessados quando necessário pelo indivíduo. Nesse caso, o próprio organismo realizou a mediação entre o conhecimento existente e o novo conhecimento apreendido/assimilado, conferindo, organizando, sistematizando, estabelecendo relações etc.

Nesse sentido, voltando ao espaço organizacional, a mediação exige, sem dúvida alguma, uma linguagem que possa ser compreendida por todos os indivíduos da organização, assim como deve ter consistência quanto ao seu significado, caso contrário o conhecimento não será compreendido e assimilado por todos.

O conhecimento gerado por cada indivíduo carrega suas crenças, seus valores etc., por esse motivo é necessário realizar uma releitura do significado das falas/palavras, buscando dar consistência antes de efetuar o compartilhamento/socialização.

Desenvolver a fala e a escrita dos indivíduos da organização é uma ação concreta que pode fomentar o compartilhamento/socialização do conhecimento. É claro que neste caso, estamos nos referindo a capacidade de expor com clareza as idéias e as reflexões, tanto oralmente quanto por meio da escrita. É importante mencionar que a escrita exige do indivíduo maior capacidade analítica, pois precisa traduzir de forma clara a situação que se quer informar.

Outra ação concreta que pode ser desenvolvida, refere-se as estruturas de comunicação disponibilizadas aos indivíduos da organização. Exatamente, por esse motivo, as tecnologias de informação e comunicação são tão importantes para a gestão do conhecimento, pois ajudam enormemente seu gerenciamento.

A construção de terminologias de especialidade voltadas ao negócio da organização é outra ação concreta que auxilia a gestão do conhecimento, propiciando maior consistência à linguagem utilizada pelas pessoas da organização e, por conseqüência, maior compreensão e assimilação.

Enfim, as ações concretas que podem ser desencadeadas, objetivando a gestão do conhecimento são inúmeras, e o mais importante é entender o significado da mediação nesse processo.
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1 VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 194p.


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MARTA LIGIA POMIM VALENTIM

Professora Titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pós-Doutorado pela Universidad de Salamanca (USAL), Espanha. Livre Docente em Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional pela Unesp. Docente de graduação e pós-graduação da Unesp, campus de Marília. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Líder do Grupo de Pesquisa "Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional". Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp, campus de Marília, gestão 2017-2021. Presidente da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), gestão 2016-2019.