AO PÉ DA ESTANTE


AO PÉ DA ESTANTE... COM AS MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE UMA IMPERATRIZ


"O pior de estar morta não é ser esquecida. É esquecer."

Com esta frase emblemática, a primeira do livro, o escritor Ivanir Calado mergulha na História do Brasil, e surge com esta jóia rara: Imperatriz no fim do mundo - memórias dúbias de Amélia de Leuchtemberg.

Nosso autor nasceu na cidade de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, em 1953. A primorosa edição da Ediouro, de 2001, farta e belamente ilustrada, trazida à luz dez anos depois do lançamento do livro, nos conta que até aquele ano, o autor escrevera mais um romance - A mãe do sonho - e cerca de vinte livros para crianças e adolescentes. Calado até hoje se dedica a literatura infanto-juvenil, tradução, e direção teatral.

Pode-se imaginar que, ao tentar criar Imperatriz no fim do mundo, Calado deva ter-se perguntado: Quem foi a Imperatriz Amélia? Como trazê-la de volta? Como reapresentá-la aos brasileiros, ainda que em forma de romance?

E a escolha, como já anuncia a frase que abre esta resenha, foi tirá-la dos confins de sua morte, revivê-la para si mesma, de onde a própria Amélia, em uma impossível autobiografia póstuma, pudesse nos contar toda a sua vida, desde sempre marcada pela perda de alguém precioso, muito amado. E, assim, no esforço supremo e mesmo desesperado de relembrar-se, ainda que morta, Amélia como que de fato renasce, desafiando e, pode-se dizer que quase vencendo, sua maior perseguidora - a Morte.

No entanto, não pense o leitor que se trata de uma obra lúgubre ou pesada, ao contrário! Amélia de Leuchtemberg foi a segunda esposa de nosso primeiro Imperador Pedro. Isto, nossos livros de História nos contam, muito rapidamente, pois foi de fato breve o tempo que Amélia viveu no Brasil, o "fim do mundo" de que fala o subtítulo. Apenas dois anos. Os últimos que D. Pedro I passou entre nós.

Calado os revive e nos traz a personalidade e o caráter íntegros da Imperatriz Amélia, enriquecendo-nos com informações bem enredadas à ficção. Temos, de forma sempre envolvente, ao longo de toda a narrativa, não só momentos de dor e ansiedade, mas também de paixão, ternura e carinho, além de alguma ironia e cômica bizarrice. Graças a exaustiva pesquisa, todo um período histórico, europeu e brasileiro, nos é contado neste romance.

Como inevitável complemento, que dá verossimilhança a esta ficção histórica, vale contar que em 2013 foram exumados no Brasil, para pesquisas histórico-científicas, os corpos de D. Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia. Os três jaziam em São Paulo na cripta do Ipiranga. Embora os restos mortais de Dona Amélia, trazidos para São Paulo em 1982, fossem os únicos descritos como preservados, os cientistas nunca imaginariam que se tratava não de uma simples preservação e sim de uma mumificação, absoluta e impressionantemente conservada. Nas palavras da arqueóloga Valdirene Ambiel, responsável pelas pesquisas:

"É uma das múmias em melhor estado de conservação já encontradas no País. Agora, precisamos pesquisar para entender exatamente por que ela ficou assim e, mais importante ainda, compreender melhor quem foi essa mulher, uma imperatriz esquecida na História do Brasil".

Inevitável seria também propor à arqueóloga Valdirene Ambiel que descobrisse Amélia de Leuchtemberg, e, no deleite da leitura de Imperatriz no fim do mundo, compreender enfim seu afã em desafiar a Morte.


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SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.