CAMINHOS DE UM DOCUMENTO INÉDITO PARA A HISTÓRIA DO BRASIL
Costumo dizer que o
conhecimento contido em muitos documentos raros ainda está por ser descoberto.
Há informação ainda não lida ou estudada, páginas e páginas de livros e
manuscritos dos séculos XVI, XVII, XVIII não abertas desde o século XIX, por
exemplo.
Alguns dizem que um livro
fechado, cujas informações não são utilizadas para o progresso e o
desenvolvimento de outros estudos, não cumpre seu papel. É um livro sem vida,
esquecido em alguma prateleira.
Em geral, vários são os
fatores que podem dificultar o acesso a um livro comum. O acesso a um impresso
ou manuscrito raro torna-se mesmo mais difícil, já que este, por natureza,
requer manuseio diferenciado, cuidados maiores com preservação e segurança e
pode bem ser exemplar único
O período holandês da
História do Brasil gerou vasta documentação nessa língua. Muitos desses
documentos mantiveram-se longe dos olhos de pesquisadores brasileiros desde
então devido ao desconhecimento do holandês.
É o caso do manuscrito
(agora não mais inédito) organizado por João de Laet “Descrição das Costas do
Brasil”, da Kapa Editorial, editora também rara que publica verdadeiras pérolas
(como a obra de
O livro saiu do prelo em
março desse 2007. Tem 320 páginas encadernadas com capa dura, ilustrações e
mesmo alguns mapas publicados pelo primeira vez. O texto original em holandês em
páginas pares tem tradução correspondente nas ímpares. Possui, igualmente, um
estudo sobre a Cartografia holandesa do Brasil pelo Almirante Max Justo Guedes.
Nas palavras dos editores, “a reunião desses roteiros de viagem de diversos
viajantes nos mostram um Brasil que nós, brasileiros, ainda desconhecemos. Nessa
fascinante descrição da costa do Nordeste brasileiro, encontramos tanto
informações sobre como era a região na época quanto sobre a forma como a
Companhia das Índias Ocidentais atuou na escolha do local para a sua empreitada
em terras brasileiras.”
Segundo consta no volume
leiloado no sebo de Amsterdam, cujo catálogo de 1867 anunciou a venda desses
documentos, eram várias as descrições a partir de diários inéditos, do Nordeste
mas também do Rio de Janeiro a Buenos Aires. Há até uma descrição anônima sobre
o Rio da Prata.
O volume foi adquirido por
James Carson Brevoort, de New York, e leiloado novamente em 1890, então
adquirido pela John Carter Brown Library (JCB), de Providence, que possui uma
bela e conhecida internacionalmente coleção sobre o Brasil
colonial.
B. N. Teensam é o
responsável pela transcrição, tradução e anotações dessas descrições realizadas
entre 1624 e 1637.
Em 1977, Günter Achilder,
catedrático de Cartografia Histórica da Universidade de Utrecht, na Holanda,
encontrou no livro “Mapping for Money. Maps, plans, and topographic paintings and their
role in Dutch overseas expansion during the 16th and 17th
centuries” (Amsterdam,
1998), de C. J. Zandvliet, informação sobre o manuscrito de De Laet.
Em 2003,
Teensam recebeu em comodato do professor Günter uma fotocópia do manuscrito da
JCB e, mais tarde, um cd-rom dessa
Encadernado em pergaminho
com caligrafia decorativa gótica na capa com a palavra Brasil, possui
ainda etiqueta de couro do século XIX no dorso: M. S.: Noten van Brasil De
Laet.
De águas brasileiras para
Haarlem, na Holanda, depois para a ex-Nova Amsterdam, hoje New York, daí para
Providence, no estado de Rhode Island, as informações agora se encontram
disponíveis (não apenas) no Brasil graças à tradução que, nas palavras de Norman
Fiering, Diretor Emérito da JCB, transcendem as barreiras mais implacáveis de
qualquer fronteira política.
Roteiro de um
Até a próxima!