ONLINE/OFFLINE


AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS DAS PELÍCULAS DE INFORMAÇÃO E A BIBLIOTECA

As inovações tecnológicas, cada vez mais data o tempo de vida útil da tecnologia dominante anterior. Artigo publicado na mídia impressa (Folha de São Paulo, 09/01/04, p.12), destaca a expectativa de sobrevida de cinco anos do videocassete, no mercado brasileiro. A sentença determinada pela indústria do setor eletroeletrônico baseia-se na crescente popularização do DVD (Digital Vídeo Disc), algo em torno de 1,3 milhões de aparelhos vendidos em 2003, conquanto o videocassete situa-se com cerca de 22 milhões de aparelhos instalados e tendo previsão de vendas, em 2004, de 600mil unidades.

Uma característica deste processo de mudança tecnológica é o fato dos modelos mais modernos de vídeo terem o mesmo preço que os modelos mais simples de DVD, algo em torno de R$ 400. Fica evidente que a competição acirrada entre os fornecedores e a evolução tecnológica dos produtos fazem com que os preços diminuam significativamente, facilitando o acesso às pessoas e às organizações.

A sobrevida do videocassete pode decorrer, ainda, da vantagem de gravar programas produzidos pelos canais de TV. Recurso que embora existente em DVD com maior performance de qualidade (som e imagem), ainda é limitada aos modelos mais caros e de acesso restrito a determinadas camadas da população e organizações.

No caso das bibliotecas, a tendência deverá ser a manutenção por um certo tempo dos dois tipos de equipamento conectados ao aparelho de TV para atender a comunidade usuária. Outra questão é a necessidade dos bibliotecários conhecerem os processos de migração das informações audiovisuais armazenadas em fita para o formato digital, bem como, realizarem uma atualização sobre os procedimentos de representação dos conteúdos em novos formatos. Além disto, há a questão da durabilidade, informações em videocassete sofrem grande desgaste pelo uso, enquanto a digital pode ser utilizada indefinidamente.

Um outro fato, determinante da mudança tecnológica, recentemente também explorada pela imprensa, refere-se ao crescimento da foto digital e os reflexos econômicos desse crescimento. É o caso da empresa Eastman Kodak, maior fabricante mundial de filmes e sinônimo de fotografia, que anunciou um profundo processo de reestruturação para se adaptar aos novos tempos dominados pela tecnologia digital.

Nos próximos três anos a empresa irá demitir milhares de funcionários (Folha de São Paulo, 23/01/04, p.B2). O caso é ilustrativo. No final do século 19, a empresa revolucionou o mercado fotográfico da época ao introduzir inovação tecnológica que massificou o processo de fotografar. Em 1888, lançou a câmera Kodak com rolo de filme, tornando mais fácil a operação de fotografar e dispensando o uso de tripés, chapas e produtos químicos adotados até então. Um aspecto importante de toda tecnologia para ser amplamente aceita é a sua facilidade de uso e operação. Não se deve esquecer, porém, que há suas desvantagens no aparato digital como: voracidade por pilhas e por memória, o preço da cópia em papel (especial) ser mais caro do que a cópia em processo químico convencional.

Atualmente, a empresa pressentindo o perigo de extinção, devido à revolução digital moveu-se para se adaptar. O comércio de filmes fotográficos paulatinamente diminui na medida que aumentam a adoção das câmeras digitais. Pelo mundo já existem espalhadas perto de 70 milhões desses novos aparelhos. Só no ano de 2002 foram vendidos 24 milhões de unidades. Nos Estados Unidos pelo menos 20% dos lares já têm uma câmera digital e 19% das famílias já usaram serviço online de fotos, segundo dados do InfoTrends (www.infotrends-rgi.com). No Brasil, o volume ainda é pequeno, mas já conta com uma base crescente na medida que os preços diminuam. Convém salientar algumas vantagens desses aparatos, diferentemente dos modelos tradicionais, entre outras possibilidades permitem exibição em telas de computadores e/ou TV, distribuição via Internet (home page e e-mail) e impressão em impressoras domésticas.

Em realidade, a tecnologia digital não alterou o ato de possuir uma câmera e usá-la para registrar momentos significativos e compartilha-los com parentes e amigos. Alterou sim a forma pela qual a atividade é exercida. A questão que atinge a Kodak ou qualquer outra instituição afetada pela onda tecnológica é o paradigma. No caso, a empresa sempre esteve associada com o processo de tirar fotos (o filme), em lugar do ato de bater a foto.

Com o crescimento da tecnologia digital, as bibliotecas também são afetadas pela necessidade de possuírem tais aparelhos visando documentar suas memórias funcionais e de sua comunidade, bem como, aplicar em alguma nova atividade de informação ou até mesmo reproduzindo um outro documento como quadro ou escultura, por exemplo.

Ademais, podemos imaginar o volume de documentos fotográficos digitais a serem organizados devido à facilidade de produzi-los. Mesmo a tipologia de formatos digitais armazenados nos repositórios eletrônicos administrados pelas bibliotecas para serem recuperados e acessados digitalmente, gera uma nova dinâmica no trabalho biblioteconômico.

O próprio processo de representação descritiva dos materiais passa a exigir dos bibliotecários, domínios de novas linguagens e formatos para manipulação de tais arquivos digitais (metadados, html, xml etc.), ou mesmo aplicação de métodos de representação tradicionais adaptados às inovações (AACR2r e MARC).

Convém observar que a revolução industrial mudou quase tudo à medida que as economias agrárias e artesanais, intocadas por milhares de anos se transformaram em economias acionadas pela indústria e por máquinas. Com a revolução digital, ao contrário, houve um incremento aos produtos que já existiam desde a era industrial. Foram potencializados, tendo suas possibilidades ampliadas para novas possibilidades de uso e de difusão.

Recordo-me do aprendizado da datilografia para operação de máquinas manuais e elétricas. Conhecimento necessário a todo jovem que fosse ingressar no mercado de trabalho (empresas e escritórios ou mesmo como auxiliar em biblioteca).

Acredito que muitos bibliotecários, formados há algum tempo, irão se lembrar da prática de catalogação exercida na elaboração de fichas bibliográficas utilizando máquina de datilografia e seus periféricos (corretor, estilete e borracha). As máquinas de datilografia foram paulatinamente substituídas pelos teclados e sistemas de computador. Em muitas bibliotecas esse antigo equipamento é apenas uma vaga lembrança.

A atividade de produzir ficha bibliográfica foi substituída pela digitação de dados utilizando editor de texto ou banco de dados, ampliando as possibilidades do catálogo bibliográfico.

Bibliotecários da nova geração, certamente não sabem datilografia. Outros nem precisam mais saber como colocar um filme na máquina fotográfica, evitando preocupar-se se o filme foi bem colocado, se queimou, onde revelar e qualidade da foto tirada.

A necessidade agora é saber operar um bom software, seja para construir um catálogo bibliográfico eletrônico ou para retocar a imagem ou editar um vídeo digital.

Aos exemplos de mudanças até aqui citados, podem ser acrescidos muitos outros como o disco de vinil e as enciclopédias de vários volumes, hoje armazenados no suporte CD-ROM (Compact Disc - Read Only Memory). Atualmente, já é raro encontrar tais suportes em bibliotecas. Poucas mantém vitrolas ou toca-discos à disposição dos usuários para ouvir um disco de 33 ou 75 rpm (rotações por minuto).

Em síntese, as inovações tecnológicas que modificam os suportes de informação sempre promoveram mudanças nas atividades bibliotecárias, como em toda atividade econômica. São novos conhecimentos e métodos a serem absorvidos não apenas para uso, mas organização, tratamento, manutenção e procedimentos de aplicação.

Até mesmo o prosaico processo de se barbear foi incrementado pela inovação tecnológica. A própria Gilete (sinônimo de lamina de barbear), desenvolveu novo aparelho com três laminas que se encaixam na pele para cortar o pêlo em três fases, uma mais rente que a outra, também emite mínimas pulsações elétricas com o objetivo de eriçar o pêlo e assim facilitar o corte pela raiz (Veja, edição 1838, p.68, 23/01/2004).

Agora, nós bibliotecários poderemos nos apresentar aos usuários com uma melhor feição. Um rosto perfeitamente barbeado, sem aquela cara de eremita amanhecido. Certamente, melhorando a imagem. Como popularmente se diz: "aparecendo bonito na fita".


   612 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
RELATO DE VIAGEM SOBRE AS BIBLIOTECAS EM TERRIS BRASILIS
Fevereiro/2004

Ítem Anterior

author image
SOFTWARE LIVRE: ALFORRIA PARA AS BIBLIOTECAS
Novembro/2003



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.