AO PÉ DA ESTANTE


AO PÉ DA ESTANTE... NO AR, COM SANTOS DUMONT


Na década de 1950, Santos Dumont era incontestavelmente considerado o Pai da Aviação. Brasileiro nenhum duvidava disso, e na escola cultuávamos sua figura a cada 23 de outubro, o chamado Dia da Asa, quando então os alunos desenhavam ingênuos cartazes comemorativos do primeiro verdadeiro voo de um homem, nesse caso nosso Santos Dumont, em seu 14 Bis. Passadas menos de duas décadas, o mundo inteiro começou a ouvir cada vez mais falar dos irmãos Wright, obviamente americanos, como sendo eles os verdadeiros inventores do avião.

De lá para cá, mesmo que algum brasileiro tentasse ignorar esses irmãos, era inevitável saber de sua existência, de suas primeiras tentativas, de seus supostos sucessos como primeiros voadores, tudo isso acrescentado de um insidioso descrédito à figura e ao valor de Santos Dumont. Nas escolas, foram deixadas de lado as homenagens ao Dia da Asa, que infelizmente ficaram circunscritas à Aeronáutica.

Pergunte-se hoje a qualquer criança e veremos que a maioria delas, ao contrário das que viveram nos anos 50, talvez não tenha sequer uma pálida ideia do árduo caminho de Santos Dumont, esse brasileiro iluminado não só pela paixão de voar mas também por criar seus objetos voadores e doá-los à Humanidade.

Foi então uma prazerosa surpresa a recente descoberta de duas edições de biografias romanceadas do nosso inventor, escritas pelo gaúcho Alcy José de Vargas Cheuiche, nascido em Pelotas, no ano de 1940.

Apesar de pouco conhecido, o autor é considerado por seus pares como "um dos mais notáveis ficcionistas do Rio Gande do Sul". Alcy Cheuiche publicou mais de 15 livros, entre romance, poesia, teatro e crônica. Dentre seus romances mais festejados destacam-se Ana sem terra e Sepé-Tiaraju: romance dos Sete Povos das Missões.

O inegável valor de Cheuiche, como romancista e pesquisador, pode ser facilmente constatado por quem se dispuser a ler as obras hoje indicadas em nosso Ao pé da estante. Nelas o autor tenta resgatar a memória de Santos Dumont como Pioneiro da Aviação mas sobretudo como inventor e grande ser humano, dotado de uma alma apaixonada e generosa.

Ambas foram primorosamente editadas pela L&PM Pocket. A primeira delas, mais romanceada, escrita e editada em 1998, com esta feliz reimpressão de 2011, vem com título e subtítulo: Nos céus de Paris: o romance da vida de Santos Dumont.

A segunda, mais enxuta, e nossa preferida, traz simplesmente o título Santos Dumont, e faz parte da coleção Encyclopaedia da L&PM. Foi escrita em 2008 e editada em 2009. Nesta, no Epílogo intitulado "Quem foi o pioneiro da aviação", Cheuiche consegue provas incontestes da veracidade de nossa antiga crença em Santos Dumont como o "brasileiro que inventou o avião".

São obras imperdíveis, muito bem escritas, envolventes e emocionantes, instigantes e reveladoras, dignas de serem lidas.

Confiante no efeito multiplicador destas duas publicações, vale destacar o irônico O brasileiro voador: um romance mais-leve-que-o-ar, do consagrado escritor amazonense Márcio Souza. Criado como argumento para um filme, foi editado pela primeira vez em 1986, pela Marco Zero. Em exemplar autografado, o autor escreveu “este homem que voa de um Brasil que tem medo de decolar”. (Márcio Souza merece uma coluna própria).

Do inventor e aeronauta, destacamos também duas autobiografias, disponíveis inclusive na Internet: Dans l'air , de 1904, divulgado somente em 1938 com o título Os meus balões, e O que vi e o que nós veremos, de 1918, além de outros dois escritos postumamente encontrados, nunca publicados, e conhecidos apenas por historiadores.

Por fim, não se pode esquecer, na serrana cidade de Petrópolis, a Casa de Santos Dumont, que preserva e demonstra as inúmeras invenções deste gênio.


   600 Leituras


Saiba Mais

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




Próximo Ítem

author image
AO PÉ DA ESTANTE... COM OS 'CÃES MALDITOS DE ARQUELAU'
Maio/2016

Ítem Anterior

author image
AO PÉ DA ESTANTE… EM VENEZA
Março/2016



author image
SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.