MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

ESCOLA SEM PARTIDO. FALTA INFORMAÇÃO?

Na semana passada eu estava quase atravessando a Av. Sampaio Vidal, perto da Prefeitura de Marília, quando fui abordado por um repórter e um cinegrafista, ambos da TV Câmara de Marília. Pediram uma rápida entrevista. Qual o assunto, perguntei. Escola sem partido, o repórter respondeu. 

Aceitei e ele, repórter, me perguntou nome e profissão. Ao saber que eu era professor, quis saber se de curso universitário e, a partir do meu sim, indagou se da UNIVEM ou da UNIMAR. Vale explicar que são essas as duas maiores universidades particulares da cidade; além delas há outras menores. O repórter não se lembrou da UNESP, uma universidade pública e bem conhecida no âmbito acadêmico, embora não faça maciça propaganda nos meios de comunicação e em outros espaços, como as outras universidades. Em qualquer pesquisa com os moradores da cidade, é certo que a UNESP não estará na lembrança da maioria dos entrevistados.

Depois do preparo da câmera, o repórter começou perguntando se eu concordava com a ideia de Escola sem Partido. Claro que não, respondi. Isso além de ser um absurdo, também se constitui em uma posição até mesmo partidária. Disse ele, então, que há um entendimento muito disseminado, de que o professor deve incentivar o debate, mas sem se posicionar. Disse também que várias das falas dos respondentes, obtidas por ele, acompanhavam esse entendimento. 

A partir disso, perguntou ele se eu mantinha minha posição. O entendimento citado por ele, eu respondi, apenas veicula a ideia de que é possível uma posição neutra do professor. Essa posição não existe. O professor deve buscar uma neutralidade, mas sabendo que ela é inalcançável. Isto não significa que o professor deve “fazer cabeças”, mas que deve ter consciência de que ele, professor, possui posições, concepções, ideias, segue correntes de pensamentos (sejam políticos, econômicos, culturais, educacionais etc.) e, mesmo sem querer, mostra suas simpatias por elas. Buscar uma imparcialidade (apesar de saber que não vai alcança-la) não é ser imparcial.

Terminada a entrevista, o repórter agradeceu e me confidenciou que a maioria das pessoas abordadas se dispuseram a participar, mas não sabiam nada sobre Escola sem Partido. Foi preciso que ele, repórter, fizesse uma breve explicação sobre o assunto para que as pessoas pudessem, depois, com aquele mínimo de informação, responder as perguntas.

Acho que em debates sobre assuntos como esse, falta informação. As opiniões são apresentadas com base em informações veiculadas em poucos segundos pelas mídias televisivas ou radiofônicas; em curtos textos na mídia impressa ou eletrônica e virtual. Outras pessoas constroem o que pensam sobre determinados assuntos a partir de conversas com parentes, com colegas ou entreouvidas em filas de banco, nos transportes coletivos, nas salas de espera de consultórios, etc. 

Os profissionais da informação têm uma grande responsabilidade em relação a isso. Há alguns anos escrevi um artigo chamado “A AIDS e o bibliotecário” em que afirmava que nós, bibliotecários, tínhamos e temos que nos preocuparmos com as ações que podem ser desenvolvidas sobre essa temática. A AIDS é uma doença que requer um forte trabalho de prevenção. As pessoas devem ser informadas sobre as formas de contaminação, as maneiras e atitudes que podem prevenir o contágio etc. O texto embora o título fosse “A AIDS e o bibliotecário” não contava histórias de bibliotecários aidéticos ou de locais nas bibliotecas em que o contágio poderia ser maior. Partindo da ideia de que a AIDS é uma doença que depende da informação para seu combate e, nós bibliotecários, trabalharmos diretamente com a informação, o texto perguntava o que estávamos fazendo para atuar nessa prevenção. 

O trabalho com a informação não está restrito a atender demandas, mas também em criar demandas, em interferirmos em tudo o que ocorre na sociedade e que, de uma ou outra maneira, vincula-se à informação.

Sendo assim, a pergunta é: o que os bibliotecários e as bibliotecas estão fazendo para esclarecer seu público sobre as “fake news”, sobre a pós-verdade, sobre o que se esconde atrás de concepções e ideias veiculadas pelas mídias comerciais? Esses temas não fazem parte de nossos fazeres, estão além do que entendemos ser nossas responsabilidades?


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.