ARTIGOS E TEXTOS


SOBRE OS MÉTODOS E AS TÉCNICAS DE PESQUISA: REFLEXÕES

A pesquisa, na área da Ciência da Informação, enquadra-se nas atividades dos alunos, dos professores e dos profissionais. Para os alunos, a pesquisa é uma constante, estando presente em todas as disciplinas e, mais especificamente, naquelas que focam esse tema e no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Professores que não pesquisam acabam por não acompanhar as transformações da área, por não se atualizarem. Isso se reflete nas atividades de sala de aula. Já em relação aos profissionais, a pesquisa faz parte de muitos de seus trabalhos, como o estudo de usuário, como parte na elaboração de projetos, no acompanhamento das ações dos usuários, etc.

Considerando que é quase inexistente no Brasil a figura do pesquisador, entendido como aquele que se dedica exclusivamente à pesquisa, utilizo aqui esse termo abrangendo, com diferenças de ênfases, o aluno, o professor e o profissional.

De início, é preciso deixar claro que entendo que o pesquisador, através de sua reflexão, altera, modifica, transforma o conhecimento organizado e explicitado, a partir de conceitos, de confrontos, de interação com a realidade, etc.

Essa ação pressupõe uma interferência, mesmo que indesejada, sobre o objeto de estudo. Assim, o pesquisador não é e nem pode ser neutro. Suas reflexões partem de pressupostos e conceitos, em especial aqueles que atuam na área das Ciências Humanas.

Minha posição é contrária àquela que argumenta que o pesquisador deve se afastar do objeto, visando a isenção, a imparcialidade. Essa posição é hegemônica e foi assumida pelo senso comum da área.

O emprego do “nós” e do “impessoal” nos trabalhos considerados científicos, assim como a exigência desmesurada de fundamentação para cada posição assumida, traduzem concretamente a idéia do que é entendido como o  “afastamento” do pesquisador de seu objeto de pesquisa.

Muitos trabalhos inserem citações despropositadas ou forçadas apenas para atender a exigência dessa inclusão. Alguns se transformam em textos “aspistas” tal a quantidade de aspas provenientes de citações incluídas.

Apesar de tudo isso, o autor não consegue ser isento ou imparcial. A própria escolha do tema a ser pesquisado já o identifica com os interesses do pesquisador e vem previamente carregado, por parte deste, de simpatia ou de antipatia. As hipóteses revelam um posicionamento anterior do pesquisador perante o assunto, prova de que houve uma reflexão e um interesse sobre o tema antes de ter sido ele escolhido como objeto de análise.

O pesquisador, acompanhando a idéia de isenção, não se compromete com os resultados ou com posicionamentos mais concretos e incisivos, tentando passar uma imagem de que não é ele que cria, com suas reflexões, novos conceitos, mas que apenas reproduz o que a metodologia lhe possibilita observar.

A redação dos textos científicos emprega termos como “tudo leva a crer”, “parece que”, “é possível que”, “os dados apontam para”, “somos levados a acreditar”. O autor de textos que empregam esses termos parece não se comprometer com os resultados, facilmente descartando críticas, pois nunca haverá uma posição contundente se dizemos que “os dados nos permitem supor”. 

A imparcialidade, a isenção e a neutralidade do autor nos textos científicos são uma grande farsa. A influência quebra essa falsa noção de neutralidade, de não envolvimento com o objeto de estudo.

Assim como o pesquisador não é neutro, não o é a ciência e não o é também as técnicas. Entre elas, incluem-se os instrumentos de coleta de dados. Incluem-se, também, as próprias metodologias.

Dos conceitos, constroem-se as metodologias. Muitas delas são construídas, no entanto, desconectadas dos objetivos da pesquisa. A metodologia – o como fazer – passa a ser mais importante do que o próprio objeto a ser pesquisado. O ideal é que, retomando, a metodologia seja elaborada a partir dos objetivos da pesquisa. Por sua vez, os instrumentos e ferramentas são dependentes da metodologia.

Os conceitos que norteiam e embasam as reflexões do pesquisador influem e praticamente definem a metodologia a ser utilizada. O momento da escolha do como desenvolver a pesquisa não é simplesmente uma ação técnica, desprovida de concepções anteriores e de interferências. Ao contrário, nesse momento as correntes de pensamentos se apresentam de maneira incisiva e determinam caminhos e opções.

Por exemplo: em uma pesquisa sobre analfabetismo, não basta simplesmente determinar o universo e a amostra; quantas pessoas serão questionadas, o número de perguntas; se as questões são abertas ou fechadas; se há um software adequado para a tabulação, etc. O principal, de início, é determinar o conceito de analfabeto, ou seja, como será definido o analfabeto. Será aquele que sabe ler e desenhar seu nome? Será aquele que sabe ler e compreender um pequeno texto, identificando dados explícitos? Ou será aquele que consegue entender um texto e compreender dados não explicitados? Para cada um desses conceitos, os resultados serão diferenciados e as metodologias também serão diferenciadas.

Outro exemplo: pesquisando o mercado de trabalho do profissional da informação, farão parte da pesquisa o bibliotecário e o arquivista ou serão incluídos o museólogo e o gestor da informação? Haverá espaço para o jornalista, o cientista da computação e o radialista? Será incluído o administrador de sistemas de informação? A escolha dos profissionais que compõem o grupo dos profissionais da informação alterará os resultados finais da pesquisa e determinará a metodologia a ser utilizada.

É claro que podemos amenizar (ou dissimular em alguns casos) os problemas decorrentes da não neutralidade (lembrando que não há possibilidade de um pesquisador neutro) explicando no corpo das disseminações da pesquisa, tanto os conceitos como os referenciais teóricos e a metodologia empregada. Isso, no entanto, não significa que, por esse motivo, passamos a ser isentos ou nos tornamos imparciais. Com isso, mostramos ao leitor como a pesquisa foi realizada, com base em que conceitos, seguindo quais correntes. Ele, leitor, deverá, por si só, analisar as implicações que as escolhas efetuadas pelo autor resultaram nas conclusões finais da pesquisa.

No entanto, tal situação pouco ameniza, pois o que ocorre é que, defendendo seus argumentos, pontos de vista, olhares, etc., o pesquisador tem a pesquisa como verdade e tentará impô-la aos leitores. Mesmo que inconsciente, ele, autor, não deixa claro todos os conceitos sob os quais desenvolveu a pesquisa ou não permite ao leitor a percepção de possibilidades diferentes daquelas que constam na disseminação. Por seu lado, o leitor procura respostas e termina por aceitá-las quando os resultados de uma pesquisa consultada coincidem ou se aproximam do seu modo de pensar.

A tentativa de diminuir a interferência não a elimina, ao contrário, a evidencia e a torna explícita.

A metodologia, ou mais precisamente, os métodos, técnicas e instrumentos de coleta e análise de dados, são vistos, ao menos na área da Ciência da Informação, com uma importância muito além da que de fato possuem. Nos cursos, a partir do relato dos alunos ou da percepção deles, a metodologia está restrita aos instrumentos de coleta de dados. A importância atribuída aos dados coletados é maior do que aquela que se dá à análise desses dados. Nos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, incluindo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), é perfeitamente perceptível o espaço dedicado aos dados levantados, com tabelas e gráficos, sempre maior e mais amplo do que o espaço para análise.

Também é perceptível o destaque que se dá ao “visual” do relato da pesquisa, com a preocupação em incluir tabelas e gráficos, mesmo que a redação que se segue a cada uma das tabelas seja uma repetição, uma redundância em relação ao que pode ser observado nelas. Assim, tabelas e gráficos não são usados, em boa parte das vezes, como recursos informacionais, mas como “adereços”, complementos que visam tornar esteticamente melhor a disseminação da pesquisa.

Talvez, nos cursos, entenda-se que a formação deva estar mais restrita às técnicas do que às análises. A exemplo da classificação e da catalogação, que em boa parte dos cursos focam prioritariamente os instrumentos (códigos – CDD, CDU, AACR2, etc.) em detrimento dos processos, na pesquisa, ou nas disciplinas que lidam com a pesquisa na área, o ferramental se sobrepõe à análise.

Na classificação, por exemplo, a determinação do assunto, a partir de uma leitura técnica, é muito mais difícil e se reveste de uma ação intelectual maior do que a localização de um número dentro de uma tabela de classificação. O objeto da disciplina Representação Temática, ou qualquer nome assemelhado que possua, não pode se circunscrever a esta última ação. Além disso, o número aposto ao documento, em especial ao livro, serve apenas para que o livro seja organizado e localizado nas estantes e para que nestas, os materiais sejam ordenados com base em grupos de assuntos.

Os formados, profissionais que lidam com a informação, dão-se melhor no âmbito das técnicas do que no âmbito das análises. Acompanhando empiricamente as listas de discussão da área veiculadas pela Internet (que alguns designam como listas de “pedição”, uma vez que um grande percentual das mensagens enviadas solicita a ajuda para uma gama enorme de assuntos, indo da mera localização de um livro até a contribuição para elaboração de um projeto), facilmente se observa a dificuldade que os profissionais e alunos têm em lidar com uma discussão que extrapola o espaço das técnicas. Quase inexiste a preocupação com aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais, mesmo os voltados ou relacionados intimamente com a área da informação. O foco do interesse nessas listas é exclusivamente a técnica, os instrumentos e as ferramentas.

A formação peca por se transformar, em alguns momentos, em mero “treinamento”.

A idéia de treinamento como concepção básica de formação pode ser resgatada. Quando isolado, pensando de maneira individualizada, preocupado apenas com a sua relação com o mercado, e desejoso de algo que traga a ilusão de dominar concretamente a área, o aluno aceita e exige disciplinas com forte emprego não de técnicas, mas de ferramentas, de instrumentos. Quando manipulando códigos e tabelas, o aluno aparentemente tem o domínio do exercício, o domínio do “fazer” da profissão. Ele direciona para essas disciplinas, que lhe dão segurança de aprendizado, as principais atividades, as principais atribuições do profissional. Essas disciplinas, por suas características, parecem lidar com pressupostos indiscutíveis, com verdades absolutas, devolvendo ao aluno aquela sensação de aprendizado com o qual ele conviveu durante todo o período de ensino do primeiro e segundo graus (ALMEIDA JÚNIOR, 2002, p.143-144).

A preocupação exagerada em destacar e apontar competências e habilidades para o exercício e a formação do profissional da informação também deve ser aqui lembrada. As competências e habilidades são reduzidas a tópicos que devem constar do perfil de um bom profissional ou do perfil de pessoas levando-as a se tornarem aptas para o exercício da profissão. Os aspectos subjetivos do fazer bibliotecário não são considerados. Lidando com a objetividade do fazer do profissional, tais habilidades e competências se fixam nos aspectos técnicos da área.

Além da formação, o estereótipo do profissional, com destaque para o bibliotecário, também se reveste e reflete a relação mais próxima desse profissional com as técnicas e pelo fazer apoiado por ferramentas e instrumentos.

A sociedade entende o bibliotecário como um profissional improdutivo e vinculado estreitamente às técnicas. Esse foi tema de um trabalho que desenvolvi já há algum tempo. Nele, pretendi analisar o motivo, o porquê, a causa desse estereótipo. A imagem do profissional – diferente daquela que gostaríamos – é sempre lembrada em textos publicados e palestras proferidas em eventos da área. Mas, normalmente, ela é apenas explicitada, sem discussões sobre o que a motiva. No texto (ALMEIDA JÚNIOR, 1995, p.2-5), são lembradas várias imagens que compõem o estereótipo, fruto do imaginário da população: sexo feminino, idosa, penteado (normalmente coque), funcionária pública e lendo ou tricotando.

Em resumo: o profissional bibliotecário é entendido como improdutivo, passivo, guardião do passado, ocioso, inútil, sem função social e, horror dos horrores, funcionário público.

Acrescentar a esse rol de adjetivos mais um, o de conformista, não vai piorar a imagem desse profissional que se faz presente como reprodutor da ideologia dominante, como aquele que colabora na sustentação e preservação dos valores, idéias, propostas e interesses das classes que detêm o poder (ALMEIDA JÚNIOR, 1995, p.4-5).

Outro ponto importante a ser destacado em relação às técnicas é que, não sendo neutras, tendem a reproduzir uma determinada situação social, a partir dos espaços em que trabalha o profissional da informação e dos materiais com os quais ele lida. Reproduzindo os interesses, necessidades, modo de pensar e ideologia das classes dominantes, o profissional da informação pode ser incluído entre os excludentes das outras classes, muito embora a grande maioria desses profissionais façam parte destas últimas.

A imagem conservadora, retrógrada, meramente preservacionista, com a qual a biblioteca é identificada, não poderia ser diferente. Pior: a biblioteca também foi e continua sendo vista como dissociada dos interesses da maioria da sociedade; como um equipamento cultural que contribui para a perpetuação de uma estrutura em que o saber é ferramenta para ampliação das desigualdades; como uma instituição cujas ações reforçam e ampliam o fosso entre os que possuem e os que não possuem informação (ALMEIDA JÙNIOR, 2004, p.72).

A exacerbação no valor das técnicas ofusca a visão social da profissão, deixando os profissionais da informação à mercê dos interesses das classes dominantes.

A sociedade não sabe exatamente as funções exercidas por um bibliotecário; não pode fazer uso dos espaços em que ele atua; precisa de um mínimo de habilidades para obter algo que considere útil dentro do que é armazenado e oferecido nas unidades de informação; o conteúdo veiculado nos suportes informacionais são codificados de maneira a dificultar sua compreensão, sua apreensão (a norma culta, as referências e linguagens imagéticas, tanto fixas como em movimento, a linguagem do som); revela seu total desconhecimento do fazer bibliotecário quando elege, para descrever o profissional, características que são consideradas por ele como deturpadas e discrepantes em relação à verdadeira imagem.

Partindo de todos esses pontos, entre outros tantos não arrolados, como é possível que o profissional tenha sobrevivido. Como pode ser conhecido e bem conceituado, como pode ter um bom status a profissão que não atende à maioria da população nem responde à suas necessidades? Para a sociedade, para a maioria da população, o bibliotecário é um profissional desnecessário, sem função social.

É a partir disso que acreditamos que o bibliotecário apenas sobrevive por ser apoiado e sustentado por segmentos sociais que têm nesse profissional um parceiro, talvez mais um instrumento propiciador e reprodutor das estruturas que lhe possibilitam a manutenção do poder (ALMEIDA JÚNIOR, 2004, p.84).

Vale alertar que não estou excluindo as técnicas do fazer do profissional da informação. Ao contrário, defendo que as profissões que compõem a área da Ciência da Informação são técnicas em essência. O que não é admissível é o exagero na valoração das técnicas, em detrimento de outros aspectos dessas profissões.

Retomando: nas pesquisas, mais importante do que a metodologia são as análises propiciadas pelos dados levantados. Os dados em si não alicerçam ações ou tomada de decisões.

Nos estudos de usuário – e aqui estamos no âmbito da atuação do profissional – há um espaço na construção do instrumento de coleta e na própria coleta de dados. A partir dos dados obtidos, poucas ou quase nenhuma são as análises resultantes. Parece que o profissional da área não sabe o que fazer com os dados levantados. Tem-se então, uma grande quantidade de dados, mas que não resultam em uma ação concreta.

Acompanhando um modo de entender o fazer de sua área, unicamente técnico, o profissional da informação transporta esse entendimento para todas as suas atividades, incluindo aquelas que dependem de pesquisas.

Os instrumentos de coleta

Retomando a idéia de interferência, está ela presente no momento da escolha da maneira como se desenvolverá a pesquisa.

Nas disciplinas que têm o assunto como interesse, o segmento mais facilmente compreensível pelos alunos é justamente a metodologia. Problema, objetivos, justificativa, hipóteses, análises, etc., estão em um plano mais subjetivo, mais intangível. A metodologia, por sua vez, implica em procedimentos mais concretos e passíveis de controle. Pode-se receber treinamento, utilizar softwares para a tabulação, empregar critérios matemáticos para a amostragem, produzir gráficos e tabelas sofisticadas melhorando o entendimento visual de dados brutos, etc. São ações calcadas em padrões, normas, técnicas definidas. Há pouco espaço para inovações ou tentativas de mudanças. Nas pesquisas este não é, tradicionalmente, o espaço da criatividade.

Assim, nas disciplinas sobre pesquisa, mesmo que não seja essa a intenção, os alunos se preocupam com a metodologia, pois, acreditam eles, é mais fácil para o professor observar erros e há pouco espaço para apresentar opiniões próprias.

Desde o ensino fundamental, os alunos entendem as disciplinas que não lidam com dados, fatos, normas ou regras como as mais “fáceis”, pois permitem, a partir do senso comum do aluno, tecer opiniões próprias e não são, tais disciplinas, dependentes de um conhecimento fechado e sistematizado. Nestas se incluem a História, a Filosofia, a Educação Artística, etc. Nas outras estão incluídas a Matemática e o Português. Os alunos “aceitam” ser reprovados nas disciplinas que reproduzem normas e regras, mas não nas outras.

Há uma certa razão nesse entendimento, uma vez que disciplinas como História, Filosofia, etc., estão estruturadas em conceitos e estes não são representativos de verdades absolutas.

Os instrumentos de coleta se fixam a padrões e acredita-se que eles, se seguidos à risca, impedem e evitam a subjetividade, tornando as respostas isentas de interferências. Há a possibilidade, sob esse ponto de vista do qual não compartilho, de os instrumentos serem neutros. Assumindo essa neutralidade, os resultados, as respostas às questões, refletem exatamente o pensamento dos respondentes.

O questionário, por exemplo, mesmo quando precedido de um pré-teste, terá problemas de entendimento, pois o público atingido por ele é heterogêneo apesar de, em boa parte das vezes, estar restrito a determinados ambientes, sejam físicos ou virtuais. Outros fatores influem nas respostas obtidas, como a pressa, a desconfiança em pesquisas, temperatura, ruído, bem ou mal estar, ambiente, etc. Mais: a forma como o pesquisador se dirige ao respondente influi sobremaneira nas respostas, pois, a priori, determina uma simpatia ou uma animosidade à pesquisa; a relação do respondente com o tema pesquisado que o predispõe à sinceridade ou não; se o questionado responde a determinadas perguntas na frente do pesquisador, pode omitir ou mesmo alterar respostas para “agradar” ou mostrar uma outra “imagem”; a instituição à qual pertence o pesquisador, etc.

Muitos são os problemas que podem afetar ou interferir na coleta de dados quando utiliza-se o questionário como instrumento.

O mesmo se dá em relação à entrevista e ao roteiro elaborado para realizá-la. Vários dos itens apresentados para o questionário são válidos aqui também, acrescidos de outros, como: a forma como o pesquisador apresenta cada uma das questões, pode ser diferente para os diversos entrevistados; preconceitos pré-existentes, tanto no entrevistador como no entrevistado; dificuldade para desenvolver um raciocínio, na formulação da questão e na resposta, etc.

Finalizando

A proposta do texto foi abordar o tema da pesquisa a partir de um ponto de vista crítico em relação a aspectos pouco ou nada discutidos na área. Procurei enfatizar a preocupação exagerada com os aspectos formais da pesquisa na área da Ciência da Informação, em especial com a metodologia, suas técnicas e seus instrumentos. Outros segmentos presentes na pesquisa poderiam ter sido objeto de análise, embora o espaço e a intenção do artigo não os privilegiaram. Seria o caso, por exemplo, dos tipos e dos métodos de pesquisa: os problemas existentes na pesquisa descritiva ou, no âmbito dos métodos, especificamente na pesquisa participante ou pesquisa ação. Tais problemas são facilmente detectados e precisam ser evidenciados, destacados e analisados.

Por fim, devo alertar, como já ressaltado no decorrer do texto, que não sou contra as técnicas, sejam elas vinculadas à pesquisa ou não, mas contra a exacerbação do valor dado a elas quando comparado com as análises dos dados obtidos. O resultado das pesquisas não pode prescindir de uma ação reflexiva, concretizada com base nas análises, muito mais do que meramente nos dados conseguidos pelos instrumentos de coleta.

Falta, na área da Ciência da Informação, uma discussão sistematizada dos problemas da pesquisa que aborda temas e assuntos que dizem respeito a seu objeto de estudo. É provável que essa falta – e aqui não estou afirmando, pois não possuo dados suficientes para apoiar uma assertiva – seja motivada pela acanhada existência de pesquisas na área.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca pública: ambigüidade, conformismo e ação guerrilheira do bibliotecário. São Paulo: APB, 1995. (Ensaios PAB, 15).

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Formação, formatação: profissionais da informação produzidos em série. In: VALENTIM, Marta Ligia Pomim (Org). Formação do profissional da informação. São Paulo: Polis, 2002. p.133-148.

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Profissional bibliotecário: um pacto com o excludente. In: BAPTISTA, Sofia Galvão, MUELLER, Suzana Pinheiro Machado (Org). Profissional da informação: o espaço de trabalho. Brasília: Thesaurus, 2004. (Estudos Avançados em Ciência da Informação, v3).

(Publicado originalmente em: ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Sobre os métodos e as técnicas de pesquisas: reflexões. VALENTIM, Marta Lígia Pomim (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Informação. São Paulo: Polis, 2005. 176p. p.161-171, (Coleção Palavra-Chave, 16) Disponível  em:  https://abecin.org.br/wp-content/uploads/2021/03/Metodos-qualitativos.pdf   

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.