ARTIGOS E TEXTOS


ESTRUTURA ASSOCIATIVA DOS BIBLIOTECÁRIOS

A constituição de um Sindicato de Bibliotecários ou de qualquer outra categoria profissional, por si só, parece representar um avanço da estrutura associativista. Parece e, de fato, significa um avanço – significa um salto qualitativo, significa a consolidação e o amadurecimento do sistema associativo de uma profissão. Através da criação do Sindicato, deixamos a representação individual – exercida pelas associações, quer civis ou profissionais – para começarmos a desenvolver a representação coletiva. O sindicato, oficial e legalmente, desempenha o papel de porta-voz, especificamente em nosso caso, dos legítimos interesses da classe bibliotecária. Nossas reivindicações comuns; os problemas enfrentados pela maioria dos profissionais bibliotecários; a relação com outras categorias e, principalmente, com as instâncias do poder, sobre questões salariais, trabalhistas, de condições de trabalho etc., passam a contar, a partir da existência de um sindicato da categoria, com um canal de exteriorização que viabiliza seu conhecimento por parte da sociedade. Legitimados por uma entidade oficialmente reconhecida, podemos expressar nossas necessidades e anseios e lutar pela concretização de nossas reivindicações, embasados, obviamente, em amplos e intensos debates originados e incentivados no interior da classe bibliotecária. Propostas políticas mais abrangentes, principalmente aquelas que interferem direta ou indiretamente com os trabalhadores, exigem uma posição dos bibliotecários. Não podemos esquecer nunca que o bibliotecário é um trabalhador assalariado. O sindicato posicionando-se a respeito dessas propostas, irá advogar, de forma muito contundente e efetiva, também para os bibliotecários, o direito de participar nas decisões sobre os destinos do país, o direito de determinar os rumos da história de nosso povo.

Apesar de acreditarmos e insistirmos na necessidade de criação de sindicatos de bibliotecários com base nos diversos Estados, convém ressaltar dois pontos que a experiência, fruto de um trabalho junto ao movimento associativo, demonstrou como importantes.

Em primeiro lugar, a existência de um sindicato em nossa profissão em um Estado, não significa, necessariamente, a extinção ou o esvaziamento da Associação. Ao contrário, a atuação dessas duas entidades torna nítida a imprescindível divisão de funções. Quando da existência apenas da associação, esta acumula encargos que requerem uma atuação muito maior do que a capacidade que ela possui para enfrentá-los e desenvolvê-los. O objetivo principal de uma associação está voltado para a reciclagem e atualização do profissional bibliotecário, quer através de cursos, palestras, eventos, quer através de publicações, periódicas ou não. Promover debates que enfoquem não só a profissão, como também o profissional e os locais onde ele atua, está presente de igual maneira, nos interesses principais da associação. Somando-se a esses objetivos, aqueles referentes a salário, mercado e condições de trabalho etc., torna evidente a total incapacidade da associação em administrar todas essas incumbências, já que sabemos das dificuldades enfrentadas, principalmente quanto aos aspectos financeiros e ao reduzido número de pessoas envolvidas em cada um dos trabalhos. O contrário, ou seja, a existência apenas do sindicato, modifica, simplesmente, o nome da entidade, que deve gerenciar, sem conseguir, as dificuldades e os problemas, com agravante: a entidade sindical é impelida, por força das exigências das bases, a priorizar a organização de cursos, palestras e eventos, relegando por total impossibilidade administrativa e estrutural, as funções que lhe são próprias. Um perfeito entrosamento entre sindicato e associação deve ser buscado mesmo que sua concretização seja reconhecidamente difícil.

O segundo ponto a ser abordado tem sua origem na própria passividade da classe bibliotecária. A criação do sindicato, em si, não transforma a profissão, não altera absolutamente nada, caso a participação do profissional no movimento associativo permaneça na situação em que hoje está. O sindicato surge oriundo do trabalho, do esforço, da atuação dos bibliotecários e sua importância no âmbito social, sua competência e capacidade em transformar as reivindicações em produtos concretos é consequência de uma atividade coletiva, da mobilização e da participação efetiva dos profissionais.

A associação e o sindicato, sozinhos, não fazem milagres, quando muito, conseguem modificar, superficial e momentaneamente, pedaços de uma triste realidade profissional, embora a custa de um hercúleo esforço e enfrentando Collors e lagartos, quer dizer, cobras e lagartos.

 

(Publicado como: Editorial. Informativo ABDF, Brasília, v.2, n.10, p.2, mar./abr. 1990.)

(Publicado originalmente em: ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São Paulo: Polis, 1997. p.114-115.)

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

   196 Leituras


author image
OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.