BIBLIOTECAS ACADÊMICAS


TPM: NÃO AQUELA, MAS OUTRA - FAZ PARTE DA ROTINA DAS BIBLIOTECAS ACADÊMICAS

A conhecida TPM (Tensão Pré-Menstrual), que faz parte do calendário de tantas mulheres e já de algum tempo melhor compreendida pelos "humanóides masculinos", está ganhando uma companheira, uma espécie de prima distante. A nova TPM só atinge profissionais da área acadêmica e sem distinção de sexo. Atinge também os homens, pasmem! Como o fenômeno é bastante amplo nos meios acadêmicos, vou ater-me à sua análise no ambiente das bibliotecas.

Diferentemente da Tensão Pré-menstrual, a "nossa" TPM é desencadeada por um processo completamente externo ao nosso corpo. Os estudiosos do problema referem-se a ela como uma patologia de manifestação recente, contemporânea, portanto, ainda não foi objeto de estudos completos, exaustivos.

Apesar do grupo de estudos da "nova" TPM estar trabalhando arduamente no mapeamento de suas origens, o "paciente zero" ainda não foi identificado. O foco dos estudos para identificação do "paciente zero" está concentrado em três grupos: dirigentes e mantenedores de IES, coordenadores de curso e profissionais de bibliotecas acadêmicas. Até o momento, a probabilidade maior é de encontrarmos o "paciente zero" entre o segundo grupo, coordenadores de curso. Vamos esperar os resultados da pesquisa.

Historicamente, os especialistas identificaram o ano de 1996 como o ano em que as primeiras manifestações da nova TPM ocorreram. Conforme já descrito, o agente desencadeador da nova TPM é externo, não tem nada a ver com processos biológicos, químicos, hormonais. Rastreando as origens do processo, os especialistas descobriram que a "chave" desencadeadora da TPM tem origem na região centro-oeste do Brasil, no Planalto Central.

No ambiente das bibliotecas acadêmicas, a nova TPM manifesta-se primeiramente através das bibliotecárias-chefe, diretoras e profissionais investidos em cargos de chefia. A primeira reação adversa provocada é uma alteração súbita de humor, seguida de uma profusão de ligações telefônicas para as demais bibliotecas da IES, colegas de outras IES e vários setores da organização, entre eles coordenadores de curso, dirigentes, áreas administrativas, compras, etc...

Após o primeiro momento, inicia-se um processo de crescente expectativa, aumento de ansiedade e descarga hormonal que ativa o senso de urgência para diversas tarefas que devem ser cumpridas antes de um desenlace esperado.

Como várias tarefas a serem cumpridas dependem de setores diversos da IES, o profissional atingido pela nova TPM inicia uma peregrinação tentando sensibilizá-los para os seus problemas e evidenciar a urgência na solução de questões pendentes. Desesperado, o atingido pela nova TPM caminha meio atordoado pela IES à procura de solução para os seus problemas e nem sempre encontra solução.

Quando o tempo passa e as soluções não aparecem ou providências não se efetivam, as noites de sono começam a ficar cada vez mais raras, evidenciando outro sintoma forte da nova TPM.

O acúmulo de problemas não resolvidos, noites mal dormidas, peregrinações improdutivas e prazos correndo, fazem com que uma outra manisfestação da nova TPM surja: irritação e falta de paciência com os familiares mais próximos. Apesar dessa manifestação ser similar à TPM que conhecemos, na nova TPM ela também atinge os homens. Em relatos de estudos desenvolvidos por especialistas e estudiosos da nova TPM, há descrição de brigas entre casais, entre pais e filhos e até entre amigos(as). Nesse momento, apesar de ser uma patologia relativamente nova, as pessoas mais próximas aos atingidos pela síndrome, acabam, após algum tempo de convivência, desenvolvendo a habilidade de identificar as manifestações da patologia nos atingidos e, aos poucos, desenvolvem uma maior tolerância aos seus efeitos e manifestações. É a lei da sobrevivência, da adaptação.

Interessante notar que os efeitos e manifestações da nova TPM tendem a ser mais fortes nos profissionais com menor experiência na área acadêmica; seu efeito é inversamente proporcional ao tempo de trabalho que o profissional tem na área. Apesar de ser um parâmetro bastante aceito, há casos de profissionais que sofrem os efeitos radicais da nova TPM, sem que haja o esperado abrandamento do tempo.

Outro aspecto notado pelos especialistas é a correlação entre o nível de organização da IES e os efeitos da nova TPM em seus membros. Quanto maior a desorganização da IES maior os efeitos da nova TPM em seus membros.

Estamos falando de uma manifestação que se chama "Tensão Pré-MEC" ou uma síndrome que desenvolve-se nos funcionários de IES prestes a receber as visitas das Comissões de Avaliação do Ministério da Educação.

O fenômeno atinge diversos setores das IES e manifesta-se de forma especial nos diretores/ coordenadores de curso. Os bibliotecários têm uma relação de interdependência com os diretores de curso para que a biblioteca esteja preparada para uma avaliação pelas Comissões de Especialistas do MEC. Por vezes, a relação entre a biblioteca acadêmica e a direção do curso é pobre; esse fator irá influenciar na qualidade do acervo destinado ao curso, nos serviços oferecidos ao corpo docente e discente do curso. É fato a mobilização dos recursos da biblioteca para aqueles usuários mais ativos, presentes, exigentes. Aos dirigentes de curso ausentes da biblioteca, a oferta de recursos acaba sendo menor, invariavelmente.

A TPM que atinge os administradores de curso é de natureza diferenciada. A preocupação maior dos dirigentes sempre acaba sendo focada na presença de itens bibliográficos nas estantes da biblioteca. Como sempre há algum item ausente e que acaba sendo adquirido em função da visita programada, a manifestação de TPM dos dirigentes de curso manifesta-se através de posições como:

- Precisamos "sujar" os livros novos para simular a utilização das publicações pelos alunos, eles não podem parecer novos, sem uso!

- Estes livros não podem ficar nesta classificação, estão muito deslocados dos outros itens do curso!

São manifestações que estão entrando para o "folclore" dos preparativos para avaliações promovidas pelo MEC nas IES. Existem muitas outras, muitas histórias e estórias; no momento, ficamos por aqui, com TPM - Tensão Pré-MEC.

Obs: Há quem diga que outra variante da nova TPM é a nova TPM2 ou a Tensão Pós-MEC, a ressaca.

Aos colegas profissionais das bibliotecas acadêmicas do Brasil, bibliotecários, auxiliares de biblioteca, assistentes, técnicos em biblioteconomia, "informáticos", serventes, auxiliares de limpeza, técnicos em manutenção, entre tantos que contribuem para essa mega-operação anual, desejamos muita saúde, temperança e persistência. Afinal, são mais de 3,5 milhões de estudantes de ensino superior no país, parte usuários potenciais, parte usuários efetivos. Não é pouco. Grandes desafios nos esperam. Não podemos modificar o mundo mas podemos dar uma pequena colaboração e, juntos, podemos fazer muito mais.

"São inúmeras vezes que precisamos fazer as coisas por nós mesmos, porém isso não quer dizer que devemos fazê-las sozinhos."
Ganchen Ripomche, Lama tibetano.

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de novas e frutíferas realizações.


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ARTUR DA SILVA MOREIRA

Bibliotecário, fundou e presidiu o Grupo de Bibliotecas de Instituições Particulares de Ensino Superior – GBIPES (1997 – 2004) e a Comissão Brasileira de Bibliotecas das Instituições Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – CBBI (2011 – 2014). Formado pela FESP-SP, turma de 1987. Coordena o Grupo de Trabalho de Cadastro de Bibliotecas e Profissionais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e atua como moderador e administrador da Lista de Discussão da CBBI, atualmente com 672 membros.