OBRAS RARAS


UM CIENTISTA BRASILEIRO EM PORTUGAL

Durante o período colonial, a educação no Brasil existiu graças às ordens religiosas (a inaciana, principalmente),  e o século 18 viu, em nosso país, não apenas algumas bibliotecas particulares das mais importantes, mas o surgimento de cientistas e do que eu chamaria, na minha quase total ignorância sobre o assunto, de um embrião de ciência – que, na época, permeava diversas camadas da sociedade, com abrangência vertical maior do que a de hoje.

 

Havia um certo conhecimento científico aqui na então colônia, ainda que não possa ser considerado acadêmico – privilégio não concedido a nós pela Universidade de Coimbra, que não permitia aos jesuítas a validação dos diplomas por eles emitidos no Brasil, como nos informa Filgueiras citando Castelo Branco.

 

Entretanto, não apenas no Brasil brasileiros brilhavam, se me permitem a aliteração. Houve nomes como os de José Álvares Maciel (por uns considerado o químico inconfidente, amigo de infância de Tiradentes), Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, e Luis Antonio de Oliveira Mendes. Vamos falar hoje do mineiro Vicente Coelho de Seabra Silva Teles (1764-1804), químico que escreveu quase 10 livros e lecionou em Coimbra, segundo nos informa Borba de Moraes. Se, por um lado, Pombal expulsou os jesuítas do Brasil em 1759, foi durante sua administração que Domenico Vandelli foi contratado para lecionar em Coimbra (o mesmo Vandelli responsável pela vinda do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil). Esse professor foi o introdutor da Química em Portugal e Silva Teles foi seu aluno; antes mesmo de se graduar, Teles escreveu o considerado excelente “Elementos de Chimica”, oferecido à Sociedade Literária do Rio de Janeiro (que, juntamente com a Academia Científica – ambas, infelizmente de curta existência – foram as associações científicas do país nos anos de 1700). Nesse livro, Silva Teles descreve as descobertas mais recentes da Europa, como a do oxigênio, por Lavoisier, Scheele e Priestley. Esse é considerado o primeiro livro de Química publicado em Portugal.

 

Em 2002, a Sociedade Portuguesa de Química instituiu a medalha Vicente Seabra, destinada a premiar trabalhos de alta qualidade e originalidade na área de Química desenvolvidos por pesquisadores com menos de 40 anos de idade. É um reconhecimento merecido a um brasileiro que, como outros, fazem história fora do Brasil por falta de condições internas desde o período colonial.

 

Até a próxima!

 

Filgueiras, Carlos A. L. Havia alguma ciência no Brasil setecentista? In: Química Nova, São Paulo, v. 21, n. 3, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v21n3/3288.pdf. Acesso em: 3 mar 2007.

 

Castelo Branco, F. Tentativa de criação de uma universidade no Brasil no século XVII. In: Anais da Academia Portuguesa de História, 21, 1972.

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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.